Após chacina em presídio goiano, familiares cobram por notícias
Autoridades ainda não informaram nomes dos presos mortos, feridos e foragidos durante o motim. Clima de tensão angustia parentes de detentos
atualizado
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Após a rebelião que acabou em chacina no presídio Colônia Agroindustrial do Regime Semiaberto, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO), familiares ainda aguardam por notícias em completa agonia. Até a tarde desta terça-feira (2/1), as autoridades não haviam informado os nomes dos nove mortos no motim. As identidades dos 14 feridos e dos 106 foragidos também permanecem em sigilo. Enquanto a lista oficial não sai, os parentes seguem na incerteza, principalmente em função dos rumores de novos conflitos.
“Ninguém fala nada, é um absurdo. Quando a gente vai perguntar, [os servidores] ainda são muito ignorantes. Ficamos sem saber quem está morto, quem ficou ferido e quem fugiu”, desabafa a esposa de um dos presidiários. Ela preferiu não se identificar.
Decapitados
Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do estado de Goiás (SSPAP-GO), dois dos nove carbonizados na cadeia pública foram decapitados. Pela gravidade das mutilações dos corpos, a pasta informou não haver previsão para a identificação dos cadáveres.
À reportagem, familiares disseram ter sido informados de que receberiam novidades na manhã desta terça. Segundo eles, o prazo foi atrasado para 15h. Até a publicação deste texto, eles não haviam sido atualizados.
Os parentes reforçam as reclamações de que, com frequência, falta água e energia elétrica nas celas. A acusação foi refutada pelo governo, que admitiu escassez do recurso hídrico na segunda (1º/1), mas garantiu ter sido um problema pontual e sem relação com o motim.
É um sistema falido. Se entraram armas, é porque alguém deixou. Como os presos de um só bloco conseguiram fazer tudo isso? Como só havia cinco funcionários para toda essa gente? A culpa é do próprio governo
Pai de detento
A rebelião na Colônia Agroindustrial do Regime Semiaberto eclodiu na tarde de segunda (1º). Segundo a SSPAP-GO, presos do bloco C invadiram os blocos A, B e D. A motivação dos ataques seria uma rixa entre grupos criminosos.
Briga entre facções
O motim ocorreu exatamente um ano após uma rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. Na ocasião, mais de 60 detentos foram executados em um confronto entre as facções PCC e Família do Norte. O episódio deu início a uma crise penitenciária nacional, que culminou em rebeliões em Roraima e no Rio Grande do Norte.
Também no primeiro dia do ano de 2018, o estado registrou inícios de rebeliões em outras duas cidades do estado: Santa Helena e Rio Verde. Durante entrevista coletiva na manhã desta terça (2/1), o superintendente executivo de Administração Penitenciária de Goiás, tenente-coronel Newton Castilho, afirmou que os três fatos não têm qualquer relação. “Não foi estabelecido nenhum tipo de ligação entre as rebeliões ocorridas neste início do ano”.
Castilho ainda admitiu o receio de que problemas desta natureza ocorram em outras unidades prisionais de Goiás, inclusive na Penitenciária Coronel Odenir Guimarães (POG). O local é o principal complexo do estado e para onde a maioria dos detentos de Aparecida de Goiânia foi levada.
Recapturados
Dois dos fugitivos do presídio de Aparecida de Goiânia foram presos na manhã desta terça-feira (2/1), quando trafegavam em um carro roubado pela BR 020, em Sobradinho. Policiais militares do 13º Batalhão abordaram o veículo suspeito próximo ao condomínio Nova Colina. O carro tinha sido roubado na segunda (1º) na Fazenda Larga, em Bela Vista (GO). De acordo com a vítima, seis homens armados com facão levaram o veículo.
Na 13ª DP, foi constatado que os dois detidos eram fugitivos da rebelião ocorrida no presídio goiano. Eles estão à disposição da Justiça para o retorno ao sistema prisional.