Bolsonaro define ideia de gravar Alexandre de Moraes como “coisa de maluco”
Ex-presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira em investigação sobre afirmações de Marcos do Val
atualizado
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Em depoimento prestado à Polícia Federal, nesta quarta-feira (12/7), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou qualquer plano contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em reunião realizada no Palácio da Alvorada, em 8 de dezembro de 2022, com o senador Marcos do Val e o ex-deputado Daniel Silveira. Bolsonaro ainda mostrou conversas de WhatsApp nas quais o senador teria relatado que Silveira estaria articulando uma trama para que Moraes perdesse a função de ministro e comentou: “coisa de maluco”.
Bolsonaro ficou cerca de 2 horas e 30 minutos na sede da Polícia Federal, em Brasília, e respondeu às perguntas dos investigadores. Ele confirmou a reunião citada por Do Val em entrevistas e lives, mas negou ter aventado planos de gravar Moraes ou de ter tratado qualquer iniciativa fora das “quatro linhas da Constituição”.
O ex-presidente disse que somente soube, já em 2023, pela imprensa e pela “live” do senador Marcos do Val, que o senador Marcos do Val havia procurado o ministro Alexandre de Moraes para reportar sobre a realização da reunião com ele. “No encontro com Daniel Silveira e o senador Marcos do Val, no dia 8 de dezembro de 2022, não foi falado sobre equipamentos de escuta ou gravação”, disse Bolsonaro.
Após a reunião, sem saber precisar a data, Bolsonaro afirmou aos investigadores que recebeu uma mensagem de Marcos do Val na qual o senador encaminhou print de mensagem, originariamente enviada ao ministro Alexandre de Moraes.
“Nessa mensagem, o senador Marcos do Val disse a Moraes que o presidente não estaria fazendo nada de errado, mas que Daniel Silveira estaria tentando convencê-lo a prosseguir na execução de algum plano. Por essa razão, Bolsonaro respondeu ‘coisa de maluco'”, uma vez que não havia entendido a mensagem. O trecho consta do depoimento na PF, ao qual o Metrópoles teve acesso, e de declaração que Bolsonaro concedeu em coletiva de imprensa, nesta quarta.
Quarta oitiva
Esta é a quarta oitiva que Bolsonaro comparece à PF apenas em 2023. E o ex-presidente disse que espera mais convocações e criticou: “Fizeram até busca e apreensão em minha casa. É um esculacho”, disse em coletiva de imprensa.
O processo no qual Bolsonaro foi intimado a prestar esclarecimentos à PF apura suposto plano para gravar clandestinamente Moraes, em tentativa de reverter a derrota do ex-presidente nas últimas eleições. Na condição de testemunha, Bolsonaro respondeu a todas perguntas sobre as declarações de Marcos do Val.
O ex-presidente também destacou que Do Val quis demonstrar que tinha algum grau de amizade com Moraes. “Tudo começou por aí. Houve o contato de Daniel Silveira, e ele disse que Do Val queria fala comigo assunto importante. O Daniel Silveira queria que o Marcos do Val falasse alguma coisa, mas ele não falou nada. Não sei qual foi o contato do Daniel com Do Val. O que eu tinha de conhecimento é que eles não tinham relacionamento”, acrescentou.
As contradições de Marcos do Val
Inicialmente, na primeira denúncia feita por Marcos do Val, o senador disse, nas redes sociais, que houve uma “tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele”. Depois, o senador mudou a versão e declarou que o ex-presidente teria ficado calado durante toda reunião que tiveram. Nesta versão, o parlamentar responsabilizou o ex-deputado Daniel Silveira pelo plano, e ainda garantiu que denunciou tudo ao ministro Alexandre de Moraes.
Na manhã desta quarta-feira (12/7), o senador negou envolvimento com qualquer plano golpista, e afirmou ter “apreço pela democracia”. O pronunciamento ocorreu após a coluna de Rodrigo Rangel, do Metrópoles, revelar trocas de mensagens em que Do Val detalha o passo a passo de uma suposta trama golpista, alinhada com Bolsonaro e Silveira.
Em junho, Moraes autorizou uma operação de busca e apreensão contra o senador. As buscas ocorreram no apartamento funcional do congressista em Brasília, no gabinete dele no Senado e em um endereço no Espírito Santo.
As medidas foram solicitadas depois de os investigadores identificarem tentativas do senador de atrapalhar as apurações sobre os atos golpistas do dia 8 de janeiro. No fim de junho, o senador solicitou afastamento das atividades parlamentares após precisar de atendimento médico durante uma sessão da CPI que investiga os ataques de 8 de janeiro.
Outras investigações
Esta foi a quarta vez que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depôs na sede da Polícia Federal, em Brasília, em 2023. Em 5 de abril, o mandatário foi à sede da corporação para explicar sobre as joias que ganhou de presente da Arábia Saudita.
Em 26 de abril, o ex-presidente depôs no âmbito do Inquérito (INQ) 4921, que investiga incitadores dos atos de 8 de janeiro. Ele virou alvo das investigações após compartilhar, em 10 de janeiro, publicação em que a regularidade das eleições era questionada. Apesar de ter apagado o post no mesmo dia, a PGR acusou o ex-presidente de incitar a perpetração de crimes contra o Estado de Direito ao propagar o vídeo.
Em maio, Bolsonaro deu sua versão à PF sobre as investigações que apuram fraude nos cartões de vacinação dele, da filha, de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, e de pessoas próximas.
Colaboraram: Maria Eduarda Portela e Mariah Aquino.