Autor de “estudo paralelo” no TCU é crítico do PSol e da imprensa
Saiba quem é o servidor Alexandre Figueiredo Costa Marques, que criou documento usado por Bolsonaro para questionar mortes por Covid-19
atualizado
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Autor de um levantamento usado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a criação de um boato sobre possível supernotificação das mortes por Covid-19 no Brasil, o servidor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, de 41 anos, está tendo a vida virada de cabeça para baixo pela repercussão do “estudo paralelo”.
O TCU desautorizou as conclusões do estudo feito de maneira independente pelo auditor, que indicavam enorme supernotificação das mortes por Covid-19 em 2020, no que seria um indício de fraude de estados e municípios em busca de mais recursos. A Corte também abriu sindicância para investigar a produção e a divulgação do material.
Membros da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia no Senado também já se mostraram dispostos a convocar o servidor a depor. “Pelo menos os sigilos dele, que induziu o presidente da República ao erro, teremos de quebrar”, disse no fim da tarde desta terça-feira (8/6) o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente do colegiado.
O levantamento foi citado por Bolsonaro na segunda-feira (7/6). O TCU desmentiu em seguida a declaração do presidente, de que o órgão seria o autor do relatório. Imagem divulgada pela revista Crusoé mostrou então que o arquivo com os dados foi criado às 18h39 de domingo (6/6), por Alexandre, com o nome “Da possível supernotificação de óbitos causados por Covid”.
O Metrópoles confirmou que o servidor tem ligação com a família Bolsonaro, mas ainda não está claro o caminho do documento do sistema do TCU até o conhecimento do presidente da República.
Perfil
Alexandre Marques não está falando com a imprensa, mas informações em seus perfis nas redes sociais e registros oficiais permitem a elaboração de um perfil básico do servidor.
Em uma página pública que criou no Facebook em 2019 para divulgar suas opiniões, o servidor conta que nasceu e viveu a maior parte da vida no Rio de Janeiro, mas se mudou em 2015 para Jundiaí, no interior de São Paulo.
No TCU, ele entrou em 2008, como auditor. Antes, trabalhou no Ministério da Justiça, entre 2006 e 2007, como especialista em políticas públicas. Ainda antes, de 1994 a 2006, foi oficial da Marinha do Brasil. É formado em ciências navais e em direito.
Hoje, segundo o sistema interno da Corte, está no cargo de supervisor no Núcleo de Supervisão para o Aprimoramento das Atividades de Controle Externo. Antes, até 30 de março deste ano, esteve na Secretaria de Controle Externo da Saúde.
Em sua página pessoal na rede social, o servidor do TCU não ostenta postagens em homenagem direta ao presidente Bolsonaro, mas curtiu as páginas do presidente e do ministro Tarcísio Freitas, da Infraestrutura. Curtiu também páginas do Partido Novo.
Entre as postagens, há uma com notícia defendendo a eficácia da Ivermectina contra a Covid-19 – que não foi comprovada pela ciência –, mas também há postagens defendendo a vacinação como solução para a pandemia.
A esposa do servidor, Nara de Pieri, é enfermeira e atua na linha de frente contra a Covid-19 em Jundiaí. Também com perfil aberto no Facebook, ela divulga material defendendo a vacinação e chegou a postar um meme, em abril deste ano, zoando o ministro da Economia, Paulo Guedes, por suas declarações polêmicas sobre o serviço público: “Tomou vacina chinesa, através do SUS e aplicada por funcionária pública”.
É em sua página criada para opinar sobre os temas do país que o servidor do TCU Alexandre Marques solta mais sinais sobre seu perfil político.
Em postagem de 2 de dezembro do ano passado, ele observa que a média móvel de mortes por Covid vinha caindo, mas voltou a subir no fim de outubro, após o início da campanha eleitoral municipal. “Aglomerações, corpo a corpo, candidato do PSol fazendo reuniões mesmo com Covid-19, tudo isso contribuiu não só para aumentar a contaminação, mas também para passar a imagem ao povo de que estava tudo normal”, escreveu ele, numa crítica ao psolista Guilherme Boulos, então candidato a prefeito de São Paulo.
A mídia é atacada em várias postagens. “Agora vamos falar de boas notícias, porque isso a mídia não divulga. Há três dias o número de óbitos no Brasil está menor, se comparado com o mesmo dia da semana anterior”, postou ele em junho do ano passado.
“Falar que o Brasil é um mau exemplo é ridículo. A imprensa deveria ressaltar o esforço que gestores do SUS e profissionais de saúde estão fazendo. Podemos não ser perfeitos, mas temos que ter orgulho do nossos sistema de saúde”, escreveu Alexandre em 6 de maio de 2020.
Ligação com o PSB
Apesar de ter curtido a página de Bolsonaro e a do Partido Novo, o auditor do TCU envolvido na polêmica com o “estudo paralelo” tem uma ligação familiar com um político de partido de esquerda, e até já fez campanha para ele. Trata-se do professor Eliseu Gabriel, do PSB, eleito vereador na capital paulista em 2020. Ele é seu sogro, pai de sua esposa.