Auxiliares de Dodge veem semelhança entre Marielle e Patrícia Acioli
As características do assassinato da vereadora, ocorrido nessa quarta-feira (14/3), se assemelham à execução da juíza, em agosto de 2011
atualizado
Compartilhar notícia
Os integrantes do Ministério Público auxiliando a procuradora-geral da República e presidente do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Raquel Dodge, acreditam que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol), aos 38 anos, se parece com a execução da juíza Patrícia Acioli, 47, em 2011. Segundo eles, cada um dos crimes atingiu não só uma vítima, mas uma causa. A informação é do jornal O Globo.
De acordo com a reportagem, Dodge afirmou após a reunião que são importantes a participação da Polícia Federal (PF) nas investigações e a troca de informações entre diferentes instâncias, com articulação do Ministério Público. O caso segue presidido pela Polícia Civil do Rio e com responsabilidade do MP local, segundo afirmado por Gussem após o encontro. A procuradora-geral, porém, afirmou nessa sexta (16) não ter desistido da intenção de federalizar a apuração do duplo homicídio.Raquel Dodge designou uma equipe da área de direitos humanos, na Procuradoria-Geral da República (PGR) e no CNMP, para acompanhar o caso de Marielle. A procuradora-geral foi ao Rio de Janeiro na quinta (15/3) para se reunir com o procurador-geral de Justiça do estado, Eduardo Gussem, e outros integrantes do Ministério Público, tanto estadual quanto federal.
A medida é adotada quando há suspeita de participação de agentes públicos e deve ser autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Se a Corte acatar o pedido, as investigações passam a ser chefiadas pela Polícia Federal, com acompanhamento do Ministério Público Federal, e os processos decorrentes do inquérito são transferidos da Justiça comum para a Federal.
Similaridades
A vereadora foi assassinada na noite de quarta-feira (14/3), depois de o veículo onde estava ser emparelhado por outro. Os ocupantes do automóvel desconhecido dispararam ao menos 9 vezes contra o carro da parlamentar, sendo que três balas atingiram Marielle. Também morreu no ataque o motorista Anderson Pedro Gomes, 39 anos.
Uma assessora da vereadora sobreviveu à emboscada. Até o momento, a principal linha de investigação é de que o caso tenha sido uma execução, e a possibilidade de envolvimento de agentes públicos não está descartada. Marielle era ativista dos direitos humanos e denunciava, entre outras arbitrariedades, abusos cometidos por policiais contra moradores de comunidades carentes.
Em 2011, a juíza Patrícia Acioli foi executada com 21 tiros, na porta da casa onde morava, em Niterói (RJ). Seis policiais militares foram condenados pelo assassinato. Na opinião de auxiliares de Dodge, tanto Marielle quanto Patrícia representavam poderes do Estado – a primeira, o Legislativo, e a segunda, o Judiciário –, o que aponta para um atentado não apenas individual. Além disso, ambas contrariavam interesses em suas respectivas atuações, afirma o jornal O Globo.
Marielle criticava a violência policial. A juíza, que era titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, foi responsável pela prisão de 60 policiais ligados a milícias e grupos de extermínio. Na visão de integrantes do MP, a atuação da vereadora na defesa dos direitos humanos faz com que o assassinato não represente apenas um ataque à vítima, mas à causa defendida.
Segundo a reportagem, com base em lei de 2002, Raquel Dodge determinou que a PF cumpra diligências na busca para identificar quem matou a vereadora, em apoio à Polícia Civil carioca. Essa lei permite a atuação de policiais federais em apuração de crimes com repercussão interestadual e internacional.