Ataques de Lula ao Banco Central unem oposição contra o petista
Críticas do presidente Lula à política de juros do Banco Central se tornaram o principal assunto político deste início de legislatura
atualizado
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As duras críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central e sua taxa de juros colocaram o assunto no centro do debate político nesse início do ano legislativo, com a oposição deixando disputas internas de lado para se unir e defender a independência do BC. De seu lado, a base petista defendeu as teses de Lula, mas de maneira mais tímida, indicando que, mesmo entre os governistas, há questionamentos sobre o tom adotado pelo chefe do Executivo.
Como lembrou o presidente em café da manhã com a mídia independente na manhã de terça (7/2), em seus primeiros governos, quem criticava a taxa de juros de um BC que não era independente era o então vice-presidente, José Alencar. “Agora sou eu mesmo que faço”, disse Lula, ignorando pedidos para diminuir o tom contra os juros e contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a quem atacou pela terceira vez em menos de uma semana. O presidente reage à manutenção dos juros num patamar que ele considera alto, de 13,75%, e às sinalizações de que não há perspectivas de baixa no horizonte.
A oposição entrou com força no debate, sobretudo os parlamentares mais identificados com o bolsonarismo, e partiu para cima de Lula com discursos inflamados. Já os parlamentares de centro se mantiveram, majoritariamente, mais alheios ao assunto neste primeiro momento, pois lideranças de comissões importantes estão sendo negociadas na Câmara e no Senado.
“A inflação prejudica os pobres e o Lula parece desconhecer isso. Existe um déficit fiscal contratado e por isso ao Banco Central só lhe resta manter os juros elevados”, argumentou o senador Hamilton Mourão (Republicanos/RS), ex-vice-presidente da República. “A independência do Banco Central é fundamental para contrabalançar a sede gastadora do atual governo”, completou Mourão, em postagem nas redes sociais.
O líder do PL no Senado, Flávio Bolsonaro (RJ), defendeu o presidente do Banco Central. “O projeto petista não combina com economia organizada e forte. Campos Neto é o homem certo, no momento certo para proteger nossa economia durante o desgoverno cleptopetista”, atacou o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
As críticas dos líderes políticos repercutem nas redes sociais e grupos de WhatsApp bolsonarista, dividindo espaço com ataques a outra notícia no campo econômico, a fala do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, minimizando uma possível saída da Uber do país caso o transporte de passageiros por aplicativo seja regulamentado, dando mais direitos aos motoristas.
“Mais um atentado contra a liberdade econômica. O desgoverno petista fala agora em nova regulamentação do transporte por aplicativo no país – o qual tem funcionado muito bem sem a interferência do Estado”, argumentou a deputada federal Carol De Toni (PL/SC).
Veja mais exemplos do engajamento da oposição:
Radicalismo
O cientista político André Cesar avalia que Lula está conduzindo o tema dos juros com um tom muito radical, que mais atrapalha do que ajuda no debate, mas acredita que o presidente tem um plano político por trás das palavras: se proteger politicamente. “Mesmo com esses juros, a inflação pode escalar de novo em algum momento, a economia pode ter dificuldades para avançar. E Lula já joga essa responsabilidade para o lado do Banco Central”, afirma ele, em conversa com o Metrópoles.
Há atores políticos no entorno do governo que concordam com o especialista, mas, publicamente, ninguém se manifestou. O ministro Fernando Haddad, chegou a atuar como bombeiro na crise, ao ver pontos positivos na ata que o Comitê de Política Econômica (Copom) soltou na terça e está disposto a retomar o diálogo com Campos Neto.
Líderes da base petista foram em socorro ao presidente, que se tornou alvo de críticas da oposição e de analistas políticos pelo tom adotado nos ataques. “A nota divulgada pelo Bacen está muito mais crítica ao governo do que acontecia no ano passado, quando o Banco Central não deu um pio sobre as façanhas orçamentárias de Bolsonaro para se reeleger. Aliás, o ‘mercado’ também aquiesceu”, afirmou a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT.
O vice-líder do Governo Lula na Câmara, Alencar Santana (PT-SP), foi mais duro no tom e cobrou a renúncia de Campos Neto. “Nunca deu um pio sobre a farra fiscal de Bolsonaro pra tentar se reeleger; não cumpriu as metas estabelecidas por lei. Quando ele vai pedir demissão?”, cobrou o parlamentar petista.