metropoles.com

Bolivianos são 43% dos estrangeiros resgatados do trabalho escravo no Brasil

Nos últimos 12 anos, 1.065 imigrantes foram resgatados de trabalho escravo ou de condições análogas à escravidão

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
MTE
trabalho escravo goias
1 de 1 trabalho escravo goias - Foto: MTE

Crises humanitárias, como a que se seguiu ao terremoto de 2010 no Haiti, e econômicas, como as que atingem grande parte dos países sul-americanos de maneira cíclica, fizeram do Brasil o destino de várias ondas de imigração em anos recentes. Sem uma política consistente de acolhimento, porém, nosso país não consegue garantir uma vida digna a todos esses imigrantes e permite que um número considerável deles seja vítima da escravidão contemporânea.

Nos últimos 12 anos, 1.065 imigrantes foram resgatados de “empregos” em condições análogas à escravidão no Brasil, conforme mostra levantamento feito, a pedido do Metrópoles, pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, ligada ao Ministério do Trabalho.

A maioria dos resgatados (415 trabalhadores, ou 43,5% do total) são bolivianos, quase todos vítimas do tráfico de pessoas para fornecer mão de obra barata a confecções de roupas em São Paulo e região.

A situação degradante imposta aos imigrantes bolivianos se tornou conhecida da sociedade brasileira por meio das constantes notícias de batidas de autoridades para resgatá-los nessas confecções. As vítimas costumam ser submetidas a jornadas de trabalho que chegam a 14 ou 16 horas por dia e, no “tempo livre”, são impedidas de deixar o local, pois seus exploradores temem que peçam socorro.

As jornadas exaustivas são um dos critérios usados para caracterizar, segundo a legislação brasileira, o trabalho análogo à escravidão. Os outros são condições degradantes (como falta de água potável, alimentação ou equipamentos de proteção); trabalhos forçados (quando há, por exemplo, a retenção de documentos pessoais) e servidão por dívida (com descontos ilegais no pagamento, em troca de alimentação ou alojamento fornecidos pelo explorador).

9 imagens
Segundo a Polícia Civil e a Secretaria de Justiça, trabalhadores foram submetidos a condições análogas à escravidão.
A idosa de 82 anos que foi resgatada de trabalho análogo à escravidão, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo
Trabalhadores resgatados coletavam palha para cigarro em Água Fria (GO)
A vítima relatou que começou a trabalhar como empregada doméstica quando ainda era criança, na casa de outra família
1 de 9

Resgate de trabalhador no Paraná

Subsecretaria de Inspeção do Trabalho/Divulgação
2 de 9

Segundo a Polícia Civil e a Secretaria de Justiça, trabalhadores foram submetidos a condições análogas à escravidão.

Governo do estado de São Paulo
3 de 9

A idosa de 82 anos que foi resgatada de trabalho análogo à escravidão, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo

Divulgação/ MPT
4 de 9

Trabalhadores resgatados coletavam palha para cigarro em Água Fria (GO)

MTE
5 de 9

A vítima relatou que começou a trabalhar como empregada doméstica quando ainda era criança, na casa de outra família

Divulgação/ MPT
6 de 9

Divulgação/PRF
7 de 9

Com o tempo, vítimas eram persuadidas a ficar mais na instituição e a trabalhar para o investigado

Material cedido ao Metrópoles
8 de 9

Reprodução/MPT
9 de 9

Trabalhadores em condições análogas à escravidão vinham de São Paulo e Piauí

SRTEGO

Da “acolhida” à escravidão

O levantamento sobre os estrangeiros resgatados nos últimos 12 anos revela que, depois dos bolivianos, os imigrantes mais afetados são paraguaios (219, ou 22,98%); haitianos (141, ou 14,8%); peruanos (66, ou 6,9%) e venezuelanos (58, ou 6%).

As vítimas venezuelanas começaram a ser computadas entre 2017 e 2018, quando o governo brasileiro (sob a gestão do emedebista Michel Temer) lançou a Operação Acolhida, para organizar o atendimento humanitário a pessoas que fugiam das dificuldades impostas pela ditadura de Nicolás Maduro.

Além de dar alojamento e auxílio financeiro aos imigrantes, o programa os ajuda a conseguir empregos no Brasil. Mas isso nem sempre ocorre em condições dignas e seguindo as leis brasileiras.

Em junho de 2022, por exemplo, 12 trabalhadores venezuelanos foram resgatados de uma fazenda em Cafelândia (SP). Eles estavam alojados em condições degradantes – não havia sequer cadeiras no refeitório improvisado – e trabalhavam sem pagamento e sem equipamentos de proteção individual.

As vítimas haviam sido encaminhadas ao explorador pelo governo brasileiro, via Operação Acolhida.

Após o resgate, eles puderam ser contemplados pelos benefícios previstos pela legislação para quem é vítima do trabalho análogo à escravidão e puderam receber as indenizações trabalhistas previstas e as parcelas do auxílio-desemprego.

Como denunciar o trabalho escravo

Para denunciar a situação, vítimas de trabalho análogo à escravidão ou cidadãos que identificarem indícios de que há pessoas sendo exploradas podem procurar a Polícia Civil, a Polícia Militar ou outros órgãos públicos de suas respectivas cidades.

Atuam no combate a essa exploração as Superintendências Regionais do Trabalho, ligadas ao Ministério do Trabalho e presentes em todos os estados, o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público Federal (MPF), a Defensoria Pública da União (DPU) e a Polícia Federal (PF).

Denúncias de trabalho análogo à escravidão podem ser feitas de forma anônima no Sistema Ipê, do Ministério do Trabalho em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?