Bolsonaro frustra pressão olavista por demissões e amplia prestígio militar
Militantes da chamada ala ideológica protestam contra ministros, como Luiz Ramos, da Secretaria de Governo, mas não são ouvidos
atualizado
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A pressão de parte dos aliados do presidente Jair Bolsonaro pela redução do poder militar no governo e pela demissão de ministros, como o recém-transferido para a reserva general Luiz Ramos, da Secretaria-Geral, é imensa, mas está sendo inteiramente ignorada. Um dos braços parlamentares dessa ala mais ideológica, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), não poderia deixar mais clara essa pressão: “Ramos será o responsável por tornar Bolsonaro refém do Centrão. Ou muda Ramos ou afunda o governo”, decretou ele, nessa segunda-feira (20/7), em postagem no Twitter.
E foi por posições como essa (e outras) que Otoni foi trocado na vice-liderança do governo na Câmara justamente por um representante do Centrão, o deputado Maurício Dziedricki (PTB-RS), num movimento que mostra bem como esses aliados, quase todos seguidores do guru Olavo de Carvalho, estão cada vez mais isolados.
Enquanto isso, Ramos ocupa posição cada vez mais importante à medida que Bolsonaro atua para ampliar sua base no Congresso. Na noite dessa segunda-feira (20/7), foi o ministro da Secretaria-Geral que representou o Planalto em reunião na sala do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que desatou o impasse em torno do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e abriu caminho para a votação nesta terça (21/7).
O pragmatismo que irrita os olavistas está avançando rapidamente no governo e toma espaços. O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub era o grande representante do grupo e caiu. Agora, resta o chanceler Ernesto Araújo como voz no primeiro escalão.
Outros expoentes do grupo, como o irmão mais novo de Weintraub, Arthur, que trabalha no Palácio do Planalto, estão pressionados e não influenciam Bolsonaro como no passado recente e belicoso.
Esse ostracismo irrita os olavistas, mas suas críticas já não são ouvidas. Quando o próprio Olavo de Carvalho bradou, em 7 de junho, que poderia derrubar “essa merda de governo” se Bolsonaro “continuasse covarde”, a repercussão foi grande.
Desde então, porém, todos os pedidos do guru, como por apoio presidencial à militante Sara Winter quando ela foi presa, foram ignorados.
Na noite dessa segunda-feira (20/7), Olavo voltou a chamar os militares para a briga em postagens. “Por que nenhum desses generais que vivem condenando aquilo que chamam de ‘olavismo’ vem discutir o tal ‘olavismo’ com o Olavo em pessoa?”, questionou. “É simples”, apostou o professor de curso on-line de filosofia: “Cagam-se de medo”, escreveu, em caixa alta, que é uma maneira de gritar pela internet.
Empoderada, a ala militar deve mesmo ignorar as novas provocações, mas, entre os militares, comemora-se que o medo foi para o lado olavista: o medo de perder definitivamente a influência sobre o poder.
Veja exemplos recentes do descontentamento da ala olavista com essa perda de influência: