Banco Central não deveria votar meta de inflação, diz Galípolo
Indicado de Lula para presidir BC é sabatinado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado nesta terça (8/10)
atualizado
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O economista Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o comando do Banco Central (BC), disse, nesta terça-feira (8/10), que a autoridade monetária não deveria participar da definição da meta da inflação. Galípolo considera “estranho” que o BC defina um objetivo que terá de ser cumprido.
“Eu sou daqueles que defende que o Banco Central não deveria nem votar na meta de inflação dentro do CMN [Conselho Monetário Nacional]. Pensando numa corporação, numa empresa, é muito estranho que quem vai ter de perseguir a meta seja responsável por estabelecer a meta que vai ter de perseguir”, afirmou em sua sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
Veja como foi a sabatina:
A meta de inflação de cada ano é estabelecida pelo CMN, que é composto por:
- ministro da Fazenda;
- ministro do Planejamento e Orçamento; e
- presidente do Banco Central.
Em 2024, o centro da meta da inflação é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo (ou seja: 4,5% e 1,5%).
Atualmente, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, está em 4,24% no acumulado de 12 meses até agosto.
Isso significa que o índice segue se aproximando do teto da meta do CMN.
Para aproximar a inflação do centro da meta, o Banco Central usa a taxa básica de juros do país, a Selic — o principal instrumento de política monetária.
Rito de aprovação
O indicado de Lula precisa da aprovação dos senadores da CAE e, depois, do plenário da Casa para ser confirmado como novo presidente do BC. Se aprovado, Galípolo vai assumir o BC em 1º de janeiro de 2025 e ficará no cargo até o fim de 2028.
Durante sua fala inicial para o colegiado, o economista enfatizou que terá autonomia das decisões e que isso foi tratado com o presidente Lula nos momentos em que o encontrou.
“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula, eu escutei, de forma enfática e clara, a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado, exclusivamente, pelo compromisso com o povo brasileiro. Que cada ação e decisão devem ser tomadas unicamente para o interesse do bem-estar de cada brasileiro”, defendeu Galípolo.
O pano de fundo do foco do indicado de Lula em falar sobre a liberdade na tomada de decisões se dá depois de um histórico de atrito de Lula com o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Lula fez várias manifestações negativas contra Campos Neto, sobretudo com críticas à taxa básica de juros, a Selic. O mandato do atual presidente da entidade se encerra em dezembro deste ano.
Quem é Gabriel Galípolo
Natural da capital de São Paulo, Gabriel Galípolo, de 42 anos, tem experiência nos setores público e privado. Desde julho do ano passado, ele é diretor de Política Monetária do BC.
Antes de integrar o colegiado do banco, Galípolo foi o braço direito do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quando foi secretário-executivo da pasta, entre janeiro e junho de 2023.