Após escalada de violência, Brasil terá força-tarefa com Paraguai contra crime organizado
Em duas semanas, 17 pessoas foram assassinadas na região da fronteira. Serviços de inteligência agirão em parceria
atualizado
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Na tentativa de frear a escalada da violência na fronteira entre o município sul-mato-grossense de Ponta Porã e o paraguaio Pedro Juan Caballero, os governos do Brasil e do Paraguai anunciaram um ação conjunta entre as forças de segurança do país vizinho e a Polícia Federal brasileira, como parte do que as autoridades paraguaias chamaram de Operação Soberania, para combater o crime organizado e o narcotráfico.
Como parte da ofensiva, o governo paraguaio decidiu concentrar agentes de segurança na região de fronteira, principalmente em Pedro Juan Caballero e Capitán Bado. A ação prevê um “comando conjunto” entre as polícias paraguaia e brasileira.
Em entrevista ao Metrópoles, o secretário de Segurança Pública sul-mato-grossense, delegado Antonio Carlos Videira (foto em destaque), adiantou que o grupo cruzará informações dos serviços de inteligência para mapear os crimes, identificar mandantes e prevenir novas investidas.
Uma sequência de ataques que deixou ao menos 17 mortos em duas semanas reacendeu o sinal de alerta. Narcotráfico e disputa por território entre quadrilhas são as principais suspeitas das autoridades de segurança.
A fronteira faz parte de rotas de comércio ilegal e é disputada por grupos criminosos do tráfico de armas, drogas, contrabando e outras contravenções transnacionais. O Primeiro Comando da Capital (PCC) atua na região.
A força-tarefa prevê a ação conjunta da Polícia Federal (PF) brasileira, da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, da Polícia Nacional Paraguaia, da Força de Operações Policiais, entre outros órgãos. As tratativas ocorrem por intermédio do Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
“As agências de inteligência estão operando em fina sintonia”, disse o secretário, sem revelar detalhes, nesta quarta-feira (13/10)
Para o leitor ter dimensão da ação criminosa, somente no feriado prolongado de Nossa Senhora Aparecida três ataques deixaram seis mortos (veja detalhes no fim da reportagem).
“Sem a Força Nacional”
Apesar das investidas criminosas nos últimos dias, o secretário descarta chamar a Força Nacional para atuar na região. O grupo, normalmente, atua em fronteiras, presídios, reservas ambientais, áreas indígenas, policiamento ostensivo e em situações de Garantia de Lei e da Ordem (GLO).
“Até o momento, não temos essa pretensão, pois as mortes foram em território paraguaio e nossas forças policiais reforçaram a segurança de Ponta Porã até Sete Quedas. O homicídio que houve no lado brasileiro foi do vereador Farid Charbell Badaoui, cuja investigação está sendo conduzida pela Delegacia Especializada de Homicídios”, sustenta Videira.
Policiamento reforçado
O estado manterá o policiamento reforçado na região por tempo indeterminado. O incremento de efetivo não pode ser revelado para não atrapalhar a estratégia.
“Manteremos esse reforço por tempo indeterminado e apoiaremos as autoridades do país vizinho incondicionalmente com o fim de reprimir esses crimes, assim como prevenir outros”, frisa o secretário Antonio Carlos Videira.
Presidente paraguaio preocupado
A força-tarefa é o desfecho de uma preocupação pessoal do presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez. Na tarde desta quarta-feira, o ministro do Interior paraguaio, Arnaldo Giuzzio Benítez, anunciou que o mandatário pediu que as forças de segurança fossem “concentradas” no departamento de Amambay.
“Não podemos negar que precisamos de resultados e todo o apoio do presidente para gerar esses resultados em nossa política de segurança são importantes”, destacou Arnaldo Giuzzio Benítez, em comunicado oficial.
Veja detalhes dos crimes ocorridos entre sexta-feira (8/10) e terça-feira (12/10):
- Sexta (8/10): vereador de Ponta Porã Farid Charbell Badaoui Afif (DEM-MS), de 37 anos, foi morto a tiros. Ele estaria sendo monitorado pelos criminosos.
- Sábado (9/10): quatro pessoas foram assassinadas numa rua entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero. Uma das vítimas era filha de Ronald Acevedo, governador do estado de Amambay, no Paraguai.
- Terça (12/10): o policial conhecido como pastor Miltos Duarte foi assassinado em Karapai, cidade paraguaia a cerca de 60 km de Ponta Porã (MS). Ele estava em casa e foi atingido por tiros no tórax.
- Terça 2: Hugo Ronaldo Acosta, de 32 anos, policial paraguaio, foi executado a tiros. Ele foi alvejado com 36 disparos de pistola 9 milímetros.