Anielle reforça criação do Disque Racismo no Brasil após caso Vini Jr.
Ministra Anielle Franco defendeu que é questão de honra punir os responsáveis pelos ataques racistas ao jogador Vini Jr.
atualizado
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Após o mais recente episódio de racismo contra o jogador brasileiro Vinícius Júnior, na Espanha, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, reforçou a proposta da pasta de criar um disque-denúncia voltado para crimes de injúria racial no Brasil, nesta terça-feira (23/5).
A ministra participou, nesta manhã, da primeira reunião do Plano de Ação Conjunta para Eliminar a Discriminação Racial e Étnica (Japer, sigla em inglês), uma cooperação entre o governo do Brasil e dos Estados Unidos. Após o encontro, ela falou sobre o caso do atacante brasileiro, durante coletiva de imprensa.
“Nós tivemos algumas vitórias por conta dessa pressão [do governo brasileiro a autoridades espanholas]. Eles lançaram o 021, uma espécie de disque-racismo, e queremos ter um disque-racismo aqui até o final do ano, o que seria o nosso 138. Além das prisões que foram feitas”, declarou a ministra.
Nesta manhã, sete pessoas foram presas pelos ataques racistas contra o jogador do Real Madrid. Três pelos gritos e gestos de “macaco” feitos para o atleta durante a partida contra o Valencia, no último domingo (21/5), e outras quatro por um boneco enforcado com a camisa de Vini Jr, pendurado em uma ponte em janeiro deste ano.
Anielle defendeu ainda que se trata de uma “questão de honra” identificar e punir os criminosos.
“O MP da Espanha já está com essa demanda, eles foram notificados […] A gente vai estar acompanhando e dando segmento, porque agora é questão de honra que a gente siga para além de combater criando maneiras para que esses racistas sejam identificados e punidos”, emendou a ministra.
Mobilização do governo
Na segunda-feira (22/5), Anielle Franco anunciou ter acionado o Ministério Público da Espanha contra a Primeira Divisão da Liga de Futebol Profissional, conhecida como La Liga. O Itamaraty também pediu esclarecimentos da embaixadora da Espanha no Brasil, Mar Fernández-Palacios.
Em nota conjunta, pelo menos cinco ministérios pedem providências por parte do governo espanhol, de entidades esportivas daquele país e da própria Fifa.
“Tendo em conta a gravidade dos fatos e a ocorrência de mais um inadmissível episódio, em jogo realizado ontem, naquele país, o governo brasileiro lamenta profundamente que, até o momento, não tenham sido tomadas providências efetivas para prevenir e evitar a repetição desses atos de racismo. Insta as autoridades governamentais e esportivas da Espanha a tomarem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à Fifa, à Federação Espanhola e à Liga a aplicar as medidas cabíveis”, diz a nota.
Anielle prometeu uma cobrança firme das autoridades. “Notificar e oficializar também, para que tenha resposta. Porque o histórico da La Liga não é bom, mas bem racista. Ontem mesmo, o próprio presidente [de La Liga] quis colocar o Vini como sendo culpado por ter vivido o racismo. Estamos aqui em conjunto com o governo, com muita seriedade e afinco”, disse a ministra.
Diversos ministros se pronunciaram sobre o caso. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, descartou nesta terça-feira (23/5) a possibilidade de aplicar leis brasileiras contra os ataques racistas ao jogador Vinicius Júnior, conhecido como Vini Jr., do Real Madrid. A decisão foi tomada após a polícia espanhola prender sete pessoas pelo caso.
“Assim sendo, não será necessário debate sobre extraterritorialidade. Parabéns aos sistemas de Justiça e de Segurança da Espanha. Desejamos êxito na tarefa de garantir a autoridade da lei contra os racistas”, publicou Flávio Dino em seu perfil nas redes sociais.
Na segunda, o ministro afirmou que estudava a possibilidade de usar o Código Penal para aplicar a lei brasileira contra os suspeitos.