Áreas ocupadas por favelas no Brasil dobraram desde 1985
O processo de favelização cresceu em maior proporção no Norte e no Nordeste. Além disso, 13% das ocupações invadiram locais de preservação
atualizado
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A área total de favelas no Brasil dobrou entre 1985 e 2020. No período, a extensão de moradias informais avançou 2,1 milhões de hectares para 4,1 milhões de hectares. Esse aumento equivale a três vezes a área de Salvador, na Bahia, ou 11 vezes à área de Lisboa, em Portugal.
O total dos aglomerados informais representa 4,66% dos 2,1 milhões de hectares urbanizados no país nos últimos 36 anos. Essas regiões são formadas por pessoas sem posse de terra, morando na informalidade, com coleta de lixo precária, muitas vezes sem saneamento e em locais de risco.
Nas regiões Norte e Nordeste, os espaços urbanos informais passaram a existir onde não eram encontrados, com crescimento territorial em alguns estados de até 93%, como é o caso de Rondônia.
Os dados fazem parte de um levantamento inédito sobre áreas urbanizadas feito a partir de imagens de satélite captadas entre 1985 e 2020, por meio da plataforma MapBiomas. A iniciativa multi-institucional envolve universidades, organizações não governamentais e empresas de tecnologia, focadas em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil.
“De maneira geral, houve um processo de urbanização precária em uma área muito grande. Onde já tinha favela houve crescimento, e onde não tinha, também. Grande parte desse processo de favelização ocorreu nas regiões Norte e Nordeste. São ocupações precárias, em áreas de risco, nas quais a população fica sujeita às alterações climáticas. São dados preocupantes”, afirmou um dos coordenadores do mapeamento de áreas urbanizadas da MapBiomas, Júlio Cesar Pedrassoli.
Ocupações informais
Nas duas grandes capitais da Região Norte, a informalidade tem sido regra nas últimas três décadas e meia. Nos dois casos, os percentuais se mantêm acima dos 50%. Belém tem 51% de sua área urbanizada ocupada por favelas, enquanto em Manaus esse percentual é de 48%.
No Amazonas, a informalidade responde por 45% da área urbanizada; no Amapá, 22%; no Pará, 14%; e no Acre, 12,6%. Apenas o Espírito Santo, com 21,5%, tem maior participação da informalidade no total de área urbanizada de seu território do que os estados da Amazônia.
Ao analisar o quanto da área total urbanizada é ocupada por favelas, Manaus, Belém e Salvador se destacam. Isso considerando os agrupamentos formados após 1985. O Rio de Janeiro, por exemplo, continua tendo a maior favela da América Latina, a Rocinha, com 838 mil metros quadrados.
Áreas de risco
A expansão urbana vista por satélites aponta que 13% ocupações ocorreram em áreas de preservação ambiental (APPs), destruindo grande parte do bioma natural e colocando a população em risco. “Alguns locais estão sujeitos a enchentes, desabamentos. Esse mapeamento é importante até para a segurança da população”, completa Júlio Cesar Pedrassoli.
As imagens de satélite disponíveis na MapBiomas mostram ocupações em locais com declive maior que 30%, ou seja, mais sujeitos a deslizamentos. Eles estão localizados, predominantemente, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo.
As residências instaladas nessas áreas têm padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais (água, esgoto e coleta de lixo regulares, por exemplo) e risco de deslizamentos, enchentes ou alagamentos.
“A combinação desses dois dados deve acender uma luz amarela para os gestores públicos, porque eles criam as condições perfeitas para desastres urbanos”, explica Júlio Cesar Pedrassoli.