Após sofrer ameaças, Doria se muda para Palácio dos Bandeirantes
O governador João Doria afirma que ele e sua família têm sido alvo de “fanáticos extremistas”
atualizado
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São Paulo – O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), comunicou, na tarde desta segunda-feira (29/3), que se mudou ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, após ameaças.
Há uma semana, o tucano afirmou que ele e sua família têm sido alvo de “fanáticos extremistas”. Desde o início da pandemia, foram inúmeros protestos nas ruas e em frente à casa onde vivia, no Jardim Europa, contra as ações do governo estadual no combate ao coronavírus.
“É uma decisão difícil, mas necessária nesse momento de muita intolerância ao pensamento contraditório, de belicismo verborrágico e de cegueira ideológica”, disse, em nota (confira a íntegra abaixo). O governador compara a situação que vive com a ditadura militar. Na época do regime, ele acompanhou seu pai em viagem de exílio.
À frente do governo, Doria decretou que todo o estado de São Paulo entrasse na fase vermelha no início do ano, restringindo o funcionamento de atividades não essenciais, como bares e restaurantes.
Atualmente, os 645 municípios estão na fase emergencial, ainda mais restritiva. Nela, bares e restaurantes podem fazer apenas entregas ou retiradas em carros. Escolas, no entanto, são consideradas essenciais e podem abrir. A medida vale até 11 de abril.
Histórico de ameaças
No início de março, Doria solicitou apoio policial após desmentir um vídeo de suposta aglomeração feita pelo filho mais velho do governador. Em outra polêmica, o governador de São Paulo visitou a atriz Mariana Rios, acusada de promover uma festa.
Em 14 de março, manifestantes foram à Avenida Paulista pedir o impeachment de Doria. O pedido de intervenção militar também foi feito por centenas de pessoas.
Em fevereiro, um dono de restaurante foi preso depois de anunciar que pagaria um ano de churrasco grátis “pra quem matar o João Doria Jr.”
Confira a nota abaixo:
“O negacionismo na pandemia deixou de ser um delírio das redes sociais, provocado pela paixão política, e está se tornando algo muito mais perigoso para a vida, a ciência e a democracia: uma seita intolerante e autoritária.
Tenho enfrentado os seguidores dessa seita com inquéritos policiais e ações judiciais, com medidas sanitárias e vacinas, instrumentos da lei e da razão.
O fanatismo ideológico, porém, ignora a racionalidade e a legalidade. Ele tem ultrapassado os limites do embate político e do questionamento técnico com ameaças à segurança da minha família e agressivas manifestações na porta da minha residência, perturbando o bairro e vizinhos.
Diante do radicalismo, decidi me mudar para o Palácio dos Bandeirantes. Ao menos, temporariamente. Regredimos a tempos obscuros em que a integridade física daqueles que defendem a vida e a democracia está sob ameaça.
Vivi esse mesmo sentimento quando acompanhei meu pai no exílio, um democrata cassado pela ditadura. Dessa vez, no entanto, não haverá exílio, nem ditadura. Haverá ciência, vacinas, vidas salvas e democracia.
Meu desprezo por estes extremistas que ameaçam a mim, a minha família e ameaçam pessoas que defendem a vida. É uma decisão difícil, mas necessária nesse momento de muita intolerância ao pensamento contraditório, de belicismo verborrágico e de cegueira ideológica.”