Atlas da Violência: 62 jovens foram assassinados por dia em 2022
Segundo o Atlas da Violência, divulgado nesta terça-feira (18/6), a Bahia é o estado brasileiro com mais jovens vítimas de homicídio
atualizado
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O Brasil registrou uma média de 62 jovens entre 15 e 29 anos assassinados por dia em 2022, conforme o mais recente relatório do Atlas da Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública nesta terça-feira (18/6).
Dos 46,4 mil homicídios registrados em todo o país, 22,8 mil — representando 49% do total — foram praticados contra pessoas dessa faixa etária. A grande maioria das vítimas, 94%, era do sexo masculino. Os números são referentes ao ano de 2022.
Os dados indicam que houve uma queda de 5,6% no número de jovens assassinados em todo o país em comparação com a pesquisa anterior, referente ao ano de 2021. Em relação à taxa de homicídios praticados contra esses jovens de 15 a 29 anos, o número teve um pequeno recuo, de 49 para 46,6 por 100 mil habitantes, de um ano para o outro.
Uma análise da série histórica em cinco anos, entre 2017 e 2022, mostra uma redução de 33,5% na violência letal contra a juventude. No entanto, os números ainda são considerados altos.
Bahia lidera homicídios de jovens
A Bahia é o estado brasileiro onde há mais jovens vítimas de homicídio, com 4 mil registros em 2022. Embora o número seja 6% menor do que o registrado em 2021, ele é 10% maior em comparação a 2012, quando teve início a série histórica.
Outros estados com números significativos incluem Rio de Janeiro (2.005 mortos), Pernambuco (1.733 mortos), Ceará (1.644 mortos), Pará (1.454 mortos) e Minas Gerais (1.224 mortos).
Em um período de 10 anos, 18 estados apresentaram redução na taxa de homicídios de jovens por 100 mil habitantes.
O Distrito Federal registrou a maior queda, com uma redução de 72% e uma taxa de 19,3. São Paulo teve uma diminuição de 59%, com uma taxa de 10,8, e Goiás reduziu 49%, com uma taxa de 44,9.
Por outro lado, alguns estados tiveram aumentos significativos, como Piauí (64,6%) com uma taxa de 50,2, Bahia (23,5%) com uma taxa de 117,7, e Amazonas (19,5%) com uma taxa de 86,9.
Impacto dos homicídios na expectativa de vida
O Atlas da Violência também apresenta um recorte sobre os anos potenciais de vida perdidos por essas vítimas de homicídio entre 15 e 29 anos, uma forma diferente de mensurar o impacto dessas perdas prematuras no país.
De acordo com o relatório, 321,4 mil pessoas nessa faixa etária morreram no Brasil entre 2012 e 2022; considerando uma expectativa de vida de 70 anos, isso representaria a perda de 15,2 milhões de anos potenciais de vida.
O relatório estima que só as armas de fogo tenham tirado 12,3 milhões de anos de vida de jovens brasileiros mortos em 10 anos, correspondendo a 81% do total. Objetos cortantes, a segunda maior causa de homicídios, teriam encurtado 1,6 milhão de anos. Acidentes, por exemplo, resultaram em 7,5 milhões de anos de vida perdidos, 50% menos que os homicídios.
Violência contra crianças e adolescentes
O Atlas da Violência aponta ainda que, em 2022, o Brasil registrou o homicídio de 147 bebês entre 0 e 4 anos, com uma queda de 3,3% em relação ao ano anterior e de 26% em relação a 2012.
Foram contabilizados 348 homicídios de crianças entre 5 e 14 anos, com uma queda de 6,5% em relação ao ano anterior e de 59,6% em relação a 2012. Houve 5.220 assassinatos de adolescentes entre 15 e 19 anos, com queda de 13% em relação ao ano anterior e de 44% em relação a 2012.
A pesquisa analisa que, em relação às vítimas de homicídio na primeira infância (0 a 4 anos), a taxa de homicídios por 100 mil infantes em 2022 mostrou estabilidade em relação ao período anterior, registrando um homicídio a cada 100 mil infantes. Contudo, a comparação entre 2012 e 2022 revela uma redução na taxa de homicídios de 28,6%, com 2.153 bebês mortos em 10 anos.
Nos homicídios contra crianças de 5 a 14 anos, a pesquisa indica uma redução de 7,7% na taxa por 100 mil habitantes de 2021 para 2022. Comparado a 2012, a taxa de homicídios de crianças apresentou uma redução de 55,6%. Houve crescimento na taxa de homicídios contra crianças apenas no Maranhão (38,5%), Piauí (112,5%) e Roraima (80%) durante este período, com sete mil crianças mortas em dez anos.
Adolescentes (15 a 19 anos) são as vítimas mais frequentes deste recorte, correspondendo a uma taxa de 34,1 homicídios por 100 mil habitantes. Em dez anos, 21 estados demonstraram redução na taxa de homicídio de adolescentes e, entre 2017 e 2022, 24 estados reduziram a violência letal contra adolescentes.
No entanto, entre 2021 e 2022, 18 estados tiveram queda nas taxas de homicídio, indicando uma possível diminuição na onda de redução da letalidade.
Arma de fogo como principal instrumento dos homicídios
As armas de fogo apareceram como principal instrumento de homicídio em quase todas as faixas etárias nos últimos 10 anos de pesquisa: 83,8% dos adolescentes e 70% das crianças foram vítimas de armas de fogo.
Entre os bebês, as chamadas “vítimas infantes”, o instrumento desconhecido apareceu com maior frequência, sugerindo uma ausência de preenchimento dessa informação nas declarações de óbito.
Violências “não letais”
O estudo também mostra que, ao contrário dos homicídios, as notificações de violências não letais envolvendo crianças e adolescentes apresentaram uma tendência de crescimento entre 2012 e 2022. As categorias analisadas — negligência, violência física, violência psicológica e violência sexual — todas mostraram aumento de registros.
A pesquisa observa que há uma predominância diferente de cada tipo de violência para cada faixa etária. Nos onze anos analisados, os infantes são as principais vítimas de negligência (61,7%), enquanto crianças são a maioria das vítimas de violência psicológica (53,5%) e sexual (65,1%). Adolescentes são as principais vítimas de violência física (59,3%).
Há também diferenças significativas quando analisado o sexo das vítimas. Entre 2012 e 2022, 60% dos crimes letais foram praticados contra meninas, que são a maioria das vítimas de violência sexual (86,7%), psicológica (64,7%) e física (52%), enquanto meninos são maioria nos casos de negligência (53%).