Padre Robson em 2021: um ano de reclusão, silêncio e ameaça de prisão
Depois de idas e vindas, investigação contra padre Robson sobre desvio milionário de verbas de entidade religiosa foi arquivada pelo STJ
atualizado
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Goiânia – Antes acostumado a falar para multidões nas missas, em Goiás, e a chegar até a casa de milhares de brasileiros pela TV, o padre Robson de Oliveira, alvo de investigações que apuram o uso indevido de dinheiro doado por fiéis, viveu um 2021 praticamente em silêncio e recluso.
Foi um ano no qual o religioso, que já se viu como uma das estrelas mais reluzentes da Igreja Católica no país e líder de uma das maiores festividades cristãs nacionais (a Festa do Divino Pai Eterno, em Trindade), viveu entre disputas, idas e vindas judiciais e até mesmo o medo da cadeia. A Polícia Federal chegou a pedir a prisão do pároco. Mas o período bastante tumultuado acabou com certo tom de alívio.
Depois de muito tempo de silêncio, as redes sociais do religioso voltaram a ficar ativas na última quinzena de 2021, pouco depois de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidir arquivar investigação que existia contra ele sobre desvios milionários de verbas da Associação dos Filhos do Pai Eterno (Afipe).
A decisão do tribunal se deu em 14/12. A partir de 19/12, suas redes voltaram a se movimentar após 16 meses.
Afastamento
Afastado pela Igreja Católica das atividades religiosas desde agosto de 2020, quando foi deflagrada a Operação Vendilhões e vieram à tona as suspeitas de desvio de quantias milionárias, padre Robson foi obrigado a não se manifestar e manter-se em silêncio até a questão processual ser resolvida.
Entre arquivamentos, recursos e abertura de novo inquérito, a exemplo do que ocorreu recentemente por meio da Polícia Federal, que chegou a entrar com pedido de prisão preventiva contra ele, o padre cumpriu as regras estipuladas por um decreto canônico editado pela congregação dos Redentoristas de Goiás.
Arquivamento
Robson de Oliveira Pereira, de 47 anos, encerra o ano com a notícia de arquivamento das investigações feitas pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO). A decisão, primeiro, partiu do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) e, em seguida, acabou mantida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A última decisão foi dada pela Sexta Turma do STJ no dia 14/12.
A princípio, entendeu-se que os promotores que investigam o caso não juntaram provas suficientes dos crimes atribuídos ao padre. Em uma manifestação crítica ao trancamento da investigação enviada ao STJ, a subprocuradora-geral da República, Solange Mendes Souza, alegou que havia na denúncia feita pelo MPGO provas e elementos capazes de justificar a ação penal.
A defesa do padre repetiu sempre o argumento de que a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), criada e fundada por ele, é uma entidade privada e que em nenhum momento os integrantes questionaram qualquer ato praticado pela gestão dele. Diante disso, na visão dos advogados, não existem crimes a serem investigados.
A Afipe
A Associação foi idealizada para gerir as doações em dinheiro enviadas por fiéis e, com o valor arrecadado – em torno de R$ 20 milhões por mês, segundo o MPGO -, erguer o novo Santuário Basílica de Trindade, conhecida como a capital da fé em Goiás.
Trata-se de uma mega construção iniciada em 2012, que tinha previsão inicial de término em 2022 e era orçada em R$ 100 milhões. Até o início deste ano, apenas 17% do projeto tinham sido concluídos e o valor total da obra acabou revisado para R$ 1,4 bilhão.
O padre foi afastado da presidência da Afipe, assim que a Operação Vendilhões foi deflagrada e surgiram as suspeitas de que ele teria usado o dinheiro para comprar fazendas e até casa na praia. Os demais padres redentoristas de Goiás se organizaram para manter as atividades tanto da Basílica de Trindade, que recebe milhares de fiéis de várias partes do país, quanto da associação.
Logo após o escândalo, ainda em 2020, as doações de fiéis registraram queda de 80%. Em abril de 2021, a Afipe já tinha conseguido reduzir um pouco o impacto para 50%. A nova direção da Associação tentou dar maior transparência ao uso do dinheiro doado, acelerou o andamento da obra e instaurou sindicância para apurar as suspeitas de desvio.
Isolado na igreja
Ao ser afastado, o padre viu tudo se desenrolar à distância. Nos primeiros meses, isolou-se na casa dos redentoristas em Goiânia, localizada no Setor Leste Universitário. Um dos únicos registros dele feito nesse período é de fevereiro deste ano, quando participou de uma assembleia on-line dos padres da congregação. Ele ainda estava morando no local.
O isolamento de padre Robson, no entanto, não ocorreu somente do ponto de vista físico. As acusações feitas a ele acabaram gerando um mal-estar entre os demais padres e ele passou a viver um isolamento também dentro da igreja e da comunidade redentorista. A avaliação de muitos é que todo o escândalo prejudicou a igreja e as atividades da Basílica de Trindade.
Nos últimos meses, a notícia que se tinha do padre é que ele voltou a frequentar a casa dos pais e das irmãs. Os imóveis que eles utilizavam para morar e que ficam em um condomínio de luxo teriam sido devolvidos para a Afipe. Com isso, o religioso, apesar de não aparecer publicamente, mantinha certa rotina de idas e vindas a Trindade, geralmente para ver os familiares.
A decisão recente do STJ de manter o arquivamento da investigação ainda cabe recurso. Os advogados de defesa, no entanto, pretendem solicitar o trânsito em julgado da ação.
No momento pós-arquivamento, o que se sabe é do retorno das atividades das redes sociais de padre Robson. Apesar de todo o estardalhaço em torno do escândalo, a ampla maioria das pessoas aplaudiu a volta do religioso à web.
Apesar disso, ele ainda não passou a aparecer publicamente. E nem se sabe também quando voltará (e se voltará) a celebrar missas.