A manifestação ocorre após a imprensa noticiar que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teria afirmado, em delação premiada à Polícia Federal (PF), que o ex-chefe do Executivo federal se reuniu com a cúpula das Forças Armadas e ministros no ano passado, com o tema intervenção militar em pauta. A intenção seria impedir a troca de governo.
Sem citar diretamente Cid, os advogados de Bolsonaro defenderam ainda que pretendem adotar “medidas judiciais cabíveis contra toda e qualquer manifestação caluniosa, que porventura extrapolem [sic] o conteúdo de uma colaboração que corre em segredo de Justiça, e que a defesa sequer ainda teve acesso”.
A delação de Mauro Cid
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid ficou preso por quatro meses, sob acusação de ter liderado esquema de adulteração de cartões de vacina. Ele foi solto neste mês e, diante de uma situação jurídica complicada, resolveu fechar acordo de delação premiada com a Polícia Federal, entre o fim de agosto e o início de setembro.
Cid teria delatado que Bolsonaro, após sua derrota, fez uma reunião com comandantes militares, no fim de 2022, para debater a viabilidade de um golpe de Estado.
A reunião que o então presidente teve com a cúpula das Forças Armadas e seus ministros mais próximos não resultou em uma proposta de golpe, porque a ideia de intervenção militar não foi aceita por unanimidade.
Cid ainda teria citado à PF nomes como o do almirante de esquadra da Marinha Almir Garnier. O comandante da Força teria afirmado ao ex-presidente que suas tropas estariam prontas para responder à convocação de Bolsonaro. O Comando do Exército, no entanto, teria ficado contra a ideia de golpe e contra o consequente impedimento da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na delação, Cid ressaltou que participou da reunião com o então assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, que teria lhe repassado uma suposta minuta de golpe (que previa convocação de novas eleições e prisão de adversários políticos).
Reunião com militares
A reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a cúpulas das Forças Armadas delatada por Mauro Cid já vinha sendo citada por aliados e apoiadores do ex-mandatário.
Informações sobre o encontro estão na delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e foram confirmadas pelo Metrópoles.
Em dezembro de 2022, o influenciador e empresário Paulo Generoso, sócio de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), escreveu em suas redes sociais sobre o plano de golpe com a suposta participação do ex-presidente.
Na ocasião, o empresário, que apoiou os atos de janeiro, afirmou que houve uma reunião com o alto comando das Forças Armadas.
E que Bolsonaro “pediu apoio para barrar o avanço do Judiciário sobre os outros poderes e que a posse de Lula fosse adiada por seis meses até que a equipe de juristas fizesse uma investigação sobre favorecimento a Lula”.
Segundo Generoso, o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, foi contra o plano golpista.
“Freire Gomes foi contra e disse que não valia a pena ter 20 anos de problemas por 20 dias de glória e falou que não apoiaria ou atenderia o chamado do presidente pra moderar a situação mesmo após Bolsonaro apresentar vários indícios de parcialidade em favor de Lula pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e STF [Supremo Tribunal Federal]”, contou.
Reunião na Defesa
O ministro da Defesa, José Múcio, avaliou, em entrevista nesta quinta-feira (21/9), que as Forças Armadas, enquanto instituição, garantiram “a manutenção da democracia” e que avanços golpistas após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições foram “atitudes isoladas de componentes das Forças”.
O ministro do governo Lula lamentou o “manto de suspeição” que recaiu sobre a instituição após Mauro Cid delatar reunião de comandantes militares com o ex-presidente para falar de golpe.
“Não mexe conosco [diretamente], porque se trata de pessoas que pertenceram, que estão na reserva, os citados, mas nós desejamos muito que tudo seja esclarecido. Evidentemente esse ambiente que a gente vive nos constrange e essa aura de suspeição coletiva nos incomoda”, disse Múcio, ao chegar a seu ministério nesta quinta.
Ele disse que pretende conversar com os atuais comandantes sobre a revelação, mas repetiu algumas vezes que o problema diz respeito a militares que trabalharam no governo Bolsonaro. “Essas coisas que saíram hoje são em relação ao governo passado, comandantes passados, não mexe com ninguém que está na ativa”, seguiu ele.
“Ficamos sempre torcendo que essas coisas tenham fim, porque você pode imaginar o que é trabalhar com um manto de suspeição, é muito ruim. quem não tem nada a ver com isso se sente incomodado. Mas tudo vai chegar a um bom fim. Tenho certeza cristalina de que o golpe não interessou, em momento nenhum, às Forças Armadas. São atitudes isoladas de componentes das Forças, mas nós devemos ao Exército, à Marinha e à Aeronáutica a manutenção da nossa democracia”, destacou Múcio.