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Barragem de maior risco em Minas está abandonada

A Mina Engenho foi dominada pelo mato e está abandonada. Segundo moradores, a barragem não recebe manutenção desde 2011

atualizado

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José Cruz/Arquivo Agência Brasil
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1 de 1 barragens01 - Foto: José Cruz/Arquivo Agência Brasil

A menos de 10 minutos do centro da pequena Rio Acima, cidade de 10 mil habitantes na Grande Belo Horizonte, a barragem Mina Engenho foi dominada pelo mato e está abandonada. Inativa há sete anos, a mina de ouro – que pertencia à Mundo Mineração, do grupo australiano Mundo Minerals, hoje em estado falimentar – não emprega ninguém nem produz um real em royalties para o município. Deixou para trás, porém, uma herança perigosa: as barragens de maior risco de Minas Gerais, segundo avaliação da Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão regulador do setor.

Conforme o relatório mais recente da ANM, de janeiro, a barragem Mina Engenho foi a única do estado a ser considerada de alto risco de vazamento. Para se ter ideia, as barragens da mineradora Vale em Brumadinho – na unidade onde houve o rompimento – eram consideradas de baixo risco. Outras foram classificadas de risco médio – uma delas está em Itabirito, perto de Rio Acima.

O jornal O Estado de S.Paulo ouviu moradores de Rio Acima que relatam, além de abandono total, que as duas barragens da mina de ouro – uma com a superfície sedimentada e outra cheia de água – não recebem manutenção desde que as atividades foram encerradas, de um dia para outro, no fim de 2011. A interrupção foi tão abrupta que fábrica, caminhões e carros usados no transporte de funcionários foram deixados para trás. A maioria dos trabalhadores não recebeu seus direitos, diz o Sindicato dos Trabalhadores de Extração de Ouro de Nova Lima e região.

Muito do que ficou para trás foi depredado ou furtado. Caminhonetes acabaram depenadas – pneus, motores e peças foram carregados, e os vidros, quebrados. A estrutura de escritórios e refeitório está destruída – a privada do banheiro só não foi levada porque a louça quebrou no momento da retirada. Até hoje, “visitantes” da área abandonada aproveitam para pegar canos, pedaços de ferro e mais itens que possam ser usados em construções.

O material depositado nas barragens é altamente tóxico: placas alertam para risco de contaminação, mas ninguém controla o fluxo de pessoas. Tampouco há cerca ou portão. Fontes do setor de mineração dizem que o potencial de contaminação da exploração de ouro é superior ao do trabalho com minério de ferro, sedimentos acumulados nas montanhas de Rio Acima teriam arsênico e mercúrio, entre outros metais.

Perigo
Além de Rio Acima, a Mina Engenho também tem potencial de afetar um município bem maior, de quase 90 mil habitantes: Nova Lima. A prefeitura da cidade diz já ter acionado o Ministério Público para cobrar providências. A administração ressalva, porém, que a obrigação da fiscalização é de órgãos estaduais e federais. Outro ponto que preocupa moradores é que, diferentemente da Vale, a Mundo Mineração não tem dinheiro para pagar eventuais indenizações.

Presidente do sindicato do setor de exploração de ouro em Nova Lima, Marcelino Antônio Edwirges diz que houve tentativa de buscar o ressarcimento dos funcionários. Mas, ao pedir o arresto de máquinas e equipamentos, descobriram que a maioria deles era alugada. “Só conseguimos captar recursos para pagar dois trabalhadores.”

A Mundo Mineração atuava em atividade de risco. A empresa australiana comprou uma mina cujo potencial primário de exploração já havia sido exaurido por outra empresa. Segundo Edwirges, a companhia comprou a área por preço baixo, em busca de “ouro na sucata”, pelo reprocessamento dos sedimentos acumulados nas barragens. É uma aposta difícil, já que o potencial de mineração é de, no máximo, 10% do total original.

Além do potencial de dano humano, Edwirges e os moradores veem potencial de contaminação do Rio das Velhas, afluente do São Francisco, e responsável por boa parte do abastecimento da Grande BH. Após as tragédias de Mariana e Brumadinho, a população de Rio Acima pensa cada vez mais nas barragens ao redor. “Não dá para confiar”, afirma Rayane Luana Marques,  26 anos. Já Ivone Rebuitti, 64, diz que “se a gente parar para pensar, não consegue dormir”. “Depois de Brumadinho, ficamos com medo, diante de tanta tragédia, sofrimento. É ganância. Estamos nas mãos podres dos homens.”

Na Justiça
A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informou que o “empreendedor é responsável pela segurança da barragem”. Disse ainda que o Estado obteve na Justiça decisão contra a empresa, que não foi cumprida. Em 2017 e 2018, segundo a pasta, foram tomadas medidas emergenciais cabíveis. Uma licitação será contratada para fazer o descomissionamento da estrutura, o que inclui a retirada dos rejeitos. A reportagem não localizou representantes da Mundo Mineração e procurou a advogada da empresa por telefone, mas não teve sucesso. A ANM também não foi encontrada.

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