Após críticas, Marinha do Brasil adia bombardeio em arquipélago de SP
Anúncio de exercício militar no Arquipélago dos Alcatrazes gerou reações nas redes sociais. Ambientalistas temem riscos a espécies nativas
atualizado
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Após a Marinha do Brasil anunciar a realização de exercício militar no Arquipélago de Alcatrazes, localizado no litoral de São Paulo, nos dias 16 e 17 de agosto, ambientalistas e ativistas se manifestaram nas redes sociais. A informação está registrada no ofício Nº. 116 do Centro de Apoio a Sistemas Operativos (Casop).
Os exercícios iriam se concentrar na Ilha da Sapata, a segunda mais extensa do arquipélago, considerado o maior sítio reprodutivo de aves marinhas da costa brasileira. A área de riqueza natural também é alvo histórico de ações militares.
Em resposta à decisão da Marinha, uma petição virtual começou a circular nas redes sociais. Como resultado da mobilização popular, a operação militar foi adiada. O manifesto para a preservação da unidade de conservação conta com mais de 23 mil assinaturas.
De acordo com a petição, os exercícios só poderiam ocorrer no intervalo entre os meses de novembro e abril, conforme acordado em documento apresentado à Estação Ecológica Tupinambás, instituição responsável pela gestão deste território.
Além disso, o texto do manifesto alerta para os riscos que a operação pode trazer a espécies nativas, como baleias, vistas nessa época do ano por conta da migração de procriação, e pássaros fregatas, que reproduzem durante esse período.
“O descaso da Marinha do Brasil com a fauna marinha brasileira é plenamente conhecido e a insistência da manutenção destes exercícios estarrece a todos que se dedicam a preservação ambiental, não só no Litoral Norte paulista, como em todo o território brasileiro”, alega trecho do texto da petição.
Políticos se posicionaram contra o plano de ação militar. A ex-senadora e ex-ministra Marina Silva é uma delas. Ela se manifestou nas redes sociais contra a operação militar e convocou os usuários a assinarem a petição.
A Marinha brasileira escolheu para seu exercício de tiros o arquipélago de Alcatrazes, onde há duas Unidades de Conservação. A escolha é absurda e esperamos que o apelo deste documento – que convido todos a assinar – e as manifestações sejam levados em consideração pela Marinha.
— Marina Silva (@MarinaSilva) August 9, 2022
O deputado estadual Carlos Minc comemorou, em publicação no Twitter, o adiamento da operação.
VITÓRIA PARCIAL: Bombardeio da Marinha em Albatrozes é adiado!
Funcionou! Junto com ambientalistas+técnicos+pesquisadores acionamos ICMBIO+MPF+Marinha.
Com laudos que demonstram o alto impacto da artilharia- que afugenta atobas+fragatas+trinta reis, quebra ciclo reprodutivo! https://t.co/ssKu72pm1m— Carlos Minc (@minc_rj) August 10, 2022
Histórico
Para a proteção do arquipélago, duas unidades de Conservação foram criadas: a Estação Ecológica Tupinambás e a de Refúgio da Vida Silvestre. O conjunto de ilhas abriga a população de 10 mil aves, tem 93 espécies ameaçadas de extinção, e possui 20 espécies endêmicas.
Os exercícios militares no arquipélago foram banidos em 2013, durante o governo de Dilma Rousseff. Posteriormente, o local recebeu proteção legal ao ser decretado como Refúgio de Vida Silvestre, convertendo-se na segunda maior unidade de conservação integral da Marinha.
Em novembro de 2021, ignorando os repetidos apelos de ambientalistas e até mesmo as recomendações de órgãos governamentais, como o ICMBio, a Marinha do Brasil decretou que irá reiniciar exercícios militares no arquipélago.