Após delação, Petrobras extingue contrato com empresa da J&F
A estatal recorreu à Lei Anticorrupção para romper o contrato com a companhia de Joesley Batista e cobra R$ 70 milhões por isso
atualizado
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A Petrobras recorreu à Lei Anticorrupção para romper contrato de fornecimento de gás natural para uma empresa do grupo J&F, de Joesley Batista, que denunciou o envolvimento do presidente Michel Temer (PMDB) em esquemas de desvio de recursos. Além de cortar o gás da térmica Mário Covas, empresa do grupo operada pela Âmbar Energia e situada em Cuiabá, a estatal cobra R$ 70 milhões pelo rompimento antecipado do contrato.
Em delação ao Ministério Público Federal (MPF), Ricardo Saud, da JBS, uma das empresas do grupo J&F, disse ter prometido R$ 500 mil semanais ao ex-assessor especial de Temer e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) — que está preso, em troca de favorecimento no acordo de fornecimento de gás pela Petrobras.
A propina, que Saud chamou em sua delação de “aposentadoria” antecipada para o presidente e para Loures, serviria para retribuir uma decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que obrigasse a Petrobras a cobrar menos – o preço que o gás natural é importado pela Bolívia – no contrato firmado com a Âmbar.A Petrobras e a JBS travam, há meses, uma disputa em torno do preço do gás. Em nota, o Cade afirmou que o caso ainda está sendo investigado e negou qualquer interferência política em suas decisões.
Após a delação de Saud, com denúncias de desvios de recursos envolvendo o contrato, porém, a Petrobras resolveu encerrar o embate por conta própria. Segundo a estatal, no contrato firmado com a Âmbar, a empresa do grupo J&F declara não ter pago ou oferecido qualquer vantagem indevida a qualquer autoridade pública, o que não foi cumprido, considerando a delação de Saud.
A Petrobras decidiu, então, encerrar o fornecimento que estaria garantido até 31 de dezembro deste ano e ainda pediu ressarcimento por isso. O contrato havia sido assinado em 13 de abril de 2017. A delação de Joesley Batista resultou em um acordo de leniência da J&F — no qual o grupo terá de pagar uma multa de R$ 10,3 bilhões — e garantiu o direito de continuar sendo contrata pelo poder público.
Resposta
A Âmbar Energia afirmou ter sido notificada pela estatal e disse que avalia o comunicado para decidir os próximos passos. “A empresa esclarece que não é nem nunca foi alvo de investigações de atos de corrupção. Todos os fatos relatados na colaboração com a Justiça por executivos da J&F se dão no âmbito da holding, e não da Âmbar”, informou.
A empresa disse que, pelo acordo de leniência assinado pela J&F com o Ministério Público, “todas as controladas da holding poderão desenvolver suas atividades empresariais normalmente, sem qualquer restrição, inclusive no relacionamento com empresas estatais”.