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BC: Galípolo citou Marx e ex-presidente do Palmeiras em dissertação

Dissertação de mestrado de Galípolo, indicado à presidência do Banco Central, trouxe citações a Marx e a economista que presidiu o Palmeiras

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O economista Gabriel Galípolo, apontado como o "número 2" na ministério da Fazenda do novo governo Lula - Metrópoles
1 de 1 O economista Gabriel Galípolo, apontado como o "número 2" na ministério da Fazenda do novo governo Lula - Metrópoles - Foto: Reprodução/Casa do Saber

Apresentada em 2008 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com o título “A lei do valor como limite ao desenvolvimento da economia brasileira”, a dissertação de mestrado de Gabriel Galípolo discutiu a concentração de renda e a desigualdade social no Brasil e defendeu a mediação do Estado através de políticas públicas.

A dissertação era requisito para a obtenção do título de mestre e foi orientada pelo professor doutor João Machado Borges Neto.

Na quarta-feira (28/8), o nome de Galípolo foi anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como o escolhido do presidente Lula (PT) para presidir o Banco Central (BC) no período de 2025 a 2028. Galípolo é diretor de Política Monetária do órgão desde julho de 2023, após ter passado o primeiro semestre do atual governo na Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda, como braço direito de Haddad.

Após o anúncio, que já era aguardado pela imprensa e pelo mercado financeiro, Galípolo disse que “é uma honra, prazer e responsabilidade imensa” ser indicado ao BC.

Teoria marxista

Citando a obra clássica de Karl Marx “O Capital”, o futuro presidente do BC argumentou em sua dissertação que o Brasil é um país “particularmente concentrador de renda”, com parte significativa da população, em especial os trabalhadores, encontrando-se marginalizada dos benefícios.

No trabalho acadêmico, Galípolo discorreu sobre o problema da concentração de renda na economia brasileira através da teoria marxista e sustentou que a redução dos salários dos trabalhadores aquém do valor da força de trabalho configura “superexploração” da força de trabalho, aumentando a concentração de renda inerente ao sistema capitalista.

Um dos argumentos de Galípolo no trabalho é: “Que o aumento do serviço da dívida externa tenha de recair, em última estância, sobre ‘os ombros dos trabalhadores’ configura um fato recorrente em nossa história: a ‘socialização’ das perdas, que repetidamente são impostas às mesmas classes sociais”.

Galípolo ainda dedica uma seção ao golpe militar de 1964, associando o autoritarismo do período à concentração de renda e ao endividamento do país.

“Com o golpe militar em 1964, os mecanismos de arrocho salarial e concentração de renda transcendem o caráter estrutural do capitalismo brasileiro e passam a fazer parte da política econômica”, escreveu o provável futuro presidente do BC (falta a sabatina no Senado para confirmá-lo).

Galípolo sustentou ainda que, a partir do regime militar, o realinhamento com a política externa norte-americana “permitiu relações ainda mais promíscuas com o capital internacional”.

Economista presidente do Palmeiras

Ainda nos agradecimentos, Galípolo fez referência ao professor Luiz Gonzaga Belluzzo, a quem classificou como “modelo de economista e intelectual”. Estendendo sua estima à esposa do economista, ele disse se considerar “afilhado” do casal.

A relação de Galípolo com Belluzzo é antiga e os dois já foram sócios. Belluzzo, inclusive, foi conselheiro de Lula na área econômica e é amigo do petista desde a década de 1970.

Entre 2009 e 2011, Belluzo presidiu a Sociedade Esportiva Palmeiras, tendo sido articulador da construção da nova Arena Allianz Parque. A gestão de Belluzo no Palmeiras foi marcada por uma série de polêmicas (como quando foi divulgado um vídeo dele contendo uma fala homofóbica: “Vamos matar os bambi”, se referindo ao São Paulo Futebol Clube) e nenhum título obtido.

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Além das citações elogiosas, Belluzzo foi usado por Galípolo como referência teórica na seção em que discorreu sobre a formação econômica brasileira e sua consequente inserção no mercado mundial, e também na que trata da trajetória da dívida brasileira.

Outros autores citados por Galípolo em sua dissertação são o sociólogo e historiador brasileiro Caio Prado Jr. e o economista e ex-ministro do Planejamento Celso Furtado. Ele recorreu aos dois para falar que o sentido da colonização está na essência da estrutura produtiva brasileira, com privilégio à produção — principalmente agrícola — voltada para mercado externo em detrimento do mercado interno.

Galípolo, então, pontuou: “Já nesse período [da Independência], o crescimento econômico e da renda dos proprietários (lucro) realiza-se mediante a precarização das condições de vida da população, o que numa relação de trabalho capitalista se revela através da redução real dos salários”.

Ao falar do processo de substituição de importações, que reduziu a receita brasileira com as exportações, ele ainda citou a economista Maria da Conceição Tavares, que faleceu em junho deste ano, aos 94 anos, e é tida como expoente do desenvolvimentismo.

Ainda, ele usou como referências os pais do Plano Real André Lara Resende e Pérsio Arida, bebendo em trabalho da dupla que discorria exatamente sobre inflação e reforma monetária.

A dissertação de mestrado de Gabriel Galípolo está disponível no repositório da PUC-SP e foi acessada pela reportagem em 28 de agosto de 2024.

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