Assassinato de Marielle coloca intervenção no Rio em xeque
Planalto se mobilizou para tentar reduzir o desgaste relacionado à atuação dos militares no estado
atualizado
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Os benefícios políticos que o governo esperava ter com a intervenção no Rio de Janeiro podem estar comprometidos. Após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, o Planalto se mobilizou para tentar reduzir o desgaste relacionado à atuação dos militares no estado. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo.
Segundo a reportagem, a ordem dos auxiliares do presidente da República, Michel Temer (MDB), é ecoar o discurso de que o governo está atuando para resolver o crime o quanto antes e que a morte da vereadora não vai abalar a credibilidade da intervenção.Na avaliação do Planalto, é preciso mostrar resultado rapidamente – ou seja, os investigadores têm que encontrar os culpados pelo assassinato de Marielle em pelo menos 48 horas – para evitar que uma crise se instale em definitivo. “Precisamos continuar atuando para mostrar que estamos combatendo o crime. Não vai haver recuo”, disse o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral).
O principal temor do governo federal é que a repercussão dos assassinatos de Marielle e de seu motorista coloquem em xeque a eficácia da intervenção. O presidente convocou uma reunião no Palácio Planalto e deu início à estratégia para tentar salvar o cunho político da medida.
Na presença de seus principais conselheiros, Moreira Franco, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional), além do ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, Temer decidiu enviar ao Rio Raul Jungmann (Segurança Pública) e o diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro. Gustavo Rocha, titular de Direitos Humanos, já tinha uma reunião marcada na capital fluminense e se juntou ao grupo.
Em seguida, Temer fez um discurso em que comunicou a viagem dos ministros e disse que é preciso “acabar com esse banditismo desenfreado que se instalou por força das organizações criminosas”. “Estamos no Rio para restabelecer a paz”, completou.
Desde a noite desta quarta-feira (14), o presidente queria mostrar ação prática e havia informado, via redes sociais, que colocaria a PF à disposição para auxiliar nas investigações do crime.
Violência no Rio
Marielle Franco, 38 anos, foi morta na noite de quarta (15), com o motorista Anderson Pedro Gomes, 39, quando voltavam de uma roda de conversa intitulada “Jovens Negras Movendo Estruturas”. O carro em que estavam foi atingido por nove tiros. A polícia trabalha com a hipótese de execução. Uma assessora que estava no banco de trás, Fernanda Chaves, sobreviveu.
O assassinato da vereadora ocorreu dois dias antes de a intervenção federal na segurança pública do estado completar um mês. A medida, inédita, foi anunciada por Temer em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.
Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe das forças de segurança do estado, como se acumulasse, sob o seu comando, as secretarias da Segurança Pública e de Administração Penitenciária com as polícias Militar, Civil, bombeiros e agentes carcerários.