Boate Kiss: em Brasília, pais de vítimas pedem ao STJ agilidade em julgamento
Pais e familiares de jovens mortos no incêndio na Boate Kiss, em 2013, também inauguram exposição na Câmara dos Deputados
atualizado
Compartilhar notícia
Pais e familiares de vítimas na tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), em janeiro de 2013, viajaram a Brasília para pedir que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) priorize o julgamento do recurso contra a anulação do júri que condenou réus pelo caso.
O grupo pede justiça pela tragédia que deixou 242 mortos e 636 feridos. Nesta quarta-feira (12/4), membros da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) falam sobre o assunto na Câmara dos Deputados.
Além disso, o grupo vai inaugurar a exposição “10 anos da tragédia da Boate Kiss”. A mostra conta com fotos da boate, que ficarão expostas pelos próximos dez dias no Salão Verde da Câmara dos Deputados.
“Justiça”
Ao Metrópoles o pai de uma das vítimas e membro da AVTSM, Paulo Carvalho, ressalta que os embates na Justiça e a falta de um desfecho para os réus, mesmo após dez anos desde a tragédia, causam revolta.
“São dez anos e, nesses dez anos, houve muitas reviravoltas, muitos apelos, rercusos imorais, maliciosos, com o objetivo de tentar postergar [o processo]”, aponta Paulo.
Dos 28 indiciados por envolvimento direto e indireto no incêndio – entre donos da boate, integrantes da banda, funcionários da prefeitura e até bombeiros –, apenas quatro pessoas foram levadas à julgamento e condenadas.
Os réus, no entanto, seguem soltos em razão de uma manobra da defesa que garantiu a anulação do júri por questões procedimentais. O júri foi anulado em agosto de 2022. Dos três desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), dois votaram a favor das nulidades.
Além da falta de punição para os envolvidos no crime, Paulo cita o processo do Ministério Público contra quatro pais de vítimas, em 2015, por calúnia. O grupo foi absolvido, mas sofreu com o constrangimento e o sentimento de injustiça.
“Quase seríamos os primeiros condenados. Esse processo todo trouxe, ao longo de todos esses anos, muita desolação, muita humilhação. Acabaram fazendo com que, nesse período, oito pais morressem por desgosto, por não ter mais vontade de viver. A injustiça é uma das causas dessa desolação”, realta Paulo.
A tragédia
Casa noturna tradicional de Santa Maria, cidade de quase 300 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul, a Boate Kiss recebeu centenas de jovens em 27 de janeiro de 2013. Estavam previstos dois shows ao vivo. O primeiro foi de uma banda de rock, e ocorreu normalmente. Depois, foi a vez da Gurizada Fandangueira.
Naquela trágica noite, as faíscas de um sinalizador, usado pela banda para animar o show, atingiram o teto revestido de uma espuma usada inadequadamente para isolamento acústico.
Em pouco tempo, o fogo se espalhou pela pista de dança e logo tomou todo o interior da boate. De acordo com os bombeiros, a fumaça altamente tóxica e de cheiro forte provocou pânico. Apesar de ter capacidade para 690 pessoas, a boate tinha entre 800 e mil no local. Além dos 242 mortos, 636 jovens ficaram feridos.