Assessores de Bolsonaro se mobilizam na defesa de alvos de inquérito do STF
Três comissionados com sala no Palácio do Planalto foram às redes sociais para atacar a operação que mirou disseminadores de fake news
atualizado
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Assessores diretos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estão participando da mobilização virtual para condenar a operação da Polícia Federal autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para apurar a disseminação e o financiamento de notícias falsas. Ao menos três autoridades com salas no Palácio do Planalto foram ao Twitter nesta quarta-feira (27/05) fazer críticas – tomando cuidado, porém, para não citar o Supremo e seus ministros.
“Minha posição no governo federal limita o que posso falar”, avisou o assessor especial da presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, em uma de suas postagens. “Mas quero deixar claro que o que está acontecendo é inaceitável, um verdadeiro atentado contra as liberdades mais fundamentais que deve ser combatido através de todos os meios lícitos”, clamou ele, que é um dos representantes da ala do bolsonarismo que tem como guia intelectual o escritor Olavo de Carvalho (assim como os demais citados nesta reportagem).
Para Martins, os investigados no Supremo por difundir acusações falsas com o intuito de ferir a honra de adversários são, na verdade, vítimas disso. “Uma das maiores campanhas de assassinato de reputação já promovidas no Brasil foi, justamente, a que consistiu em difundir a ideia de que algumas poucas pessoas são responsáveis por tudo o que é dito a favor do governo e por tudo o que é dito contra os seus críticos e detratores”, afirmou.
Na verdade, é mais do que isso. Querem criminalizar a liberdade de expressão, a independência das redes e as opiniões e posições majoritárias do povo brasileiro. Querem calar a internet porque ela se tornou incômoda demais para os donos do poder.
— Filipe G. Martins (@filgmartin) May 27, 2020
O chefe da Secretaria de Comunicação do governo, Fabio Wajngarten, acusou veículos de mídia de produzirem fake news, mas não citou nenhum. O gestor vive uma relação conturbada com os veículos de mídia tradicionais e ajuda na cruzada pela chamada mídia alternativa, mas a que defende o governo. Veja:
Alguns jornalistas e apoiadores tiveram seus equipamentos de trabalho apreendidos por decisão judicial e não poderão mais veicular, com liberdade de expressão, suas opiniões. Enquanto isso, alguns veículos continuam produzindo fakenews diariamente sem serem perturbados.
— Fabio Wajngarten (@fabiowoficial) May 27, 2020
Recentemente, o titular da Secom se envolveu na polêmica da veiculação ou não de anúncios de empresas em sites que disseminam desinformação. Ele agiu para fazer o Banco do Brasil voltar a anunciar em um site acusado de produzir fake news, decisão já anulada pelo Tribunal de Contas da União.
O assessor de Bolsonaro Arthur Weintraub, que é irmão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi o mais enfático em sua mensagem, e disse, sem ser específico, que está agindo para ajudar os que sofrem com “essa verdadeira ditadura que se vive hoje no Brasil”.
Eu me solidarizo com todos que estão sofrendo com essa verdadeira ditadura que se vive hoje no Brasil. Acreditem, estou fazendo o máximo que posso para ajudar em tudo o que posso. Contem comigo até o fim. Não vamos nos entregar!
— Arthur Weintraub (@ArthurWeint) May 27, 2020
Mais cedo, ao prestar solidariedade aos alvos de ação, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, comparou a operação à perseguição dos judeus pela Alemanha nazista.
Palavras de Moraes
Ao autorizar a operação, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que as investigações apontam para um esquema de propagação de notícias falsas, financiado por empresários.
“Aparentemente, estaria sendo financiada por empresários que, atuando de maneira velada, fornecem recursos das mais variadas formas para os integrantes dessa organização, inclusive impulsionando vídeos e materiais contendo ofensas e notícias falsas com o objetivo de desestabilizar as instituições democráticas e a independência dos Poderes”, escreveu.
Dessa forma, o ministro mandou levantar o sigilo bancário e fiscal de quatro pessoas, entre elas Luciano Hang, dono da Havan, e Edgar Gomes Corona, proprietário da rede de academias Smart Fit.