“Arrogante, oportunista, exótico”: irmãos Gomes atacam atual governo
Ex-presidenciáveis e parlamentares se encontraram para discutir 100 dias da gestão Bolsonaro
atualizado
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A reforma da Previdência e o inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar fake news foram alvo de críticas dos ex-presidenciáveis Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) e dos senadores Randolfe Rodrigues (Rede) e Cid Gomes (PDT). Opositores do presidente Jair Bolsonaro (PSL), eles demonstraram preocupação com as decisões e tendências do governo.
Os políticos se encontraram nesta terça-feira (23/04/2019) na sede do Interlegis – programa de modernização e integração do Poder Legislativo –, em Brasília, durante seminário que debateu os resultados dos 100 primeiros dias de gestão do pesselista. A mediação do debate é do repórter do Metrópoles Eumano Silva.
Ciro criticou a postura do governo Bolsonaro, que chamou de “arrogante”. “Temos que aprender com os amigos caminhoneiros, que estão fazendo o governo se embolar nas contradições de uma agenda econômica neoliberal”, iniciou.
Marina Silva adotou o mesmo tom. “Estamos avaliando um governo com uma forte regressão de agendas que são estratégicas para o Brasil e estamos patinando na economia. É um governo que ameaça não demarcar um centímetro de terra indígena, isso é retrocesso, enfraquecimento e empobrecimento político”, criticou.
Randolfe acredita que essa é a pior candidatura a se eleger até agora e chega aos 100 dias sem feitos para mostrar. “Representava o pior e era o mais despreparado. Temos retrocessos em todas as áreas. Olha o desemprego, o meio ambiente, os direitos humanos”, apontou.
Cid reclamou do “despreparo” da equipe. “Como não tinha uma agenda para o país, encostaram na candidatura de Bolsonaro, o Paulo Guedes, liberal convicto, e o Sergio Moro, que é oportunista. Eles necessitam improvisar”, ponderou.
O senador citou como exemplos ruins três ministros, que chamou de “figuras exóticas”. “Essa gente dos ministérios das Relações Exteriores [Ernesto Araújo] e dos Direitos Humanos [Damares Alves], e o ex da Educação [Vélez Rodríguez] é toda despreparada”, criticou.
Previdência entra no alvo
As avaliações vêm no mesmo dia que a admissibilidade da reforma da Previdência proposta por Bolsonaro é votada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Para Marina, as mudanças na aposentadoria são necessárias, mas a proposta do presidente não é adequada. “A reforma deve ser sustentável, justa e inclusiva. A que foi apresentada por Bolsonaro não tem essas características. Um se beneficia em detrimento do outro. O governo fez uma proposta que os mais frágeis serão os mais penalizados”, reclamou, citando como exemplo a aposentadoria rural.
Ciro, durante as eleições, defendeu o sistema de capitalização, mesma alternativa encampada por Bolsonaro. Contudo, segundo ele, a proposta que vai para votação não resolve o problema previdenciário. “Capitalização não significa privatização. Ela pode e deve ser pública, não pode ser como eles estão propondo, sem a participação patronal. Isso é injusto e danoso”, criticou.
Como congressista, Randolfe reclamou da falta de transparência. “Estamos diante de um dilema. Paulo Guedes disse que há um deficit de R$ 1 trilhão. Depois, eles colocam as informações em sigilo”, avaliou.
Censura do STF
Ciro, Marina e Randolfe também criticaram a investigação aberta pelo STF para apurar ameaças e a disseminação de notícias falsas contra integrantes da Corte e seus familiares. O inquérito envolve a censura a uma revista e a dois sites e teve início após determinação do presidente do STF, Dias Toffoli, com condução do ministro Alexandre de Moraes.
Ciro foi incisivo. “Toffoli e Alexandre de Moraes andaram em grave erro. E eles sabem disso. Isso [inquérito] é ilegal. Se usam das ferramentas democráticas para censurar, perseguir. É só seguir a Constituição e penalizar cada um com seus excessos. Temos a liberdade de expressão e imprensa”, resumiu.
Na perspectiva de Randolfe, o inquérito é um “excesso autoritário”. “O que há ali é excrescência dos termos constitucionais. Por mais divergências que se tenha, a liberdade de expressão é suprassumo. Isso deve ser condenado. A liberdade de expressão deve ser defendida a todo custo”, defendeu.
Marina cobrou o cumprimento da Constituição. “Esse é um episódio lamentável. Quem está no topo da Justiça não pode violar a Constituição. Houve uma extrapolação, e o Supremo jamais poderia consentir disso”, encerrou.