1 de 1 Kevin Amorim salvou 20 pessoas ao ver risco de desabanento em Petrópolis
- Foto: Aline Massuca/Metrópoles
Petrópolis – No momento em que a primeira pedra caiu do Morro da Oficina, no Alto da Serra, em Petrópolis, o barbeiro Kevin Amorim, de 26 anos, sentiu o risco de deslizamento e correu desesperado para tirar familiares e vizinhos das casas.
De acordo com Kevin, em poucos minutos, a região se transformou em uma cena de filme de terror. “Tirei uma senhora de 80 anos, que é acamada, e desceu o barranco”. A idosa era uma de suas vizinhas e segue bem.
“Eu e um vizinho buscamos pelas pessoas. Graças a Deus, consegui salvá-la.” Hoje, a idosa está no abrigo da Igreja Santo Antônio, junto com a família de Kevin.
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Andrielle Lopes, de 25 anos, com os dois filhos
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Vizinhos e parentes de Kevin estão acolhidos em abrigo
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Para moradores dos locais atingidos, foi necessário recorrer ao abrigo após acesso às casas ter sido interditado
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“Eu precisava ajudar. Até agora estou indo e vindo o tempo todo”, completa.
Kevin mora na região desde os 5 anos de idade e diz nunca ter visto nada parecido. Segundo ele, quase todos os seus amigos de infância estão desaparecidos.
“Todo o lado do morro que perdeu, eu conhecia tudo lá. Olho para barreira e lembro de todos dali. A gente cansou de brincar naquela área.”
A fonte de renda de Kevin e sua família era um salão que veio abaixo, no pé do morro. “Era meu ganha-pão e da minha esposa. Foi tudo embora, mas pelo menos minha família está bem.”
No momento em que houve o primeiro deslizamento de pedra, Andrielle Lopes, de 25 anos, esposa de Kevin, estava no salão com as duas filhas.
“Só deu tempo de correr, quando olhei para trás não tinha mais nada”, disse.
“Só conseguia chorar”
No mesmo abrigo em que estão parentes e vizinhos de Kevin e Andrielle, está Vanessa Alves, de 42 anos.
Moradora da Rua Primeiro de Maio, outra região fortemente atingida, no bairro da Castelânea, Vanessa ficou presa com três de seus filhos na enchente.
“Entrei em pânico, porque quase morri com o meu bebê e com a minha filha de 2 e a de 19 anos. A gente estava na rua, eu fiquei dentro do colégio da igreja, e elas, na padaria. Veio descendo carro na rua junto com a enchente, derrubou tudo. Quando a situação melhorou, só conseguia abraçar meus filhos e chorar.”
Recorrer ao abrigo, segundo ela, foi uma necessidade, para o bem de seus quatro filhos. “Saí, porque interditaram, então viemos para cá, ainda mais depois do que passamos.”
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Sobreviventes buscam familiares na tragédia
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Um cachorro foi resgatado com vida após o deslizamento
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Homem tenta encontrar algum morador no deslizamento
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Bombeiro usa um tronco para tentar achar vítimas dos deslizamentos que ocorreram na região
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Moradores ajudam a retirar um corpo encontrado nos escombros
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Populares carregam a vítima em um lençol
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Topo do Morro da Oficina, que desmoronou
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Homem tentando sair de rua totalmente alagada
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Governador Cláudio Castro visitou a área afetada na cidade
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Um corpo é retirado em meio ao lamaçal no morro
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Wallace Amorim, de 24 anos, também relata momentos de terror. O jovem, que não estava no Morro da Oficina no momento do deslizamento, descobriu pelo irmão que o pai estava soterrado.
“No mesmo dia, meu irmão conseguiu salvar, graças a Deus”, contou o jovem.
Ele diz que ficou em estado de choque com a destruição, que muitos amigos estão desaparecidos e que perdeu praticamente tudo.
“A casa foi quase toda embora. Na hora que vi o morro, fiquei em estado de choque”, detalhou o rapaz.
Reconstrução
Na noite de quinta, o governo federal começou a liberar verba para a reconstrução da cidade e contenção de danos. Foi destinado R$ 1,67 milhão para a compra de cestas básicas, kits de higiene pessoal, materiais de limpeza, colchões, cobertores e lençóis.
Houve ainda o repasse de R$ 655,7 mil para a limpeza urbana e a desobstrução de canais, com a contratação de auxiliares de serviços gerais, encarregado geral de obras, caminhões e escavadeiras.
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Não é novidade a ocorrência de tragédias provocadas por tempestades no Brasil. Embora o grande volume de chuva não seja atípico no país, principalmente na Região Sudeste, alguns estados ainda sofrem com deslizamentos de terras e alagamentos
Luciano Belfort/Especial Metrópoles
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Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), só entre 2017 e janeiro de 2022, as chuvas já causaram inúmeros prejuízos aos cofres públicos, além das tragédias familiares
Divulgação
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No início de 2022, chuvas intensas atingiram diversas regiões de São Paulo e causaram desmoronamentos, alagamentos, deslizamentos de terras e a morte de sete crianças e 14 adultos. Segundo o governo do estado, a tragédia ainda deixou 500 mil famílias desabrigadas ou desalojadas
Divulgação/Prefeitura de Franco da Rocha
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Também em 2022, intensas chuvas causaram o rompimento do dique da barragem da Mina de Pau Branco, localizado no município de Nova Lima, Minas Gerais, e fez com que grande bloco de pedra se desprendesse de cânion do Lago de Furnas, localizado em Capitólio, e atingisse lanchas turísticas. Quatro embarcações foram atingidas e duas delas afundaram com o impacto. Ao menos 10 pessoas morreram e dezenas ficaram gravemente feridas
Reprodução/ Vídeo
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Em fevereiro de 2022, chuvas intensas atingiram a região de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e causaram desmoronamentos, alagamentos e deslizamentos de terras. Pelo menos, 152 pessoas morreram
Luciano Belfort/Especial Metrópoles
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Em dezembro de 2021, fortes chuvas causaram inundações em diversas regiões da Bahia. De acordo com a Defesa Civil do estado, os temporais deixaram mais de 20 mortos e pelo menos 3,7 mil pessoas desabrigadas
Facebook/ Reprodução
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Em 2020, fortes chuvas atingiram o litoral paulista, deixaram 45 mortos por deslizamento de terra e dezenas de famílias sem moradia. Além de civis, dois bombeiros que ajudavam no resgate das vítimas também morreram soterrados. Essa foi considerada uma das maiores tragédias do estado
Fábio Vieira/Especial Metrópoles
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Em 2019, intensas chuvas causaram deslizamentos nas cidades de Recife, Lima, Abreu e Olinda, em Pernambuco. Cerca de 1,6 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas e 11 foram mortas. Uma jovem grávida de 8 meses estava entre as vítimas
Divulgação/ Prefeitura de Camaragibe
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Em 2011, a chuva na Região Serrana do Rio de Janeiro causou a morte de ao menos 900 pessoas. A tragédia foi considerada a maior catástrofe natural do país
Reprodução/ TV Globo
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Durante o Réveillon de 2010 em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, ao menos 53 pessoas morreram soterradas devido a intensas chuvas na região
Reprodução TV Globo
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Em 2008, temporais tomaram 60 municípios de Santa Catarina e deixaram mais de 150 mortos vítimas de soterramentos ou enchentes e ao menos 80 mil pessoas desalojadas