Após Anvisa estender validade, 2,8 milhões de testes para Covid seguem encalhados
Exames vencem em junho de 2021. Ministério da Saúde já considera a possibilidade de a Anvisa ampliar, novamente, o prazo
atualizado
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Cerca de 2,8 milhões de testes RT-PCR para detectar a Covid-19 seguem encalhados no Ministério da Saúde, mesmo após a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) estender o prazo de validade até junho deste ano.
Em dezembro do ano passado, a Anvisa prorrogou, por mais quatro meses, o vencimento de 6,9 milhões de exames que estavam prestes a ser descartados, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo.
O Ministério da Saúde informou ao Metrópoles, na quarta-feira (31/3), que, desse total, 4,1 milhões foram enviados aos estados e ao Distrito Federal.
Isso não significa, contudo, que os exames enviados às unidades federativas tenham sido aplicados, uma vez que os governos estaduais também compraram testes para identificar o novo coronavírus (Sars-CoV-2).
A pasta federal da Saúde ressaltou a possibilidade de nova avaliação da Anvisa para estender o prazo de validade desses exames estocados.
A agência reguladora revelou ao Metrópoles, porém, que ainda não tem “perspectiva do que poderá ocorrer com os referidos testes”, comprados em abril de 2020, por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
Ao estender o prazo de validade, a Anvisa condicionou a decisão a medidas de monitoramento das condições de armazenamento e da avaliação laboratorial que deverá avaliar se os produtos mantêm o perfil de eficiência.
Em nota, o Ministério da Saúde esclareceu que “trabalha, juntamente com os estados e municípios, para que nenhum teste perca a validade”. A pasta disse ter gastado mais de R$ 1,1 bilhão em exames.
Para tentar esvaziar o estoque, uma das estratégias usadas pelo ministério foi oferecer doação de 970 mil exames para o Haiti. O país caribenho, no entanto, recusou a oferta, aceitando apenas 30 mil, segundo revelou o colunista Guilherme Amado, da revista Época.
Dados do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL), do Ministério da Saúde, apontam que o sistema público aplicou até agora 13,058 milhões de testes RT-PCR – que têm resultado mais preciso, se comparado a testes rápidos e sorológicos.
Inicialmente, a meta era superar 24 milhões de exames RT-PCR até dezembro de 2020.
Em março de 2021, foram aplicados cerca de 1,4 milhão de exames RT-PCR. Em dezembro de 2020, esse número foi de 1,8 milhão, o maior número para um mês desde o início da pandemia.
Os dados foram apresentados na terça-feira (30/3), durante reunião ordinária da comissão intergestores tripartite, que envolve o Ministério da Saúde, a OPAS e as secretarias estaduais e municipais.
A taxa de positividade desses exames é de 33,5%, bem superior ao limite de 5%, indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como patamar indicativo de que a pandemia de Covid-19 está controlada.
Hoje, Canadá, Portugal e Reino Unido, por exemplo, têm taxa de positividade de 4,8%, 1,7% e 0,4%, respectivamente. Esses dados são do Our World In Data.
Diretor da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF), José David Urbaez explica que esses dados representam, mais uma vez, uma “política pública” do governo federal de negar a pandemia.
“O Brasil está se limitando basicamente à pessoa que tem sintomas da doença. Estamos testando muito pouco. É mais um dos fatores que apontam a ausência de ferramentas potentes de controles da pandemia”, diz.
Urbaez destaca, ainda, que o país não tem usado somente o teste molecular (RT-PCR) para diagnóstico da pandemia, mas também testes rápidos e de sorologia, “onde há uma distorção enorme do resultado”.
Se contar com esses exames, e incluir ainda aqueles que foram realizados em laboratórios privados, o país aplicou 44,3 milhões de testes para detectar o novo coronavírus.
O número equivale a 20,7% da população do país (desconsiderando, portanto, a possibilidade de uma mesma pessoa ter realizado o exame mais de uma vez). Ou seja, 207 testes por 1 mil habitantes.
Dinamarca, Israel e Estados Unidos, por exemplo, têm 3,7 mil, 1,7 mil e 1,1 mil testes para cada 1 mil habitantes.
“Negou-se a falta de oxigênio para o Amazonas; negou-se no início, e ainda continua se negando a magnitude da crise humanitária. Seria improvável, então, que a administração pública acelerasse a distribuição desses testes”, complementa o infectologista.