metropoles.com

Articulação abala confiança na reforma da Previdência, dizem analistas

Na visão de economistas e parlamentares, atritos entre Maia e Bolsonaro atrapalham andamento da proposta da Previdência

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Daniel Ferreira/Metrópoles
Diplomação Jair Bolsonaro
1 de 1 Diplomação Jair Bolsonaro - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

A rusga entre o governo Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocou em risco a articulação do parlamentar pela reforma da Previdência, assustou o mercado e reduziu o otimismo de analistas políticos e econômicos com a aprovação daquela que é a considerada a mais importante das reformas.

Na semana passada, Maia já demonstrava insatisfação com a atitude do governo em relação à reforma. Neste sábado (23/3), o clima entre Jair Bolsonaro (PSL) e o parlamentar esquentou, com mais troca de farpas entre os dois políticos. O desgaste já tinha pesado no mercado financeiro na semana passada – após ter atingido a marca histórica de 100 mil pontos na última segunda-feira (18), a Bolsa caiu 3,1% na sexta-feira (22) e o dólar atingiu R$ 3,90, recorde no ano.

“O que mais espanta é a inabilidade do presidente da República. Temos de estar prontos para o fracasso da reforma, coisa que não estava no radar. Temos de aceitar que esse governo pode não ter condições de tocar um projeto tão ambicioso”, diz o ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros.

“Essa briga é assustadora. Não faz sentido antagonizar com o presidente da Câmara. O governo quer aprovar a reforma ou não?”, questiona o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman. “O governo brinca com fogo. Se a economia for muito abaixo do R$ 1 trilhão esperado para a próxima década, o país estará em apuros.”

Apesar de fundamental para a saúde fiscal do país, a reforma da Previdência fere os interesses de vários grupos que votaram em Bolsonaro, como militares e parte do funcionalismo público, diz o cientista político do Insper Carlos Melo. “O governo vive nesse estado de ambiguidade, porque é apoiado tanto por esses grupos quanto pelo mercado. Mas ele não pode operar com sinais trocados para sempre, terá de escolher um lado.”

Para o também cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, a falta de coesão dos grupos que apoiam o bolsonarismo e a dificuldade que o presidente tem em aglutinar forças para criar uma base estável agora cobram um preço. “Ficou mais claro que o governo precisa mudar seu modo de agir.”

Processo
Apesar da preocupação dos analistas, o economista da PUC-Rio José Marcio Camargo afirma que as rusgas na articulação da reforma são naturais e parte do processo de negociação política. “Faz parte do jogo. Maia está tentando se posicionar e ganhar um pouco mais de voz e espaço neste momento. É fundamental que o presidente da Câmara esteja na articulação e Bolsonaro sabe disso. Essa indisposição vai passar.”

“É claro que é um ruído desnecessário e que causa volatilidade, mas as pessoas se esquecem de como foram os outros processos de mudanças na Previdência. Mesmo com esses últimos dias, acho que haverá pouca desidratação da proposta e que grande parte do texto original vai passar”, diz Camargo.

‘Presidente não quer ônus’
O atrito entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que abalou a articulação política pela mudança na Previdência, deve emperrar o avanço da proposta feita pelo ministro Paulo Guedes, avalia o economista da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

A saída do presidente da Câmara da articulação pela reforma pode enfraquecer a proposta?
A reforma, como havia sido pensada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, “subiu no telhado”. O governo já começou errado, colocando a questão de aprovar um BPC (Benefício de Prestação Continuada) menor que um salário mínimo. Depois, veio a reforma dos militares, que deixou claro o favorecimento. Agora, com o atrito entre Bolsonaro e Maia, não tem mais clima.

Essas questões não seriam negociadas naturalmente?
Sim. O problema é que a mudança do BPC e a questão dos militares destruíram o consenso. Foi uma completa inabilidade política, do ministro Paulo Guedes e do presidente. Além disso, o próprio presidente demonstrou pouca vontade de fazer a reforma. Ele sabe que é preciso fazer uma reforma, mas não quer o ônus político.

O que pode acontecer com o país, caso a reforma não passe?
Eu acho que vai ter uma turbulência. Os mercados estavam iludidos com a capacidade de articulação do governo e o Bolsonaro não deve voltar atrás. Isso deve aprofundar a crise de governabilidade, que o próprio governo parece ter instalado. Bolsonaro pode repetir os últimos meses do governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

A não aprovação prejudicaria a recuperação da economia?
Não mexer na Previdência prejudica no longo prazo. Alguém vai precisar fazer. Mas a reforma que é prioritária para aquecer a economia é a tributária, que daria competitividade à indústria. Só não creio que esse governo consiga mexer nisso.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?