Aquecimento e acidez no mar preocupam especialistas no Dia do Oceano
O oceano perdeu 2% do oxigênio. Uma das causas é o aquecimento das temperaturas do mar, diz relatório da Unesco
atualizado
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A celebração neste sábado (8/6) do Dia Mundial do Oceano traz preocupações a pesquisadores. As taxas de aquecimento e a elevação do nível das águas do mar são motivo de alerta. O relatório “State of the Ocean Report” apontou que o nível do mar avançou 9 centímetros nos últimos 30 anos, e a taxa de aquecimento do oceano dobrou em um período de 20 anos.
O relatório foi divulgado pela Unesco, na última segunda-feira (3/6). Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, pede para que os “Estados-membros invistam na restauração de florestas marinhas e regulamentem melhor as áreas marinhas protegidas”.
A Unesco explica que as consequências em relação às águas do mar ocorrem porque o oceano absorve 90% do calor excessivo liberado na atmosfera. E, à medida que aquece, a água se expande. Embora 25% do fundo do oceano seja mapeado, o aquecimento em zonas mais fundas já ocorre em ritmo sem precedentes.
O documento mostra uma velocidade cada vez mais alarmante para a temperatura média dos oceanos. As águas esquentaram 0,4°C ao longo da década passada e outros 0,4°C desde 2023.
Falta de oxigênio
O relatório aponta que, desde 1960, o oceano perdeu 2% do oxigênio, causado pelo aquecimento das temperaturas e os poluentes, incluindo águas residuais e escoamento superficial agrícola.
Os oceanos absorvem entre 25% a 30% das emissões de dióxido de carbono causadas pela queima de combustíveis fósseis.
O relatório afirma que as espécies costeiras serão as mais afetadas com a acidificação dos oceanos, que aumentou em 30% e acredita-se que pode alcançar 170% até 2100. Uma das consequências desse processo é que os moluscos desenvolvem conchas mais finas e se reproduzem menos.
“Febre do Oceano” agravou as chuvas no Rio Grande do Sul
O aquecimento acelerado do mar foi um dos agravantes das fortes chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. A Unesco alerta para o risco catastrófico da chamada “febre do oceano” para as zonas costeiras no Brasil e no mundo. Na prática, os mares mais quentes provocam chuvas cada vez mais intensas. Os dados atualizados da temperatura média diária do oceano mostram que, ao longo de 2024, estamos com temperaturas ainda mais quentes que em 2023.
O professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo e participante do relatório Ronaldo Christofoletti explica que o aumento do nível do mar intensifica os impactos de “ressaca” que atingem o litoral e gera prejuízos a várias cidades brasileiras. Como a situação recente enfrentada pelo estado do Rio Grande do Sul, com chuvas extremas.
O estado gaúcho enfrentou enchentes entre o final de abril e o começo de maio. Quase 500 municípios foram afetados e houve 172 mortes, segundo o boletim divulgado nessa sexta-feira (7/6). O cenário da tragédia foi agravado pelo relevo do estado, que conta com áreas que ficam a poucos metros do nível do mar. Porto Alegre fica a uma altitude média de 10 metros.
A hidrografia da região também é um fator, já que a água do lago Guaíba vai para a Lagoa dos Patos e, depois, segue para o Oceano Atlântico.
Com as fortes chuvas e as cheias da região, o lago chegou a atingir o nível de 5,3 metros.
Além disso, o estado foi atingido por fortes ventos, o que dificultou o escoamento da água para o mar.
A pesquisa conduzida pela Climate Central, organização sem fins lucrativos, baseada em fatos da Nasa, indica que diversas cidades brasileiras podem ficar submersas até 2100. Entre os locais afetados estão Cabo Frio (RJ), Belém (PA), Ilha do Marajó (PA), Oiapoque (AP), Porto Alegre (RS), Santos (SP), Fortaleza (CE) e Pelotas (RS).
Mudança no cenário
O relatório aponta o Brasil como líder mundial em projetos endossados pela Unesco em 2024.
“Isso demonstra que uma série de iniciativas de universidades, governo, sociedade civil, jornalistas e comunicadores têm contribuído para que a nossa sociedade possa compreender a sua relação com o oceano e trabalhar para uma mudança de comportamento em prol da sustentabilidade”, afirma Christofoletti.
A Unesco evidencia a importância de aumentar o nível de regulamentação em Áreas Marinhas Protegidas, conhecidas por proteger a biodiversidade, abrigar 72% das 1.500 espécies marinhas ameaçadas da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).