Biólogo que criou Instituto Onça-Pintada defendeu caça em doutorado
O instituto foi multado em mais de R$ 450 mil pelo Ibama após a morte de 72 animais por suposta negligência ou imperícia
atualizado
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O biólogo Leandro Silveira (foto em destaque), fundador do Instituto Onça-Pintada (IOP) – multado em R$ 452 mil pelo Ibama devido à morte de 72 animais, nos últimos sete anos, por suposta negligência ou imperícia –, defendeu, em sua tese de doutorado, a liberação da caça esportiva para reduzir a predação de gado por onças-pintadas e onças-pardas.
Em contrapartida, Silveira propôs usar parte da receita proveniente da caça para a conservação dos animais.
“Para regiões do Pantanal, onde as propriedades são geralmente latifúndios, se dados científicos comprovarem a existência de um ‘animal-problema’, além da impossibilidade de outra solução para o conflito, a caça esportiva embasada cientificamente poderia ser a opção de manejo a ser adotada. Assim, parte da receita, proveniente das licenças de abate poderiam voltar para a manutenção de programas de monitoramentos populacionais de onças e fiscalização, onde o monitoramento de populações indicaria o número máximo de abates permitidos anualmente”, escreveu.
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O artigo, intitulado “Ecologia Comparada e Conservação da Onça-Pintada e Onça-Parda no Cerrado e Pantanal” (leia aqui), foi publicado em 2004, dois anos depois da fundação do IOP, cuja missão é promover a conservação da onça-pintada, suas espécies de presas naturais e seus habitats.
A caça, exceto no caso dos javalis, é considerada ilegal no Brasil. A liberação da atividade é criticada por especialistas, que preveem efeitos perversos na fauna e em comunidades humanas, com o aumento do número de armas nas mãos de civis.
Em nota, o fundador do IOP afirmou ter incluído a caça como “uma entre várias alternativas de manejo na população animal, em circunstâncias específicas e, principalmente, sob controle científico”. “Inclusive para que se preservem determinadas espécies da extinção. Trata se de uma discussão técnico-científica feita dentro de um ambiente acadêmico e qualificado para o debate sobre manejo de fauna”, acrescentou ele.
Mortes de animais
O Metrópoles revelou com exclusividade, nesse domingo (21/8), que o Instituto Onça-Pintada foi multado em mais de R$ 450 mil devido à morte de 72 animais por suposta negligência ou imperícia.
Segundo o Ibama, onças, antas, veados, pássaros, lobos e macacos morreram, nos últimos anos, envenenados, predados por animais silvestres, picados por serpentes ou espancados por similares nos últimos sete anos. Do total, 52 são espécies ameaçadas de extinção.
Veja o infográfico a seguir, que mostra os animais mortos por suposta negligência ou imperícia da ONG:
Além dos 72 óbitos por negligência ou imperícia, outros 53 animais morreram no criadouro desde 2017. O número de mortes supera em três vezes o de nascimentos.
“Considerando tratar-se de um criadouro de fauna silvestre para fins de conservação, pode-se afirmar que não tem atingido seu objetivo possuindo um saldo negativo, ou seja, mata mais animais que nascimentos no criadouro”, diz o Ibama.
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O órgão ambiental também decidiu, ao visar a segurança dos animais, que o Instituto Onça-Pintada seja embargado para as atividades de visitação, recebimento, destinação, alienação (a qualquer justificativa) e reprodução de espécimes até a apresentação de projetos de conservação adequados.
IOP nega irregularidades
Após a publicação da reportagem, o IOP afirmou ter recebido com “surpresa” as aplicações de multas no mês de junho por um fiscal do Ibama, “que nunca esteve presencialmente nas nossas instalações”. “Já apresentamos nossa defesa ao Ibama e estamos confiantes na reversão das sanções”, acrescentou.
A ONG afirmou também que, com os embargos fixados pelo fiscal, as atividades do instituto “serão prejudicadas”.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad) também negou possíveis irregularidades na atuação do IOP. A pasta afirmou ter realizado três ações fiscalizatórias, nos últimos dois anos, e não identificou “quaisquer fatos que corroborassem com o descrito” pelo Ibama.
“E mais: em todas as ocasiões foram verificados recintos estruturados, com capacidade superior quando comparados a outros empreendimentos (tamanho, disponibilidade de água para dessedentação, banhos, alambrados, poleiros, etc). Ademais, o controle de pragas, alimentação, segurança, higiene, entre outros quesitos observados quando da avaliação para liberação da autorização de uso e manejo de fauna, demonstraram-se satisfatórios”, afirmou a Semad.