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Bairro nobre do Rio vira “Pantanal” em trecho lotado de jacarés

Canal das Taxas, na Zona Oeste, se torna ponto turístico, agrada moradores da vizinhança luxuosa e preserva natureza

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1 de 1 Jacares-no-Canal-das-Taxas-viram-atracao-turistica-e-convivem-em-harmina-com-os-moradores-do-Recreio-na-zona-oeste - Foto: Aline Massuca/Metrópoles

Rio de Janeiro – Bairro da Zona Oeste, o Recreio dos Bandeirantes é cheio de misturas e contrastes. Ao caminhar pela Rua Professor Hermes de Lima, por exemplo, é possível observar, de um lado, um conjunto de edifícios imponentes de alto padrão, com apartamentos de luxo que chegam a custar R$ 3 milhões.

Do outro lado da via, a sensação é de que não se está mais a três quadras da praia e, sim, no Centro-Oeste brasileiro. Afinal, a rua segue a margem do Canal das Taxas, uma espécie de santuário para jacarés-de-papo-amarelo, capivaras, cobras e aves, entre outros animais silvestres, alguns ameaçados de extinção.

De acordo com especialistas, a região concentra o que sobrou dos ecossistemas originais da capital fluminense, com lagoas, manguezais, restingas e brejos, que deram ao Recreio o apelido de Pantanal carioca.

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Quando estão nos bancos de areia, chamam ainda mais atenção de quem quer fazer fotos
Aves raras, difíceis de serem vistas nos centros urbanos, também fazem parte do cenário
Saída clandestina de esgoto prejudica o ecossistema
Esgoto sem tratamento é o principal problema do Canal das Taxas
Pantanal Carioca ou corredor verde, é o habitat de centenas de jacarés
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Jacarés tomam sol no banco de areia do Canal das Taxas

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Quando estão nos bancos de areia, chamam ainda mais atenção de quem quer fazer fotos

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Aves raras, difíceis de serem vistas nos centros urbanos, também fazem parte do cenário

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Saída clandestina de esgoto prejudica o ecossistema

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Esgoto sem tratamento é o principal problema do Canal das Taxas

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Pantanal Carioca ou corredor verde, é o habitat de centenas de jacarés

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Jacaré-do-papo-amarelo no Canal das Taxas

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Habitantes famosos do Recreio, os jacarés eram vistos com frequência passeando pelo trecho urbano do pedaço até que as margens do canal ganharam proteção, há pelo menos cinco anos, com a instalação de uma cerca formada por tocos de árvores e grades. Garantiu-se, assim, a convivência pacífica entre répteis e humanos.

“É um alento morar de frente para a natureza, com esse clima pantaneiro, bucólico, que transmite a paz. Sempre antes de colocar meu filho para dormir, desço e caminho com ele pela margem. Vira uma distração, um programa ecológico que adora. E ele pede para ir na rua ver os jacarés”, conta a dentista Bianca Hertz, de 34 anos, mãe do pequeno Heitor, 1. Segundo ela, os bichos são excelentes vizinhos, que respeitam seus limites.

“O problema é que o ser humano não respeita. As pessoas jogam lixo, restos de tudo no canal. Arremessam latas e garrafas para o bicho se mexer e ver a reação dele. Alguns comem esses resíduos quando abocanham para se defender. É lamentável”, reclama ela, moradora do local há seis anos.

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A vendedora  Stephanie Karen, 25, faz selfies com os bichos e fotos dos  jacarés
Elisabeth Neves, 52 anos, é zeladora há 13 anos de um edifício à beira do canal e tem boa "relação", com os jacarés
Moradores e visitantes param na ponte dos jacarés, que serve de mirante para observar os animais
Pai ciclista aponta os jacarés para a filha, na garupa da bicicleta
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Bianca Hertz, de 34 anos, e seu filho Heitor, de 1 ano

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A vendedora Stephanie Karen, 25, faz selfies com os bichos e fotos dos jacarés

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Elisabeth Neves, 52 anos, é zeladora há 13 anos de um edifício à beira do canal e tem boa "relação", com os jacarés

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Moradores e visitantes param na ponte dos jacarés, que serve de mirante para observar os animais

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Pai ciclista aponta os jacarés para a filha, na garupa da bicicleta

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Zeladora há 13 anos do Edifício Alexandrina, Elisabeth Neves, 52, herdou a função do pai, de quem ouvia histórias dos “lagartos gigantes” da vizinhança. Conta que a última vez que um jacaré deixou o canal foi durante uma cheia, após dias de chuva intensa. “A água subiu e um deles acabou indo parar na garagem do prédio vizinho. Foi uma atração e o bicho acabou resgatado pelos bombeiros. Acho o maior barato”, diverte-se ela, que viu a região reforçar sua vocação para ponto turístico nos últimos tempos.

Quando passou por um grande mutirão de limpeza e recebeu as novas proteções, o canal também ganhou pontes, ligando uma margem à outra, que se transformaram em observatórios da fauna nativa e silvestre, além de virarem locais perfeitos para as selfies com os répteis. Nas redes sociais, as fotos acabam postadas com a localização Ponte dos Jacarés.

O aposentado Francisco Carneiro, 62, mora há seis meses na região. Segundo ele, o “Pantanal carioca” foi uma motivação para voltar a morar no Brasil, após anos nos Estados Unidos. “É um ambiente incrível, reúne aspectos maravilhosos da natureza, uma tranquilidade que eu buscava”, explica.

De acordo com o biólogo Mário Moscatelli, que estuda os ecossistemas e lagoas da região há mais de três décadas, assim como há o contraste no cenário, existem diferenças entre quem respeita e agride o espaço. “Vemos os que protegem e os que apedrejam, jogam comida, jogam lixo. Sem falar no principal problema, que é o lançamento de esgoto indevido, com a produção de cianobactérias tóxicas, constituindo um ‘upgrade’ de degradação para a fauna nativa local”, explica o especialista.

Nova empresa de saneamento é esperança

Moscatelli garante que, “se as causas da degradação não forem combatidas, pouca coisa irá sobrar”. “Dá para reverter, mas é preciso ter vontade política e pressão da sociedade. Não existe mágica.  O problema é que os espaços sistematicamente continuam sendo impactados por esgoto, lixo e crescimento desordenado. Há uma grande expectativa no momento, com a entrada da nova concessionária de saneamento [empresa que ganhou o leilão da Cedae]”, completa.

Ainda segundo o especialista, respeitado o ambiente dos animais, não há risco de ataques de jacarés contra os seres humanos. “Ataques? Por enquanto, só dos seres humanos, que caçam os jacarés para vender sua carne. O risco existe quando os seres humanos ultrapassam os limites de respeito e de distância para qualquer animal silvestre. Mesmo as capivaras podem atacar, se molestadas e caso se considerarem em perigo”, alerta o biólogo.

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