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Armas de fogo: sem restrição, tutoriais se espalham pelo YouTube

Conteúdos sobre como manusear, montar e desmontar armas, melhorar precisão, entre outras técnicas, são facilmente achados no YouTube

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Tutorial de arma de fogo no YouTube - Metrópoles
1 de 1 Tutorial de arma de fogo no YouTube - Metrópoles - Foto: Reprodução/YouTube

Em novembro, um adolescente de 16 anos invadiu duas escolas na região de Aracruz, no Espírito Santo, e abriu fogo contra alunos e funcionários, deixando quatro mortos e 13 feridos. O autor do atentado portava duas pistolas que pertenciam ao pai, um policial militar. Em depoimento, o atirador disse ter se preparado para o ataque por meio de vídeos na internet. A polícia ainda investiga a versão, mas a realidade é que conteúdos sobre armas de fogo circulam sem restrição na maior plataforma de vídeos do mundo, o YouTube.

Em uma pesquisa simples, é possível encontrar tutoriais sobre como montar e desmontar os equipamentos, dicas para manusear, empunhar, melhorar a precisão, entre outras técnicas. O Metrópoles encontrou ao menos 25 canais produzindo esse tipo de conteúdo no Brasil. Juntos, eles acumulam mais de 6 milhões de inscritos.

Em geral, os perfis são comandados por instrutores de tiro, caçadores, esportistas e colecionadores de arma de fogo. Além de trazer tutoriais, os canais também divulgam cursos, abordam questões de legislação, política e fazem reviews de equipamentos. Parte dos vídeos não apresentam nenhum tipo de restrição de idade.

De acordo com a política do YouTube, é proibido publicar conteúdo com a finalidade de vender ou instruir sobre a fabricação de armas de fogo, munições e acessórios, além da instalação dos mesmos. Também são vedadas as transmissões ao vivo com pessoas segurando, manuseando ou transportando o equipamento.

Em 2017, a plataforma baniu vídeos que ensinavam a modificar armas com um acessório chamado “bump stock”, que permite disparos mais rápidos. A mudança ocorreu após um atirador usar o dispositivo para atirar contra uma multidão que participava de um festival de música em Las Vegas, nos Estados Unidos. O atentado deixou 60 mortos. Até então, tutoriais de modificação circulavam livremente pelo site.

Questionamento

A reportagem questionou a plataforma sobre a possibilidade de expandir a restrição a conteúdos armamentistas, diante do caso recente em Aracruz. Em resposta, o YouTube afirmou que as políticas são revisadas constantemente “para garantir que reflitam as mudanças dentro e fora da plataforma”.

“Trabalhamos para que essas regras acompanhem discussões atuais, com o objetivo de evitar danos graves no mundo real. Acreditamos no debate aberto e na liberdade de expressão, e temos o cuidado de monitorar conteúdo que pode causar danos graves aos nossos usuários ou à plataforma”, diz.

Em relação à restrição de idade, a empresa argumentou que o filtro é aplicado em casos de “conteúdo explícito ou violento, linguagem vulgar, nudez, apelo sexual, risco à segurança infantil, entre outros”. No entanto, não menciona as publicações sobre armas de fogo.

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Vídeos são feitos por instrutores, caçadores e colecionadores
Política da plataforma não proibe esse tipo de conteúdo
O Metrópoles encontrou ao menos 25 canais com tutoriais
Atirador de Aracruz disse ter aprendido a atirar com vídeos na internet
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Tutoriais sobre o manuseio de armas de fogo circulam pelo YouTube sem restrição

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Vídeos são feitos por instrutores, caçadores e colecionadores

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Política da plataforma não proibe esse tipo de conteúdo

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O Metrópoles encontrou ao menos 25 canais com tutoriais

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Atirador de Aracruz disse ter aprendido a atirar com vídeos na internet

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Massacres

As plataformas digitais ainda são falhas no sentido de coibir conteúdos com potencial de gerar atos violentos, avalia Bruno Langeani, gerente de projetos do instituto Sou da Paz. Segundo ele, a internet é um dos fatores que tem contribuído para a ocorrência de massacres em massa.

“Esse ambiente de digital, em meio à radicalização da extrema direita, tem cooptado muitos jovens, especialmente do sexo masculino”, explica o especialista. As redes, aliadas à flexibilização do acesso às armas de fogo e a falta de socialização dos estudantes, sobretudo no contexto da pandemia, são elementos que podem impulsionar ataques.

Um levantamento do instituto apontou que o Brasil registrou 12 atentados a tiros em escolas nos últimos 10 anos. Destes, cinco casos ocorreram durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), quando houve uma maior flexibilização da legislação sobre armas.

Aumento

O número de brasileiros com registro de CAC aumentou 472,6% nos últimos quatro anos, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A quantidade de registros de clubes de tiros saltou de 163, em 2018, para 348, em 2021, um aumento de 113%, como mostrou a coluna do Rodrigo Rangel em reportagem de setembro.

Os casos levantados pelo estudo do instituto ocorreram em nove estados: Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba, Goiás, Paraná, Minas Gerais, Ceará e Espírito Santo, e deixaram 33 mortos.

Para Langeani, a moderação de tutoriais envolvendo armas de fogo precisa ser aprimorada. “As plataformas têm pouca filtragem, não fazem qualquer controle de idade a vídeos que ensinam a manusear armas, usar armas, atirar. Isso, de fato, gera um problema de segurança pública”, opina.

“O que tem de restrição é muito pouco, uma baliza muito baixa. A gente vê até propaganda sobre armas de fogo, não sinalizada como publicidade, mas é uma propaganda. E as plataformas não têm condições de fazer essa filtragem. Os controles de idade, que são muito falhos. Qualquer adolescente consegue driblar a checagem de idade e entrar em conteúdos destinado a maiores de 18 anos.”

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