Após dias de negociações, brasileiros seguem presos na Faixa de Gaza
Lula e Mauro Vieira tentam por vias diplomáticas negociar passagem de Gaza até o Egito, onde brasileiros embarcarão em avião presidencial
atualizado
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Após quase 11 dias de conflito entre Israel e o grupo fundamentalista Hamas, o governo federal tenta, por vias diplomáticas, meios para retirar em segurança cerca de 30 brasileiros e parentes palestinos presos no epicentro do embate, a Faixa de Gaza.
As tratativas são para resgatar 22 brasileiros, sete palestinos portadores de Registro Nacional de Imigração (estrangeiros com visto temporário ou com visto de autorização de residência) e mais três parentes próximos de origem palestina, que permanecem alojados em residências na região de Khan Yunis, ao sul de Gaza.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o chanceler Mauro Vieira estão em tratativas com representantes do governo do Egito, de Israel e da Autoridade Palestina na tentativa de garantir um cessar-fogo para que um ônibus com brasileiros deixe o território palestino rumo a solo egípcio, onde o grupo será aguardado por um avião presidencial.
Nessa segunda-feira (16/10), Vieira e o ex-chanceler e assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, foram recebidos pelo presidente Lula no Palácio da Alvorada. Eles foram os primeiros membros do governo a se reunirem presencialmente com o petista desde as cirurgias do mandatário, em 29 de setembro.
Apesar dos esforços do primeiro escalão, entre os pontos que dificultam o processo de repatriação desses brasileiros, estão possíveis bombardeios a Rafah, em meio ao bloqueio israelense até que o Hamas libere os reféns. Há ainda o risco de extremistas infiltrados adentrarem o território vizinho; e a falta de estrutura migratória adequada no Egito.
Autoridades locais também temem um êxodo em massa dos palestinos e o estabelecimento de um assentamento de refugiados fora de Gaza. Sem água, alimentos ou energia desde o estabelecimento do bloqueio total pelo governo de Benjamin Netanyahu, a situação tende a se agravar cada vez mais no lado palestino da fronteira.
Maioria é mulher e criança
Das 32 pessoas que aguardam resgate, 16 (quatro homens, quatro mulheres e oito crianças) foram deslocadas para Rafah, onde permanecem alojadas em um imóvel alugado pelo Itamaraty. Elas estavam na Cidade de Gaza e se abrigavam em uma escola — a Rosary Sisters School, que fica na periferia da capital, ao sul — durante os primeiros dias da ofensiva de Israel.
As outras 16 pessoas (dois homens, cinco mulheres e nove crianças) são moradoras de Khan Yunis e aguardam a liberação nas próprias casas. A cidade fica a poucos quilômetros de Rafah.
No total, 17 crianças, nove mulheres e seis homens esperam ajuda do governo para conseguir deixar a área mais crítica do conflito.
A fim de garantir a segurança do deslocamento até a fronteira, o governo federal trabalha para reunir toda a documentação necessária à operação, bem como informar a autoridades egípcias, palestinas e israelenses o dia e o horário exatos em que um ônibus faria o trajeto entre a Faixa de Gaza e a cidade de Rafah, no Egito.
Segundo a imprensa internacional, o Egito está prestes a aceitar um acordo que permitiria a passagem de cidadãos estrangeiros e com dupla nacionalidade a partir de Rafah, desde que a ajuda humanitária fosse autorizada a entrar em Gaza.
De Gaza ao Brasil
O Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, na Cisjordânia, contratou serviço de transporte terrestre para levar o grupo de Gaza com destino ao Egito. Os brasileiros passarão por Rafah, cidade em território egípcio, quando houver sinal verde — ou seja, um acordo para a criação de um corredor humanitário.
De lá, seguem para Cairo, onde um avião presidencial estará aguardando para trazê-los ao Brasil. Até esta terça-feira (17/10), a aeronave encontra-se em Roma, na Itália, esperando autorização para pousar na capital do Egito. Em função da complexidade das negociações, ainda não há uma data para a realização do trajeto.
Veja o trajeto no mapa:
Bloqueios terrestres e aéreos
A Faixa de Gaza, território de pequenas dimensões que abriga 2,3 milhões de pessoas, fica entre Israel, Egito e Mar Mediterrâneo e está sob domínio do grupo extremista Hamas desde 2007. Os fundamentalistas, bem como civis — entre eles, mulheres e crianças — que moram na região, vivem “encurralados”.
O governo israelense controla o espaço aéreo e restringe a entrada de mercadorias por meio de suas fronteiras. O mesmo ocorre ao sul do território, vigiado pelo governo egípcio. Diante do bloqueio total imposto por Israel, não há corredores humanitários para a saída dos civis na zona de combates.
O Egito controla a passagem desde um acordo firmado com Israel em 2007, mas os insumos que chegam a Gaza por meio de Rafah demandam a aprovação israelense.
Entenda o que é a Faixa de Gaza, lar de 2 milhões de palestinos
Antes mesmo da eclosão do conflito mais recente entre Israel e Hamas, cerca de 80% da população de Gaza já dependia de ajuda internacional, segundo a ONU. Além disso, aproximadamente 1 milhão de pessoas no local contavam com doações de alimentos para sobreviver.
Repatriação de brasileiros
Até a noite dessa segunda-feira (16/10), 916 brasileiros e 24 animais domésticos haviam sido trazidos para o Brasil. Com a realização de um novo voo, que partirá de Tel Aviv na quarta-feira (18/10), o governo terá concluído a repatriação de mais de 1.100 brasileiros que pediram para sair da zona de conflito.