Bolsonaro cobrou de Moro portaria sobre armas: “Quero todo mundo armado”
A exigência ocorreu durante a reunião ministerial de 22 de abril, em que Sergio Moro apontou interferência de Bolsonaro na Polícia Federal
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cobrou pessoalmente o ex-ministro Sergio Moro uma portaria para aumentar a quantidade de munição que civis com posse e porte de armas podem comprar.
A exigência ocorreu durante a reunião ministerial de 22 de abril, em que Sergio Moro apontou interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. O volume autorizado, que era de 200 cartuchos por ano, passou a ser de até 300 unidades por mês, a depender do calibre do armamento.
“Como é fácil impor uma ditadura no Brasil. Como é fácil. O povo tá dentro de casa. Por isso que eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura”, reclamou Bolsonaro. Ele frisou: “Eu peço ao Fernando [Azevedo e Silva, ministro da Defesa] e ao Moro que, por favor, assine essa portaria hoje”, afirmou.
Em 23 de abril, um dia depois, a portaria foi publicada. O volume autorizado, que era de 200 cartuchos por ano, passou a ser de até 300 unidades por mês, a depender do calibre do armamento.
Na reunião, Bolsonaro subiu o tom. “É escancarar a questão do armamento aqui. Eu quero todo mundo armado! Que povo armado jamais será escravizado”, concluiu.
Entenda o caso
Moro deixou o Ministério da Justiça no dia 24 de abril acusando o presidente de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. Segundo ele, Bolsonaro não só queria indicar alguém de “sua confiança” tanto para a diretoria-geral da PF quanto para superintendências estaduais, como também queria “relatórios de inteligência” da corporação.
Entre os elementos que, segundo o ex-juiz, provavam suas alegações, estava justamente o vídeo desta reunião presidencial. As imagens foram entregues pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao STF, no âmbito de um inquérito que apura as alegações de Moro, mas permaneciam, até então, em sigilo.
Leia toda a transcrição da reunião ministerial divulgada nesta sexta-feira pelo STF:
No último dia 12 de maio, o ex-ministro, seus advogados, representantes do governo federal, da PF e da Procuradoria-Geral da República (PGR), assistiram ao vídeo juntos, em sessão reservada. Mello atendeu a pedido de Moro, que defendia o levantamento integral do sigilo — a AGU, por outro lado, que apenas as falas do presidente na reunião fossem tornadas públicas.
Veja os vídeos da reunião ministerial liberados pelo STF: