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Antes de Doria, religiosos já defendiam igrejas fechadas na pandemia

O governador de São Paulo declarou igrejas como atividade essencial, mas suspendeu cultos presenciais após piora nos indicadores de Covid-19

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São Paulo – Uma semana antes de São Paulo decretar quarentena, o padre Paulo Sérgio Bezerra, 67 anos, liderança da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, zona leste da capital, decidiu interromper as atividades presenciais na igreja, em 18 de março de 2020.

Pároco há 40 anos, ele considerou que deveria se antecipar a qualquer decisão municipal ou estadual para evitar problemas sobre o ainda desconhecido coronavírus.

Para que as portas do templo fossem fechadas, ele se reuniu com a coordenação pastoral para ver o que poderia ser feito. A decisão pela pausa temporária foi unânime.

“Nós não podemos entrar nessa onda de querer flexibilizar achando que a única forma de falar com Deus é na igreja. Você pode viver a vida de fé, de eucaristia, ler a Bíblia em casa. Não podemos ser negacionistas da ciência, pois há muita pressão de religiosos conservadores pela reabertura de templos”, diz padre Paulo.

Doria avançou, mas recuou

No último dia 1º de março, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), assinou um decreto em que reconheceu atividades religiosas como essenciais na fase vermelha da pandemia. Na prática, o tucano apenas regulamentou o que estava previsto no Plano São Paulo.

Isto é, o programa de estratégia permitia a realização de celebrações que seguissem as regras sanitárias e distanciamento social na fase mais restritiva do programa de combate à Covid-19 no estado. No entanto, a medida durou pouco mais de uma semana.

Na quinta-feira (11/3), com a piora nos índices de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para Covid-19, Doria recuou e anunciou a suspensão de atividades presenciais em igrejas e templos religiosos. A medida vale de 15 de março a 30 de março, mas os fiéis ainda poderão ir pessoalmente nesses espaços.

As igrejas estão fechadas para cultos e missas, ou seja, celebrações coletivas, mas seguem abertas para manifestações individuais de fé, como para aqueles que queiram rezar, por exemplo.

Sem missas, casamentos ou batizados

Na cidade de São Paulo, a primeira movimentação a respeito do tema foi com a apresentação do decreto municipal 59.349, de 14 de abril de 2020. Na época, o prefeito Bruno Covas (PSDB) estabeleceu que o horário para realizações de atividades religiosas era livre, desde que respeitadas as recomendações sanitárias.

Por volta de novembro, padre Paulo reabriu a igreja somente para a realização de batizados, ação que durou pouco mais de um mês. Ao perceber o avanço da Covid-19 na capital, em janeiro de 2021, a Paróquia Nossa Senhora do Carmo tem adiado compromissos marcados há mais de um ano, incluindo casamentos já remarcados.

Ele mesmo só faz missas on-line, algo inédito até então, com alcance maior do que os 600 fiéis que viam as celebrações ao vivo.

“Ainda bem que temos internet, mas me entristece. Aos sábados e domingos sinto uma saudade do povo… Esse contato não é substituível, é apenas amenizado”, diz ele, que defende um “lockdown radical” desde o começo da pandemia para salvar vidas.

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Padre Paulo Sérgio Bezerra, 67 anos
Pai Alexandre Meireles, 50 anos
Gira em casa de umbanda
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Vista aérea da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, zona leste de São Paulo

Arquivo Pessoal
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Padre Paulo Sérgio Bezerra, 67 anos

Arquivo Pessoal
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Pai Alexandre Meireles, 50 anos

Christiane Nascimento
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Gira em casa de umbanda

Vidas acima de prejuízos financeiros

A concordância sobre a paralisação de atividades religiosas em tempos de coronavírus transcende crenças. Alexandre Meireles, 50 anos, pai no santo (e não “de santo”, ele frisa, pois não controla entidades), trancou os portões do Círculo de Irradiações Espirituais São Lázaro, casa de umbanda no Jardim Prudência, na zona sul da capital paulista, dias depois de saber dos primeiros casos de Covid-19, em março de 2020.

Antes da pandemia, a casa abrigava até 800 pessoas em encontros presenciais, as chamadas “giras”. Para ele, é inviável retornar às atividades agora, em um momento em que pessoas morrem em São Paulo à espera de vagas em UTI.

Pai Alexandre diz que os prejuízos financeiros chegam a R$ 184 mil, entre pagamento de prestações e anuidade de contrato do local. Entretanto, nada supera as perdas emocionais e humanas, ele diz, em alusão a umbandistas que defendem a reabertura de templos.

Há mais de um ano, os atendimentos e as giras são feitos virtualmente, de forma gratuita. “O que vai curar a Covid é a ciência. A fé acolhe, sustenta, suporta; a oração nos dá força, mas não pode se sobrepor [à ciência]. A fé é um processo individual que deve ser respeitado”, avalia.

À espera da Fase Verde

A Igreja Metodista da Mooca, na zona leste de São Paulo, tem idosos com mais de 80 anos como principais fiéis. O reverendo Jair Alves, 63 anos, tem mantido o templo fechado durante a maior parte da pandemia.

As exceções se deram entre agosto e novembro, meses em que foi realizado um culto a cada domingo, das 10h às 11h. A determinação pela abertura ou não vem de um grupo de lideranças dentro da igreja, que se reúnem assim que a cúpula máxima da Metodista direciona um documento às unidades espalhadas pelo Brasil.

No último encontro, em meados de janeiro, oito votos foram favoráveis ao fechamento da igreja, e dois contrários. Para Alves, a Metodista da Mooca só receberá seguidores a partir do momento em que a cidade de São Paulo entrar novamente na Fase Verde do Plano de São Paulo, de maior flexibilização.

“O decreto estadual [de abertura] foi um equívoco muito grande. Essa iniciativa vai na contramão do que é a verdadeira religião. Isso não nasce de religiosos verdadeiros, nasce de donos de negócios, organizações com finalidades lucrativas, principalmente os evangélicos, infelizmente”, finaliza o pastor.

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