Após atraso no IML, Agatha Vitória será enterrada neste domingo
Instituto não tinha funcionários habilitados a manusear aparelho utilizado para balística; velório será em cemitério da zona norte do Rio
atualizado
Compartilhar notícia
O velório de Agatha Vitória Sales Félix, menina de 8 anos morta durante operação da Polícia Militar no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, será realizado neste domingo (22/09/2019). A cerimônia terá início às 16h na capela 13 do Cemitério de Inhaúma, na zona norte do Rio de Janeiro.
O corpo de Agatha foi liberado por volta das 21h30 deste sábado (21/09/2019), após atraso do Instituto Médico Legal (IML). De acordo com o IML, a demora ocorreu porque não havia na unidade nenhum funcionário que soubesse manusear um aparelho chamado scanner corporal, que permite ver através da pele e dos órgãos. “O uso do scanner foi fundamental para verificar a imagem do fragmento do projetil, que foi retirado para balística”, afirmou o IML.
Na noite desse sábado, o porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Mauro Fliess, afirmou em entrevista à TV Globo que “não há nenhum indicativo, nesse momento, de uma participação de um policial no triste episódio”. Ele afirmou ainda que a PM vem reduzindo o número de mortes e que “não vai recuar”.
#ACulpaÉdoWitzel: denúncia à ONU e repúdio da Anistia Internacional
A morte de Agatha gerou uma onda de manifestações neste fim de semana. Durante o sábado, a hashtag #ACulpaÉdoWitzel, que relaciona a morte da menina à política de segurança pública do governador Wilson Witzel (PSC), chegou a ser a mais comentada no Twitter. Parlamentares de oposição como Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ) se pronunciaram sobre a morte.
A Anistia Internacional publicou uma thread no Twitter repudiando o acontecimento e mencionou Witzel diretamente, marcando o nome de usuário. “E alertamos a @wilsonwitzel: Como autoridade máxima de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, a responsabilidade do governador é prevenir e combater a violência com inteligência e levando em consideração que todas as vidas importam”, afirmou a organização.
[1/5]: Até quando insistiremos numa política de segurança pública que torna o Estado, que deveria proteger a todos e todas nós, violador do nosso direito à vida? Ágatha era apenas uma criança, de oito anos. Ágatha era negra e moradora de favela. pic.twitter.com/wG62xBoKB0
— Anistia Internacional ? (@anistiabrasil) September 21, 2019
Movimentos de favelas fizeram nesse sábado uma denúncia formal à Organização das Nações Unidas (ONU) contra o governador Witzel. O documento foi encaminhado à alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michele Bachelet, e à Relatoria Especial sobre Execuções Sumárias e Extrajudiciais. Os grupos pedem ao Alto Comissariado da ONU uma resposta pública e incisiva cobrando o Estado brasileiro e pedem que apontem que Witzel violou obrigações de direito internacional ratificadas pelo Brasil.
De acordo com a denúncia, assinada pelos grupos Papo Reto, Fórum Grita Baixada, Instituto Raízes em Movimento, Fórum Social de Manguinhos, Mães de Manguinhos, Movimento Moleque, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência e Arquitetxs Faveladxs, “a morte de Agatha é mais uma tragédia diretamente relacionada à política bárbara de segurança pública que está sendo conduzida pelo governador”.
O documento menciona dados como o aumento do total de pessoas mortas pela polícia no estado do Rio de Janeiro. De janeiro a agosto foram 1.249, alta de 16,2% em ao mesmo período de 2018. “O alvo é sempre o mesmo, jovens negros e pobres, que vivem nas favelas da cidade e do estado”, destaca.
A seção Rio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) também destacou o “recorde macabro” de 1.249 pessoas mortas pela polícia entre janeiro a agosto. A entidade lamentou o que chamou de “normalização da barbárie” pelo Executivo estadual e por parte da população, que encara com normalidade a média de cinco mortos por dia pela polícia, o que considera “sintoma de uma sociedade doente”.
Morte de Agatha Felix
Agatha estava em uma Kombi com o avô na noite da última sexta-feira (20/09/2019) quando foi atingida por um tiro de fuzil nas costas. A menina foi levada ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, no bairro da Penha, onde morreu na madrugada desse sábado.
A versão do governo é de que houve confronto no Complexo do Alemão e que policiais da UPP Fazendinha revidaram a agressão de criminosos. O governo do Rio afirmou lamentar profundamente a morte de Agatha, assim como a de todas as vítimas inocentes, durante ações policiais.
O governo diz que o trabalho realizado pelas polícias, que tem como principal objetivo localizar criminosos e apreender armas e drogas, é pautado por informações da área de inteligência e segue protocolos rígidos de execução, sempre com a preocupação de preservar vidas.