Bolsonaristas confundem cadastro do Exército com convocação para golpe
Instituição divulgou nota explicando que inscrições são direcionadas a militares da reserva para que recebam informativo interno
atualizado
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São Paulo – Bolsonaristas que defendem um golpe militar por causa da derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições compartilharam na internet, nos dois primeiros dias da semana, informações sobre uma falsa convocação do Exército Brasileiro para que a população civil se alistasse voluntariamente.
Favoráveis a uma intervenção das Forças Armadas, apoiadores de Bolsonaro entenderam que poderiam integrar o Exército para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja vitória nas urnas eles questionam.
O falso chamamento foi destacado pelo próprio Exército, em sua página oficial, em uma nota na qual afirma que “convocações equivocadas para cadastramento online no Portal do Exército”, divulgada em mídias sociais, “não partiram” da instituição.
O Exército explica que o programa Reserva Pró-ativa, cujo link foi compartilhado por apoiadores de um hipotético golpe militar, destina-se “exclusivamente” para o recebimento do informativo “O Veterano” – publicação que trata de assuntos de interesse interno, voltados a militares da reserva.
O ex-ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, publicou em sua conta no Twitter, na segunda-feira (5/12), que um cadastramento para civis havia sido aberto pelo Exército.
“A participação é voluntária, recomendaria a todos os CACs [sigla para Caçador, Atirador, Colecionador] a preencher também. Acabei de preencher. Não é Fake”, garantiu na ocasião.
Alguns de seus seguidores, que são mais de 360 mil, se manifestaram. Uma mulher, que afirma ter 58 anos, garante ter curso de primeiros socorros e atirar “muito bem”, aparentemente crendo que o país irá entrar em guerra.
No dia seguinte, também no Twitter, o deputado federal General Girão (PL-RN), que é general da reserva, reforçou sua solidariedade aos manifestantes acampados em frente a quartéis generais (QGs) do Exército, pelo país afora.
Os QGs viraram ponto de concentração de bolsonaristas insatisfeitos com o resultado das eleições. Alguns deles chegaram a perder emprego e relacionamentos, por permanecerem acampados.
Aparentemente acreditando na convocação do Exército, General Girão acrescenta, em sua rede social, que “o cadastro permanece ativo”, reforçando: “temos convicção que aqueles homens e mulheres que são atiradores cadastrados como CACs podem sim fazer parte de um efetivo mobilizável para as Forças Armadas. Afinal de contas, já são hábeis no manuseio da arma como instrumento de defesa.”
Mudança de tom
Em outra postagem, retirada pelo parlamentar do ar, ele convoca os CACs a participarem da adesão: “contamos com os cidadãos de bem, treinados e dispostos a defender a pátria.”
Após a divulgação da nota do Exército, Girão mudou de tom, explicando aos seus 242,4 mil seguidores que “o cadastro existe há um bom tempo, para permitir que o comandante possa conversar com seus subordinados”, por meio da publicação voltada ao público interno.
Levantamento obtido pelos institutos Igarapé e Sou da Paz, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), aponta que o número de armas de fogo nas mãos dos caçadores, atiradores e colecionadores (CACs) atingiu a marca de um milhão no Brasil. Os dados foram divulgados em 31 de agosto.
O aumento resulta da facilitação do acesso a armas, decorrente da edição de 19 decretos, 17 portarias, duas resoluções e três instruções normativas, além de dois projetos de lei, por parte da gestão de Jair Bolsonaro.