Após massacre, Suzano escurece sob as cinzas de crianças mortas
Enquanto tentam entender motivo da barbárie, moradores se unem em vigília e orações. Nesta quinta, vão velar seus mortos
atualizado
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Enviado especial a Suzano (SP) – Sob a dor do luto, o município de Suzano, a 50 km da capital paulista, ainda não dormiu. Após uma missa no final do dia dessa quarta-feira (13/3), a comunidade passou a noite em vigília (foto em destaque e imagens abaixo) em frente ao Colégio Estadual Professor Raul Brasil. Pela manhã, dois ex-alunos da instituição atacaram a tiros e golpes de machado estudantes e servidores.
Nesta quinta (14), a cidade se prepara para velar e enterrar seus mortos: foram cinco alunos e duas funcionárias do colégio. Antes deles, tombou alvejado por tiros um comerciante, tio de um dos assassinos. Além de tirar a vida do parente, o jovem de 17 anos atirou no comparsa de 25 anos e depois se matou, elevando para 10 o total de mortos. Duas dezenas de moradores da cidade no interior paulista ficaram feridos, vítimas da dupla assassina.
Chocada, a população tenta entender o horror da tragédia. Há barreiras policiais e equipes de reportagem por toda a parte. Todos procuram a resposta para a mesma pergunta: o que motivou um ataque com tamanha fúria?
A microempreendedora Helena Maria Oliveira Quaresma, de 56 anos, vive há mais de três décadas na cidade. Está em choque com o que aconteceu nessa quarta. “Será que a gente que vive aqui vai conseguir [voltar a] dormir?”, pergunta, estarrecida. “Os filhos dos meus vizinhos, de meus conhecidos, dos meus parentes, estudam ou em algum momento estudaram aqui. É muito triste ver o que está acontecendo”, lamenta.
Confira fotos das mobilizações na noite de quarta-feira:
A tragédia fez o ajudante de pedreiro Airton Luiz da Silva, de 22 anos, mudar a rota traçada para o futuro. Após ter interrompido os estudos há quatros anos, ele tentava uma vaga na educação de jovens e adultos (EJA) oferecida na Professor Raul Brasil. Após o ataque, não quer mais se matricular ali. “Eu fico pensando que poderia ser eu se tivesse estudando aí. Jamais imaginei que isso poderia acontecer. Passou um filme na cabeça, filme de terror”, revelou.
Felipe Henrique Gagliasso Lucas, de 18 anos, estudou no colégio até o ano passado. Ele conta que a rotina era de tranquilidade e a escola, um universo receptivo. “Uma vez recebemos um estudante que sofria bullying e fizemos uma festa pra ele. Não tinha essa de um machucar o outro”, destacou.
No fim da tarde dessa quarta, ele participava de uma corrente de oração numa rua próximo à instituição de ensino. “É estranho para mim. O que aconteceu não combina com o que eu vivi no colégio”, disse, antes de a voz ficar embargada pela emoção.