Bolsonaro e diplomatas: só 3 dos 10 maiores parceiros comerciais do Brasil foram à reunião
Metrópoles entrou em contato com embaixadas dos 10 maiores parceiros comerciais do país. Só EUA, Espanha e Holanda foram representados
atualizado
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Representantes de apenas três dos 10 países que mais importam produtos do Brasil confirmaram que estiveram presentes na reunião com embaixadores convocada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na segunda-feira (18/7).
O chefe do Executivo federal convidou chefes de missão diplomática de dezenas países para um encontro no Palácio da Alvorada. Na ocasião, o mandatário da República voltou a levantar suspeitas sobre o sistema eleitoral brasileiro.
A lista oficial de embaixadores presentes na reunião não foi divulgada pelo Planalto nem pelo Itamaraty. Contudo, levantamento da reportagem nas embaixadas aponta que houve baixa participação dos parceiros comerciais do Brasil mais expressivos.
Dos 10 maiores importadores do país, apenas os Estados Unidos, Holanda e a Espanha confirmaram ter enviado representantes ao encontro com Bolsonaro. Os participantes foram o encarregado de negócios norte-americano, Douglas Koneff, o embaixador espanhol em Brasília, Fernando Garcia Casas, e o conselheiro de negócios da Holanda, Remon Boef.
Os titulares de Singapura (Desmond Ng), da Coreia do Sul (Lim Ki-mo) e do Japão (Teiji Hayashi) não marcaram presença nem enviaram representantes. Chile preferiu não informar, e México não respondeu ao contato até a publicação desta reportagem.
Após a publicação, a Holanda retificou a informação e disse que, apesar de o embaixador, André Driessen, não ter ido ao encontro, o encarregado de negócios, Remon Boef, foi enviado como representante.
A Argentina, por sua vez, alegou não ter recebido um convite, e a embaixada da China disse à reportagem que não poderia divulgar a informação. Interlocutores do Planalto, no entanto, pontuaram que os dois países não foram chamados porque estão sem embaixadores efetivos em Brasília.
O Metrópoles levou em conta os maiores importadores do Brasil em 2021, de acordo com o Ministério da Economia. Veja abaixo a lista de países e a respectiva participação na balança comercial brasileira:
- China: US$ 87.907 bilhões (31,30%)
- Estados Unidos: US$ 31.145 bilhões (11,09%)
- Argentina: US$ 11.878 bilhões (4,23%)
- Países Baixos (Holanda): US$ 9.316 bilhões (3,32%)
- Chile: US$ 7.018 bilhões (2,50%)
- Singapura: US$5.820 bilhões (2,07%)
- Coreia do Sul: US$ 5.670 bilhões (2,02%)
- México: US$ 5.560 bilhões (1,98%)
- Japão: US$ 5.539 bilhões (1,97%)
- Espanha: US$ 5.433 bilhões (1,93%)
A reportagem também apurou que representantes da Índia (Suresh Reddy), França (Brigitte Collet) e Rússia (Alexey Labetskiy) — países que integram a lista de nações que mais exportam para o Brasil – estavam no evento. Embaixadores de Portugal (Luís Faro Ramos), Irlanda (Seán Hoy), Egito (Wael Aboulmagd) e Suíça (Pietro Lazzeri) também compareceram.
Os representantes do Reino Unido e da Alemanha, Melanie Hopkins e Heiko Thoms, respectivamente, estão em férias e, por isso, não foram ao encontro convocado pele mandatário brasileiro.
O discurso de Bolsonaro aos chefes diplomáticos foi visto como um contraponto a uma sessão informativa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizada em 31 de maio. Na ocasião, 68 embaixadores foram convidados pela Justiça Eleitoral para apresentações sobre o sistema eletrônico de votação do Brasil. Ao final do encontro, os diplomatas participaram de uma simulação com as urnas.
Veja a lista de nações que confirmaram presença no evento, disponibilizada pelo TSE:
Embaixadas confirmadas em evento do TSE by Ana Flávia Castro on Scribd
Posicionamento dos embaixadores
A embaixada do Reino Unido divulgou um comunicado, nesta quinta-feira (21/7), em que afirma “acreditar na força da democracia do Brasil, que conta com instituições sólidas e transparentes”.
“Em eleições passadas, o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas se mostraram seguras e passaram a ser reconhecidas internacionalmente por sua celeridade e eficiência”, diz a nota. “Quem for escolhido pela nação brasileira poderá contar com o Governo Britânico para fortalecer as relações bilaterais e a amizade entre os dois povos”.
Presente no encontro, a embaixada dos Estados Unidos também reafirmou, na terça-feira (19/7), a confiança no sistema eleitoral brasileiro e disse que este é “modelo” para o mundo.
“Os Estados Unidos confiam na força das instituições democráticas brasileiras. O país tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores”, diz trecho do comunicado.
Em declaração à imprensa, a embaixada ainda disse estar confiante de que as eleições de outubro deste ano “vão refletir a vontade do eleitorado” e que o atual sistema de urnas eletrônicas “serve como modelo para as nações do hemisfério [Norte] e do mundo”.
O embaixador da Suíça em Brasília, Pietro Lazzeri, também se manifestou. Em seu perfil nas redes sociais, ele afirmou que espera do Brasil um pleito que “celebre a democracia”.
“No ano do Bicentenário do Brasil, desejamos ao povo brasileiro que as próximas eleições sejam mais uma celebração da democracia e das instituições.”
Teor da discussão
Durante o encontro com embaixadores, o presidente Jair Bolsonaro voltou a lançar dúvidas sobre as urnas eletrônicas. Por mais de 45 minutos, o chefe do Executivo federal também criticou o TSE e afirmou que seu governo está empenhado em apresentar uma “saída” para as eleições deste ano.
A reunião com estrangeiros foi realizada no Palácio da Alvorada e contou com a estrutura do governo para ser divulgada. Na ocasião, o titular do Planalto repetiu argumentos já desmentidos por órgãos oficiais e reiterou que as eleições deste ano devem ser “limpas” e “transparentes”.
“Nós queremos, obviamente, estamos lutando para apresentar uma saída para isso tudo. Nós queremos confiança e transparência no sistema eleitoral brasileiro”, declarou. “Nós queremos corrigir falhas. Queremos transparência. Nós queremos democracia de verdade.”
No evento com diplomatas, o presidente também criticou os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Bolsonaro, os três magistrados querem trazer “instabilidade” para o país.
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