Após escândalo de áudios, Arthur do Val renuncia a cargo de deputado
Conhecido como Mamãe Falei, o parlamentar disse em grupo de WhatsApp que refugiadas da Ucrânia “são fáceis, porque são pobres”
atualizado
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São Paulo – O deputado Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, renunciou, nesta quarta-feira (20/4), a seu mandato como deputado estadual em São Paulo. Após a divulgação de áudios sexistas, revelados pela coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, ele se via no meio de um processo de cassação na Assembleia Legislativa (Alesp).
No último dia 12/4, o Conselho de Ética já havia decidido pela cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar. A decisão seguiria ao plenário, provavelmente no fim do mês.
Em nota, Arthur explicou a decisão: “Sem o mandato, os deputados agora serão obrigados a discutir apenas os meus direitos políticos, e vai ficar claro que eles querem na verdade é me tirar das próximas eleições”, disse. “Estou sendo vítima de um processo injusto e arbitrário dentro da Alesp. O amplo direito à defesa foi ignorado pelos deputados, que promovem uma perseguição política.”
“Vou renunciar ao meu mandato em respeito aos 500 mil paulistas que votaram em mim, para que não vejam seus votos sendo subjugados pela Assembleia. Mas não pensem que desisti, continuarei lutando pelos meus direitos.”
Áudios
Na Ucrânia, sob o pretexto de auxiliar a resistência local contra a invasão russa, o ex-deputado estadual enviou áudios a colegas do Movimento Brasil Livre (MBL).
Nas mensagens enviadas no início de março, às quais a coluna de Igor Gadelha teve acesso, o parlamentar afirma que as refugiadas que ele encontrou na fronteira entre a Eslovênia e a Ucrânia “são fáceis, porque são pobres”. Diz também que a fila de baladas brasileiras “não chega aos pés da fila de refugiados aqui”. Ouça:
“Vou te dizer, são fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’, e é inacreditável a facilidade”, explicou ele, antes pré-candidato ao governo de São Paulo nas eleições deste ano.
“Só vou falar uma coisa para vocês: acabei de cruzar a fronteia a pé aqui, da Ucrânia com a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’ bonita. A fila das refugiadas… Imagina uma fila, sei lá, de 200 metros, só deusa. Sem noção, inacreditável, fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”, afirmou.
Em outro trecho das mensagens, Mamãe Falei baixa ainda mais o nível e diz ter encontrado garota que, “se ela cagar, você limpa o cu dela com a língua”. “Mano, estou mal. Passei agora, quatro barreiras alfandegárias, duas casinhas pra cada país. Eu contei, são 12 policiais deusas. Que você casa e faz tudo que ela quiser. Eu estou mal, cara, não tenho nem palavras para expressar. Quatro dessas eram minas que, você, se ela cagar, você limpa o cu dela com a língua. Inacreditável. Assim que essa guerra passar, eu vou voltar para cá”, disse.
Cassação
Durante a sessão do Conselho de Ética que aprovou sua cassação, em 12/4, Arthur do Val (União) disse que o processo não é pelo que ele falou, e, sim, por quem ele é. “A verdade é que todos aqui me odeiam”, afirmou.
Por unanimidade, o conselho decidiu que Mamãe Falei quebrou o decoro parlamentar ao proferir falas sexistas sobre mulheres ucranianas. Em sua manifestação, o político analisou que “o regimento foi atropelado” por conta da rapidez do processo, e disse que suas atitudes como parlamentar é que provocaram este resultado – e não as falas sobre as mulheres.
Ele admitiu que errou, mas disse que “não vão cortar sua cabeça” e nem destruir o que ele está fazendo.
“Não é pelo que eu falei, é por quem eu sou. A a eleição é em outubro, vamos ver o resultado em novembro? Porque se vocês querem destruir o que eu estou fazendo, sinceramente este não é o caminho”, garantiu. “Eu quero pedir desculpas às mulheres que se sentiram ofendidas, mas eu deixo claro o seguinte: vocês vão cortar minha cabeça, mas vão nascer mais no lugar”.