Apesar de pressão do Centrão, Lula indica que seguirá “precedente Sabino” para nomeações
Celso Sabino “esperou” um mês e meio por Ministério do Turismo; André Fufuca e Silvio Costa Filho aguardam há 3 semanas
atualizado
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Os articuladores políticos do governo Lula admitem publicamente desde o início de julho, após a aprovação pela Câmara da reforma tributária, que o presidente decidiu abrir espaço na Esplanada para mais partidos do Centrão. Praticamente um mês depois, porém, e com os nomes dos candidatos a ministros circulando na imprensa e nos corredores de Brasília, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda segura as mudanças, já irrita líderes partidários e colhe resistência para o andamento de sua agenda no Congresso.
E a tendência é que ele ainda demore mais um tempo para decidir, a exemplo do que aconteceu em outra mudança: a no Ministério do Turismo. A nova fase da novela de ajustes na Esplanada do governo Lula, porém, ainda não alcançou a demora da articulação para a primeira troca política de ministros: a de Daniela Carneiro por Celso Sabino na pasta do Turismo.
Nomeada em janeiro no que seria a cota do União Brasil após indicação do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Daniela nunca representou a bancada do partido na Câmara, onde Lula precisa de mais apoio, e começou a ter a sombra de Sabino ainda no início de junho.
O novo representante do União Brasil no primeiro escalão do governo, no entanto, só foi assumir formalmente o cargo em 14 de julho, um mês e meio depois de seu nome começar a circular. Até que isso ocorresse, foram muitas idas e vindas e negociações para que Lula não perdesse, com a demissão, uma importante aliada no Rio de Janeiro ao lado de seu marido, Waguinho (Republicanos), prefeito de Belford Roxo (RJ).
E a preservação dos aliados que vão perder o cargo é um dos principais motivos para a falta de pressa de Lula em abrir espaço para as nomeações como ministros dos deputados federais André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). Seus nomes começaram a circular mais intensamente nas rodas políticas por volta de 12 de julho e se tornaram quase oficiais no dia 18 do mesmo mês, quando ambos foram recebidos, no Palácio do Planalto, pelo ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais. A espera dos dois, portanto, já dura aproximadamente três semanas, bem menos tempo (ainda) do que aguardou Sabino.
Cortar na própria carne
Lula começa a se movimentar com mais força para resolver essa questão. O mandatário recebeu, em reunião fora da agenda no Palácio da Alvorada, na noite de quarta (2/8), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e o ministro Padilha, seu principal articulador. Na pauta estava a necessidade de o PT cortar na própria carne para abrir espaço aos aliados do Centrão.
O PP pleiteia o Ministério do Desenvolvimento Social, ocupado pelo petista Wellington Dias. O Republicanos gostaria de assumir a pasta dos Esportes, hoje comandada por Ana Moser, que não é indicação de nenhum partido, mas escolha pessoal de Lula.
O presidente tem ganhado tempo para pensar nos próximos passos, mas agora parece mais decidido a oficializar as mudanças na semana que vem, quando voltar da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA). Lula esteve duas vezes, na quinta, com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que é padrinho das alterações na Esplanada para atender ao Centrão. O petista também deve se encontrar em breve com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, para fechar os detalhes do embarque do partido no governo.
“Ajustes”
Em entrevista a rádios da Região Norte nessa quinta, Lula tentou desconversar insistindo que não tem pressa, mas admitiu que fará “ajustes no governo” a fim de “construir uma maioria [na Câmara], para que, até o fim de 2026, a gente já possa votar as coisas importantes de interesse do povo brasileiro”.
Além de destravar a votação final do novo marco fiscal na Câmara, o governo Lula precisa articular no Senado (e depois de novo na Câmara) a aprovação da reforma tributária e de outras pautas econômicas consideradas fundamentais, como a do voto de qualidade no Carf.