Após 2h30, Bolsonaro termina depoimento sobre plano golpista envolvendo Marcos do Val
Ex-presidente Jair Bolsonaro depôs na sede da PF sobre suposto plano golpista com o senador Marcos do Val e o ex-deputado Daniel Silveira
atualizado
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Após cerca de 2h30 presente na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília (DF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terminou o depoimento na tarde desta quarta-feira (12/7). O ex-mandatário foi questionado sobre suposto plano golpista que envolveria o senador afastado Marcos do Val (Podemos-ES) e o ex-deputado federal Daniel Silveira.
A corporação investiga trama para gravar clandestinamente Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em tentativa de reverter o resultado das últimas eleições.
Os investigadores questionaram Bolsonaro sobre seu suposto envolvimento no caso, revelado por Marcos do Val. O senador acusou o ex-presidente e o ex-deputado Daniel Silveira de realizarem uma reunião, quando Bolsonaro ainda era chefe do Executivo federal, para organizar um golpe de Estado.
Do Val alegou que o plano envolvia a tentativa de gravar uma conversa com Moraes para obter provas que pudessem ser usadas para anular o resultado das eleições presidenciais de 2022, no qual Jair Bolsonaro foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na manhã desta quarta (12/7), o senador negou envolvimento com qualquer plano golpista e afirmou ter “apreço pela democracia”. O pronunciamento ocorreu após a coluna de Rodrigo Rangel, do Metrópoles, revelar trocas de mensagens em que Do Val detalha o passo a passo da suposta trama golpista (entenda mais abaixo).
Estratégia de Bolsonaro para depoimento
O Metrópoles apurou que a estratégia de defesa do ex-presidente será frisar que ele nunca teve proximidade com Marcos do Val e que, durante o mandato, só o encontrou em dezembro de 2022, em reunião organizada pelo ex-deputado Daniel Silveira.
Bolsonaro alegará que o encontro não tratou de nenhum assunto “não republicano”, tampouco algum plano “Tabajara” contra Alexandre de Moraes. Logo após tomar ciência desse “plano”, por meio de mensagem do próprio senador Marcos Do Val, respondeu que era “coisa de maluco”.
As contradições de Marcos do Val
Os relatos de Marcos do Val sobre a suposta reunião com Bolsonaro e Silveira contêm diversas contradições.
Em entrevista à revista Veja, concedida em 1° de fevereiro deste ano, o senador afirmou ter ouvido diretamente do então presidente detalhes do plano para gravar Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Numa segunda versão, o parlamentar afirma que Bolsonaro teria ficado calado e que coube a Daniel Silveira repassar os detalhes do esquema.
Áudio da conversa divulgado pela revista mostra que Marcos do Val é perguntado se o próprio Bolsonaro pediu para que a gravação ilegal fosse feita. Ele responde que “sim”.
“Disse, sim. Que o GSI ia me dar o equipamento para poder montar para gravar. Aí eu falei assim, quando eu falei que ‘mas não vai ser aceito’. ‘Não, o GSI já tá avisado’. Quer dizer, já tinha validado a fala comigo. ‘Eles vão te equipar, botar o equipamento de escuta, de gravação e a sua missão é marcar com o Alexandre e conduzir o assunto até a hora que ele falar que ele, que ele avançou, extrapolou a Constituição, alguma coisa nesse sentido.’ Aí ele falou ‘ó, eu derrubo, eu anulo a eleição, o Lula não toma posse, eu continuo na Presidência e prendo o Alexandre de Moraes por conta da fala dele, que ele teria’”, explicou na gravação.
Em live transmitida no dia 2 de fevereiro, Marcos do Val disse ter sido coagido por Bolsonaro a “dar um golpe de Estado junto a ele”.
Veja a cronologia das contradições envolvendo o caso:
- Entrevista à revista Veja (antes da posse de deputados e senadores eleitos, em 1°/2): Marcos do Val afirma que Bolsonaro teria participação direta no plano para gravar Alexandre de Moraes;
- Live realizada na madrugada de quinta-feira (2/2), após a posse de parlamentares: “Eu ficava p*to quando me chamavam de bolsonarista. Vocês me esperem, que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na [revista] Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele. Só para vocês terem ideia. E é lógico que eu denunciei”;
- Entrevista coletiva na manhã de quinta-feira (2/2): Marcos do Val entra em contradição e diz que o ex-presidente teria ficado calado durante toda a reunião. Nesta versão, o parlamentar responsabilizou Silveira pelo plano, e ainda garantiu que denunciou tudo ao ministro Alexandre de Moraes;
- Declaração após depoimento à PF, na noite de quinta-feira (2/2): Do Val mantém a versão anterior de que Bolsonaro ficou calado durante encontro em que Silveira teria detalhado plano para gravar Moraes.
Operação contra senador
Em junho, Moraes autorizou uma operação de busca e apreensão contra o senador. As buscas ocorreram no apartamento funcional ocupado pelo senador em Brasília, no gabinete dele no Senado e, ainda, em pelo menos um endereço no Espírito Santo.
As medidas foram solicitadas depois de os investigadores identificarem tentativas do senador de atrapalhar as apurações sobre os atos golpistas do dia 8 de janeiro. No fim de junho, o senador solicitou afastamento das atividades parlamentares após precisar de atendimento médico durante uma sessão na CPI que investiga os ataques de 8 de janeiro.
Quarto depoimento à PF em 2023
Esta é a quarta vez que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depõe na sede da Polícia Federal, em Brasília, em 2023. Em 5 de abril, o ex-mandatário foi à sede da corporação para explicar sobre as joias que ganhou de presente da Arábia Saudita.
Em 26 de abril, o ex-presidente depôs no âmbito do Inquérito (INQ) 4921, que investiga incitadores dos atos de 8 de janeiro. Ele virou alvo das investigações após compartilhar, em 10 de janeiro, publicação em que a regularidade das eleições era questionada. Apesar de ter apagado o post no mesmo dia, a PGR acusou o ex-presidente de incitar a perpetração de crimes contra o Estado de Direito ao propagar o vídeo.
Em maio, Bolsonaro deu sua versão à PF sobre as investigações que apuram fraude nos cartões de vacinação dele, da filha, de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, e de pessoas próximas.