Bolsonaro movimentou R$ 800 mil em transferência para os EUA, diz Coaf
Ex-presidente Bolsonaro transferiu montante na véspera da viagem, em dezembro de 2022. Assessor criticou “vazamentos de quebras de sigilo”
atualizado
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) movimentou R$ 800 mil em uma transferência para os Estados Unidos no fim de 2022, na ocasião da viagem dele para o país, às vésperas do fim do mandato e da posse presidencial. As informações constam em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, encaminhado ao Congresso Nacional.
Segundo o relatório, divulgado pelo jornal O Globo, o repasse é apontado como o principal débito de Bolsonaro em uma conta mantida por ele em um banco público. A data da transação é de 27 de dezembro de 2022. Três dias depois, o então presidente embarcou para Orlando, onde ficou hospedado na casa do ex-lutador de MMA José Aldo.
A viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, segundo dados do Portal da Transparência, representou despesa média de R$ 7,1 mil por dia com os assessores. A verba é destinada a custear os gastos de hospedagem e alimentação dos servidores.
O valor supera o montante que outros ex-presidentes costumam gastar por ano com esse tipo de despesa e chega perto de quanto alguns mandatários custam anualmente aos cofres públicos.
Questionado pelo Metrópoles, o ex-secretário de Comunicação Social Fabio Wajngarten e advogado de Bolsonaro afirmou que o assunto é “antigo”. No Twitter, ele afirmou que “são inadmissíveis os vazamentos de quebras de sigilos financeiros de investigados no inquérito de 8/1 e ou de qualquer outra investigação sigilosa”.
No mesmo post, ele aponta que é “necessário identificar quem está entrando na tal sala cofre para que as medidas judiciais sejam tomadas. Quem vazou será criminalizado”.
Em janeiro, reportagem do colunista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, revelou suspeitas de que seu principal ajudante de ordens no Palácio do Planalto, o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, operava uma espécie de caixa 2 com recursos em espécie que eram usados, inclusive, para pagar contas pessoais da primeira-dama Michelle Bolsonaro e de familiares dela.
A reportagem mostrou que os investigadores que atuam com Moraes mapearam, a partir de quebras de sigilo autorizadas pelo ministro, saques e pagamentos feitos por Cid e homens de sua equipe na agência do Banco do Brasil localizada dentro do palácio presidencial.
Em outra reportagem, da coluna de Paulo Cappelli, o Metrópoles revelou que a conta no BB foi encerrada por questão de compliance. Em nota, a empresa informou à coluna que possui “protocolos rígidos de acompanhamento das movimentações financeiras de seus clientes”. E disse “respeitar integralmente a legislação e a regulamentação bancária em todos os países em que atua”.
Remessas internacionais de Mauro Cid
Outro relatório do Coaf enviado à CPMI do 8 de Janeiro apontou que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, enviou remessas que somam R$ 367,3 mil aos Estados Unidos em apenas um dia.
Os valores, de acordo com o documento, teriam sido enviados pelo militar no dia 12 de janeiro de 2023, quando tanto Mauro Cid quanto o ex-presidente da República estavam em solo americano.
O montante, segundo o relatório, faz parte dos R$ 3,2 milhões em movimentações bancárias feitas por Cid entre 26 de junho de 2022 e 25 de janeiro de 2023, consideradas “atípicas” pelo Coaf.
Em conversas reservadas, familiares do militar informaram que os R$ 367,3 mil seriam oriundos das economias dele e custeariam uma viagem em comemoração aos 15 anos de uma das filhas.
Transações via Pix a Bolsonaro
Outro relatório do órgão aponta que Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões via transação por Pix entre 1º de janeiro e 4 de julho. Em junho deste ano, bolsonaristas se juntaram em uma campanha para arrecadar dinheiro para que Bolsonaro quitasse uma dívida ativa com o estado de São Paulo no valor de R$ 1.062.416,65 pelo não uso de máscara durante a pandemia de Covid-19.
Segundo o Coaf, só entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho o ex-presidente da República recebeu mais de 769 mil transações via Pix, que totalizaram R$ 17.196.005,80. Durante o mesmo período, Bolsonaro movimentou um total de R$ 18.498.532.