Atirador enganou pai horas antes do ataque em escola de Suzano
“Nunca imaginamos que fariam isso”, dizem vizinhos; adolescente havia largado os estudos
atualizado
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Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, levantou ainda de madrugada e caminhou com o pai até a estação de trem, onde costumava chegar às 5h30. Os dois trabalhavam juntos com serviços gerais, retirada de entulho e capinagem. Na estação, Luiz disse ao pai que não estava se sentindo bem, tinha dor de garganta e febre e voltaria para casa. Não voltou. Foi encontrar o amigo Guilherme Monteiro, de 17 anos, com quem cometeu o massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, que deixou cinco alunos e duas funcionárias mortos.
“A mãe do Luiz me chamou por volta das 9h, preocupada, porque o pai disse que o menino tinha voltado para casa e me pediu para ligar para o celular dele”, relatou o aposentado Cesar Abidel, de 53 anos, que mora entre as residências dos dois atiradores. Os vizinhos estavam acostumados a ver Luiz e o amigo juntos. Todos os dias, por volta das 17h, sentavam em frente a uma das casas e passavam horas conversando.
“Só sentavam aí na frente, conversavam e davam risada. Nunca poderíamos imaginar que eles fariam isso”, diz Cida Abidel, de 53 anos, que conhece os pais de Luiz há mais de 30 anos. Filho mais novo (tinha dois irmãos, de 40 e 42 anos), Luiz era muito protegido pelos pais. “Faziam de tudo por ele.”
Os amigos costumavam ir três a quatro vezes por semana a uma LAN house a cinco quadras de suas casas. Ali jogavam os games Call of Duty, Counter Strike e Mortal Kombat. “Se restringiam a dizer boa noite e obrigado”, conta a funcionária Nadia Cordeiro, de 23 anos.
Veja imagens do massacre:
Reservada
Já a família de Guilherme é conhecida entre os vizinhos por ser mais reservada. Não se sabe nem ao menos se a mãe morava com ele. Na pequena casa térrea, com muitos brinquedos espalhados no quintal, dizem que ele vivia com duas irmãs, de 7 e 9 anos, e o avô. A avó morreu há alguns meses. “Nunca vimos nada suspeito na casa ou com ele. Só percebíamos que era quieto demais, sempre cabisbaixo”, disse o ajudante geral Michel Aparecido, de 28 anos. Nas redes sociais, Guilherme costumava publicar comentários sobre jogos de tiros.
Fora da escola desde 2018, Guilherme havia abandonado os estudos. Nos últimos cinco meses, fez bico em lanchonetes e trailers no centro. “Sempre na dele, não falava com ninguém. Parecia um pouco deprimido, por ser quieto demais, mas não era capaz de machucar ninguém. Nunca nem o vi levantar a voz”, contou o autônomo Diego Ribeiro, de 20 anos.
“Ele voltou à escola alegando que iria à secretaria para retomar os estudos”, afirmou nesta quarta-feira, 13, o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares. No Instituto Médico-Legal, a mãe de Guilherme disse a um conhecido não se conformar com o que o filho havia feito, principalmente matar o tio, Jorge Antonio de Moraes, de 51 anos, irmão da mãe.
Uma equipe do grupo antiterrorismo da Polícia Federal esteve na Escola Estadual Professor Raul Brasil na tarde dessa quarta-feira para participar da investigação do ataque que deixou 10 mortos.
Segundo fontes da Prefeitura de Suzano, ainda não há indícios de uma ação terrorista maior – os dois atiradores teriam agido sozinhos e de forma pontual, mas nenhuma hipótese está descartada.
Entenda
A escola de Suzano onde ocorreu o massacre fica a cerca de 50 quilômetros da capital, São Paulo, tem ensino fundamental e médio, além de um centro de línguas. Lá estudam cerca de mil alunos, e trabalham 121 funcionários.