Autotestes: ao menos 9 empresas têm exames prontos para venda no país
Empresas aguardam registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a venda dos produtos no mercado brasileiro
atualizado
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Com a expectativa pela aprovação de uso e venda de autoexames de Covid-19 no Brasil, a indústria farmacêutica já começou os preparativos para abastecer o mercado nacional.
Na última quarta-feira (19/1) a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu adiar a decisão sobre os autoexames porque o Ministério da Saúde não enviou dados suficientes.
No entanto, os órgãos têm se reunido para alinhar as informações, e aguardam que o uso dos exames seja autorizado pela agência nos próximos dias.
Levantamento feito pelo Metrópoles, com informações da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), aponta que ao menos nove empresas brasileiras e internacionais têm a intenção de produzir autoexames para o mercado brasileiro.
A CBDL espera que ao menos 10 milhões de testes sejam fabricados mensalmente em território brasileiro. No entanto, a quantidade de exames disponibilizados por mês ao país pode chegar a bilhões, caso a indústria internacional exporte-os para o Brasil.
Ao Metrópoles, as seguintes empresas informaram estar preparadas para a produção dos exames: Abbott, Eco Diagnóstica, Labtest, Roche, Celer, BD Diagnostics, MedLevensohn, Vyttra Diagnósticos e Siemens.
Todas são associadas à CBDL. Entre as organizações, duas informaram que a fabricação dos autoexames deve ser realizada em território nacional: Labtest e Siemens. As demais empresas pretendem importar o produto.
Veja o levantamento de empresas preparadas para a venda de autotestes de Covid-19 no Brasil:
Tratativas
Em entrevista ao Metrópoles, o presidente-executivo da CBDL, Carlos Eduardo Gouvêa, explicou que a expectativa da indústria é iniciar a venda dos autoexames no Brasil em fevereiro.
Ele pontuou que, após a aprovação dos testes pela Anvisa, cada empresa deverá registrar seu produto na agência reguladora. O processo demanda análise de técnicos do órgão.
“A empresa que vai fabricar o diagnóstico tem que estar alinhada e atender aos requisitos da Anvisa, além de submeter um dossiê à agência. Tendo o ‘ok’ da Anvisa, é dado o registro. Com esse registro, a empresa pode produzir ou importar. Em fevereiro, quem sabe, a gente já comece a ter os primeiros produtos”, afirmou.
O representante da entidade avalia que o autoteste será um “aliado” da saúde pública, desafogando unidades de saúde e auxiliando o paciente a ter um diagnóstico antecipado de Covid-19, evitando a disseminação da doença.
“No caso da Covid, o autoteste tem um papel muito claro, que é interromper esse ciclo muito rápido e ágil de dispersão da doença. A pessoa que faz o teste em casa faz porque tem alguma preocupação. Se der positivo, ela já sabe imediatamente o que fazer, vai evitar sair em um primeiro momento, avisar às pessoas próximas que tiveram contato para, eventualmente, fazerem o teste e, por fim, vai buscar o tratamento, se precisar. Mas ali ela interrompeu o ciclo”, ressalta.
Produção
Representantes de diversas empresas de diagnóstico in vitro informaram à reportagem que a produção dos autotestes de Covid não deve ser demorada, pois o modelo será semelhante aos exames rápidos de antígenos realizados em farmácias brasileiras.
Por essa razão, as fábricas já estão preparadas para produzir os autotestes, tanto por fabricação 100% nacional quanto por importação de insumos de outros países.
“Os autotestes apoiam de forma relevante o combate à pandemia, já que, cientes do contágio, os infectados podem evitar contato com outras pessoas e, consequentemente, a circulação do vírus entre a população. A companhia ressalta que tem condições para uma rápida importação e fornecimento seguro dos exames em todo o território nacional”, informou a farmacêutica MedLevensohn, questionada pelo Metrópoles.
O caso da MedLevensohn é semelhante ao da Abbott, empresa internacional de saúde atuante na área de diagnósticos. O grupo informou que tem disponibilidade para trazer o autoteste para o Brasil rapidamente. O modelo comercializado pela empresa é intitulado Panbio, e funciona por coleta nasal. O produto é fabricado na Coreia do Sul e na China.
O teste é já é utilizado em dezenas de países da Europa, Ásia e América Latina. A empresa não informou o quantitativo mensal de autoexames que podem ser exportados para o Brasil, mas pontuou já ter produzido mais de 1 bilhão de testes de Covid-19 em todo o mundo.
“Nossas operações fabris estão trabalhando 24 horas, sete dias por semana, para produzir globalmente mais de 100 milhões de testes rápidos e PCR de Covid-19 por mês. Milhares de testes estão sendo entregues semanalmente ao Brasil, reforçando nosso compromisso de atender o mercado brasileiro”, informou a empresa.
Cuidados
Ao adiar a decisão sobre os autoexames no Brasil, a Anvisa justificou que o Ministério da Saúde não elaborou uma política pública descrevendo o uso dos produtos, ação exigida pela agência reguladora para liberar a comercialização dos testes.
O órgão abriu uma diligência e deu 15 dias para o governo formalizar uma política sobre a implementação dos autotestes. A Anvisa analisará novamente o pedido após receber as informações do Ministério da Saúde.
A biomédica, pesquisadora e divulgadora científica Mellanie Fontes-Dutra explicou Ao Metrópoles que as empresas devem fornecer orientações suficientes aos pacientes para que os testes possam ser feitos de maneira segura sem a presença de um profissional de saúde.
“É importante que a empresa tenha o cuidado de fazer com que todas as recomendações estejam adequadas e acessíveis para qualquer pessoa que vai fazer o manejo, com ou sem conhecimento prévio sobre isso. O resultado do teste vai depender muito de que a pessoa o faça corretamente”, disse.
A pesquisadora informou que as empresas devem aguardar o parecer da Anvisa e do Ministério da Saúde para saber quais adequações serão necessárias. Ela defende que é importante observar as políticas já adotadas em outros países para entender qual é o melhor caminho a ser seguido.
Um exemplo são as redes de saúde do Reino Unido e de Portugal, que fornecem canais on-line ou por telefone para que o paciente notifique o resultado do exame ao sistema público de saúde.
A tecnologia também é utilizada pelas fabricantes dos exames para auxiliar os pacientes. A empresa BD Diagnostics, uma das organizações que já fornecem testes no exterior e pretendem trazer o produto para o Brasil, informou que, nos demais países, o autoteste da marca conta com um aplicativo para auxiliar o diagnóstico do paciente.
“Há muitos países no exterior que têm funcionado no sentido de contribuir com uma detecção maior dos casos. As pessoas têm mais autonomia para poder se testar quando for o momento ideal. Seria importante pegar os exemplos de sucesso da implementação desse teste, ver o que foi feito em detalhes e trazer essas recomendações para o Brasil”, concluiu Mellanie.