Bispo católico prega “não” à mineração e grandes obras na Amazônia
D. Evaristo cobrou, em audiência na Câmara, a “suspensão imediata da implementação de megaprojetos que agridem o bioma da Amazônia”
atualizado
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Numa prévia de como o clero se posicionará no Sínodo da Amazônia, o bispo de Marajó (PA), d. Evaristo Pascoal Spengler, integrante da comitiva do Brasil que viaja ao Vaticano na próxima semana para a assembleia especial com o papa Francisco, manifestou nesta terça-feira, 1.º de outubro, um pedido de rechaço à mineração e a grandes obras na região, o que vai contra planos do governo do presidente Jair Bolsonaro.
D. Evaristo cobrou, em audiência na Câmara, a “suspensão imediata da implementação de megaprojetos que agridem o bioma da Amazônia”. “Queremos pedir um não a projeto de mineração em territórios indígenas, não ao garimpo legal e ilegal na Amazônia, não à regularização de novos garimpos. Não às rodovias, ferrovias e hidrelétricas que destroem o meio ambiente. Nenhum grande projeto pode ser implantando sem a consulta prévia, livre e informada.”
Mais cedo, Bolsonaro, que já admitiu monitorar a preparação do sínodo por suspeita de ameaças à soberania brasileira, conversou com um grupo de garimpeiros em frente ao Palácio do Planalto e criticou o interesse estrangeiro na floresta. “O interesse na Amazônia não é no índio e nem na p… da árvore, é no minério”, afirmou.
Ele cogitou mobilizar as Forças Armadas para assegurar a possibilidade de exploração mineral na região de Serra Pelada, a cerca de 2,2 mil quilômetros de Belém, no sul do Pará.
Além disso, a administração federal prepara na Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República o programa Barão do Rio Branco, que inclui a construção da Ponte de Óbidos, sobre o Rio Amazonas, de uma hidrelétrica no Rio Trombetas (PA) e a expansão da Rodovia BR-163.
A Igreja Católica nega ser a favor da internacionalização da Amazônia. O bispo de Marajó afirmou que a Igreja conhece bem a região porque “mergulhou na Amazônia” e que os missionários “chegam aonde o Estado não chega”. D. Evaristo voltou a dizer que as lideranças católicas que defendem Direitos Humanos e da terra são “criminalizadas e tratadas como inimigos da Pátria” – uma referência a críticas feitas por integrantes da gestão federal ao sínodo e os documentos preparatórios. “Há uma inversão total de valores”, reclamou.
D. Evaristo anunciou que a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançarão logo após a assembleia uma campanha por mais proteção aos defensores. O clérigo pediu que a Câmara “se empenhe e reforce o programa de proteção a defensoras e defensores de Direitos Humanos, socioambientais e indígenas, hoje ameaçados de morte por sua luta”.
“Esses defensores de direitos confrontam com grupos econômicos poderosos que violam normas do Direito Nacional e Internacional. Para garantir seus objetivos, esses não têm escrúpulo em eliminar vidas quando cruzam seus interesses”, denunciou. “É imprescindível, para manter a floresta em pé e a vida dos povos preservada, que suas lideranças e comunidades ameaçadas estejam efetivamente protegidas de todo tipo de violência e ameaça que hoje estão sofrendo.”
A Igreja também solicitou a criação de políticas públicas de financiamento de iniciativas econômicas que valorizem o projeto socioambiental em detrimento de “projetos de exploração predatória”. “Há necessidade de criar linhas de financiamento público para que as comunidades tradicionais e os povos indígenas possam desenvolver seus meios de vida, garantindo a floresta em pé. Até hoje, só acontece financiamento público para projetos predatórios e pessoas que não são da Amazônia. Nessa perspectiva, também é muito importante que se invista em políticas públicas para valorização dos produtos que mantenham a floresta em pé e que possam ter efetivamente a preservação da própria identidade, até com patente dos produtos da Amazônia. Se não os japoneses vão patenteá-los.”