Após dois anos, PF prende suspeito por morte de Ari Uru-Eu-Wau-Wau
Homicídio de liderança indígena em Rondônia repercutiu até na COP-26, em 2020, num evento que incomodou o governo brasileiro
atualizado
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A Polícia Federal anunciou, na manhã desta quarta-feira (13/7), ter cumprido um mandado de prisão contra um suspeito de ter matado o indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau (imagem em destaque) no dia 18 de abril de 2020. Professor e liderança do povo Uru-Eu-Wau-Wau, de Rondônia, Ari virou alvo de ameaças de madeireiros porque, incomodado com a ausência do Poder Público, fiscalizava o território da etnia ao lado de um irmão e tentava impedir os crimes ambientais.
Ari foi encontrado sem vida e com um ferimento na cabeça caído na margem esquerda da rodovia RO-010, na altura do município do Jaru. A Polícia Civil local começou a investigação, mas, diante das evidências de que a disputa pela terra indígena havia motivado o crime, o caso foi federalizado em maio de 2021 e passou a ser responsabilidade da Polícia Federal. Se passou, então, mais um ano de investigações até a decretação da prisão do primeiro suposto envolvido no crime.
Na operação desta quarta, além da prisão do suspeito, que não teve a identidade divulgada, foi cumprido um mandado de busca e apreensão emitido pela 3ª Vara Federal Criminal. De acordo com o superintendente da PF em Rondônia Rafael Fernandes Souza Dantas, o suspeito já é conhecido pelo envolvimento em outros homicídios na região.
Ainda segundo a PF, o homem já estava preso preventivamente pela prática de outro crime de homicídio, ocorrido aproximadamente oito meses após a morte de Ari.
A corporação ainda não concluiu o inquérito e investiga a motivação do crime.
Repercussão internacional
O homicídio de Ari Uru-Eu-Wau-Wau motivou protestos de lideranças indígenas e seus aliados desde 2020 e foi denunciado ao mundo pela jovem Txai Suruí, do povo Paiter Suruí, também de Rondônia, em um histórico discurso em novembro de 2021 na Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, a COP26, em Glasgow, na Escócia.
“Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza”, discursou Txai, em fala que causou intenso incômodo ao governo brasileiro.
Indígenas pedem mais esclarecimentos
Em nota divulgada após a operção da PF, que foi batizada Guardião Uru em homenagem a Ari, a Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé pediram “novos detalhes sobre a prisão preventiva”, pois “detalhes como a identidade do homem e a motivação da morte são de fundamental importância para a família e demais indígenas Uru-Eu-Wau-Wau”.
“O crime ocorreu em meio à falta de fiscalização, invasões de terras por grileiros, garimpeiros e madeireiros”, diz ainda a nota. “Seguiremos acompanhando o caso até a efetiva punição com os rigores da lei dos envolvidos na morte de nosso parente e a saída dos milhares de invasores da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau”, complementa o texto.
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