Após alta histórica, dólar recua enquanto “tarifaço” de Trump não vem
Moeda estrangeira recuou e encerrou a quarta cotada a R$ 5,94. Presidente dos EUA já ameaçou taxar o Brasil, o que pressionaria o real
atualizado
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O recuo da cotação do dólar desde o início desta semana acontece em paralelo à expectativa do anúncio de um “tarifaço” norte-americano. A implementação de taxas extras nas negociações entre países e os Estados Unidos tem sido aventada por Donald Trump. Ele foi empossado no cargo na segunda-feira (20/1).
Só na quarta-feira (22/1), o dólar recuou 1,40% e encerrou o dia valendo R$ 5,94. O valor é o menor desde novembro do ano passado. A moeda estrangeira começou o ano valendo R$ 6,20 e, entre uma oscilação e outra, fechou a sexta-feira, véspera da posse de Trump, a R$ 6,06. Depois disto, no entanto, engatou a sequência de baixa.
Entenda:
- Trump prometeu taxar importações para os Estados Unidos.
- Se implantada, a medida deve fortalecer o dólar e desvalorizar outras moedas, como o real.
- Nos primeiros dias de governo, Trump focou em outros assuntos e não emitiu determinação para taxar.
- Neste cenário, o dólar acabou tendo uma sensível desvalorização. Mercados mundo afora esperam para ver como será a taxação.
- Os primeiros a serem taxados devem ser China, União Europeia, México e Canadá. Mas Trump também já ameaçou taxar o Brasil
A redução no valor do dólar ocorre no momento em que o mundo vê os primeiros dias do mandato de Trump sem o tal “tarifaço”. Como o anúncio dele, pelo menos ainda, não se traduziu em ação, os mercados assistem a uma perda de valor da moeda estrangeira.
Fontes do governo Trump têm falado reservadamente à imprensa do país sobre o início de ordens para taxação. A expectativa, no momento, é que isto não ocorra por agora. Os primeiros alvos devem ser China, União Europeia, México e Canadá. O presidente dos EUA tem prometido isto verbalmente desde que foi eleito.
Trump determinou defesa dos interesses do país
No primeiro dia de governo, Trump exibiu as pilhas dos cerca de 200 atos de governo. No entanto, nenhuma medida em relação à taxação foi assinada. Apesar disto, em um memorando, o presidente dos EUA determinou uma apuração sobre “déficits comerciais”.
“O secretário de Comércio, juntamente com o secretário do Tesouro e o representante comercial dos Estados Unidos, investigará as causas dos grandes e persistentes déficits comerciais anuais do nosso país em bens”, determinou.
Trump já ameaçou o Brasil
Em uma entrevista coletiva, em dezembro de 2024, Trump afirmou que taxaria o Brasil. “A Índia taxa muito, o Brasil nos taxa muito. Se eles querem nos taxar, tudo bem, mas vamos taxá-los da mesma forma”, ameaçou.
No dia da posse, Trump deu um indicativo de como poderá tratar o Brasil. Questionado por uma jornalista brasileira, enquanto assinava atos de governo, sobre como seria a relação dele com a América Latina e o Brasil, disse que o país precisa dos EUA. “Eles precisam de nós muito mais do que precisamos deles. Não precisamos deles, eles precisam de nós, todos precisam de nós.”
Antes mesmo das advertências de Trump, o mercado brasileiro já havia precificado uma desvalorização do real. O motivo era, na época, a expectativa da implementação da política econômica defendida pelo republicano. Uma das bandeiras de Trump é a redução de impostos nos EUA. A menor taxação pode pressionar o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) a manter a taxa básica de juros do país no atual patamar ou atrasar a redução da mesma. Atualmente, as taxas do Fed variam de 4,25% a 4,5%.
Os juros mais elevados nos Estados Unidos fazem com que mais dólares se desloquem para o país. Isto faz com que economias emergentes, como o Brasil, vejam a fuga da moeda norte-americana. Como consequência da menor oferta, há uma alta do dólar.
Impacto na Selic
Economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e conselheira do Conselho Regional de Economia da 2ª Região (Corecon-SP), Carla Beni considera que a distância entre o discurso de campanha e os primeiros atos práticos de Trump “amenizam” a preocupação dos mercados quanto ao dólar.
Beni detalha que para fortalecer as exportações, Trump “precisa de um dólar mais fraco”. Por outro lado, a taxação fortalece a moeda, o que, no entender dela, é um “dilema a ser pensado”.
“Nós temos algumas sinalizações que são divergentes. E o governo de Joe Biden já subiu muito as tarifas. Por exemplo, para carro elétrico, ele passou de 25% para 100%, numa canetada só”, lembra a economista.
Sobre o futuro, Beni afirma ser preciso esperar. Como reflexo no Brasil, ela considera que a necessidade de alta na taxa básica de juros do Brasil, a Selic, foi superestimada. “(A cotação do dólar) também mostra que a gente está com uma taxa Selic elevadíssima. Então, (a política de Trump) já foi precificada muito mais do que deveria. E isso também dá uma estabilidade na curva de juros futuro”, aponta a economista.
A Selic está em 12,25%, mas o Banco Central (BC) sinalizou na reunião de dezembro que devem haver duas novas elevações, de 1 ponto percentual, cada um. Isto elevará o índice para 14,25%. As duas próximas reuniões nas quais o Comitê de Política Monetária (Copom) vai debater a taxa básica de juros estão marcadas para 28 e 29 de janeiro e 18 e 19 de março.