Após ano de recordes, mercado de consórcios se prepara para 2022
Especialistas apontam que educação financeira e aumento na taxa de juros fizeram busca pela modalidade crescer em 2021
atualizado
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O ano de 2021 foi de quebra de recordes para o mercado de consórcios. Pela primeira vez, o número de consorciados ativos ultrapassou 8 milhões, crescimento de 6,9% em relação a 2020, segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
O setor também bateu uma marca inédita no acumulado de vendas de janeiro a dezembro do ano passado, atingindo 3,46 milhões de novas cotas, alta de 14,6% sobre o ano anterior. Os negócios também bateram recorde ao alcançarem a marca dos R$ 222,26 bilhões, 35,8% acima dos R$ 163,63 bilhões obtidos no mesmo período de 2020.
Marcelo Kogut, cofundador da fintech de consórcios Mycon, afirma que a alta na taxa de juros é uma das explicações para o aumento na procura pelo mecanismo. “Notamos um aumento bem grande na quantidade de vendas de consórcios nos últimos anos porque esse produto é a porta de acesso a um crédito mais barato. O financiamento está encarecendo cada vez mais, já que a taxa de juros aumentou e há expectativa de que fique ainda mais caro”, explica.
Diferentemente dos financiamentos, consórcios não têm juros, apesar de possuírem taxa de administração. Assim, a taxa Selic (tarifa básica da economia e que regula os juros), não afeta as parcelas. “Financiar não é barato e as pessoas continuam tendo sonhos de adquirir imóveis e automóveis, por exemplo, então o consórcio se tornou uma saída”, diz Kogut.
Esse foi o caso de Selma Arrais Rios, de 52 anos. Quando o filho entrou no ensino médio, em 2017, a empresária prometeu um carro de presente, caso ele fosse aprovado no vestibular. Na época, começou a pagar o consórcio da Sicoob (Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil), pois não tinha pressa para finalizar a compra e o preço cheio não cabia no orçamento da família.
Em setembro de 2019, Selma foi contemplada e pôde dar o presente. “Foi uma emoção muito grande conseguir dar o carro, porque ele cumpriu a parte dele [passou no vestibular] e nós cumprimos a promessa”, conta. “Acredito que os financiamentos têm juros altíssimos e acabam não cabendo no bolso da família. Foi uma decisão muito bem acertada.”
Mercado espera novos recordes
Ao projetar os negócios para este ano, o presidente executivo da Abac, Paulo Roberto Rossi, afirma que, apesar das turbulências de um ano eleitoral, é possível ter mais um bom resultado, em 2022.
“Enquanto as boas perspectivas apoiam-se no crescente aumento de conhecimento do consumidor sobre educação financeira, a expectativa é de que o planejamento seja incorporado na rotina do brasileiro”, diz. “Importante lembrar que, apesar das projeções para 2022 indicarem recuo nos índices inflacionários, ainda assim, teremos patamares relativamente altos de inflação, o que mantém o consumidor mais cauteloso ao adquirir bens e serviços.”
Rossi avalia que um dos principais pontos de mudança que estimulam o mercado de consórcios é a educação financeira do consumidor. “Ao ampliar os conhecimentos, o brasileiro tem procurado praticá-los, gerindo as finanças com responsabilidade, sem extravagâncias ou imediatismos, tornando sua vida financeira mais tranquila ao adquirir bens ou serviços de forma planejada e com custos mais baixos”, completa.
A perspectiva é compartilhada por Kogut. “Costumo dizer que o consórcio é o único ‘boleto do bem’, que você paga pra você mesmo. Os outros são contas, despesas, mas o consórcio é um investimento. A cada parcela você vê seu dinheiro acumulando um pouco mais no aplicativo. Você não fica chateado em pagar, pelo contrário, ele se torna sua prioridade no mês”, finaliza.