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Análise: na ONU, Bolsonaro divide o mundo, cria inimigos e apela a Deus

Na tribuna mais simbólica do mundo, o presidente brasileiro demonstrou ganas pelas terras indígenas, em especial pelos minerais

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Alan Santos/PR
Presidente da República, Jair Bolsonaro, discursa durante a abertura do Debate Geral da 74ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU)
1 de 1 Presidente da República, Jair Bolsonaro, discursa durante a abertura do Debate Geral da 74ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) - Foto: Alan Santos/PR

No primeiro discurso feito na Assembleia Geral Da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) apresentou-se ao mundo como os brasileiros o conhecem desde o início do ano. Recorreu a inimigos do tempo da Guerra Fria, inventou que o Brasil esteve “à beira do socialismo”, reforçou o papel da França como inimiga e, no fim, apelou para Deus.

Fora do tom diplomático dos antecessores, Bolsonaro também investiu contra a própria ONU, por exemplo, em relação ao convênio do Mais Médicos com Cuba. Mais uma vez, apontou a imprensa como causa de sua má conduta – como no caso das queimadas na Amazônia.

Na tribuna mais simbólica do mundo, o presidente brasileiro demonstrou ganas pelas terras indígenas, em especial pelos minerais. Não disse quem se beneficiaria das riquezas do subsolo. O momento de rara relevância também foi usado por Bolsonaro para tentar ofuscar a imagem de um índio, o cacique Raoni, uma voz em defesa da preservação da mata.

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Presidente Jair Bolsonaro durante discurso de abertura da 75ª Assembleia Geral da ONU
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Presidente Jair Bolsonaro durante discurso de abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU

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Presidente Jair Bolsonaro durante discurso de abertura da 75ª Assembleia Geral da ONU

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A retórica de Bolsonaro contra os ambientalistas condiz com sua visão e sua prática em relação à floresta. Nesse ponto, deve-se esperar a reação dos outros chefes de Estado. Ao se mostrar disposto a forçar a barra para explorar a Amazônia, o capitão põe em risco conexões importantes no cenário externo.

Deve-se aguardar, por exemplo, mais reações contra o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. A assinatura da abertura comercial intercontinental foi um dos grandes feitos do governo Bolsonaro, que soube capitalizar o esforço feito pelos antecessores. Se as cláusulas ambientais impedirem o prosseguimento das negociações, os produtores brasileiros terão razões para se preocupar com o fechamento dessa importante janela para as exportações.

O presidente procurou agradar o mercado com algumas medidas de seu governo, como promessas na abertura da economia. Deu ênfase, também, à cooperação militar com os parceiros de sua preferência, como Estados Unidos e Israel.

Como explicação para tantos confrontos, deve-se observar a paranoia demonstrada pelo capitão em boa parte de seu discurso. Sem qualquer ponderação, o presidente apontou inimigos ideológicos na família, nas escolas, na cultura e nos meios de comunicação. Só faltou falar em comunistas debaixo da cama. Esse é o mundo de Bolsonaro.

Na verdade, faltou falar do Brasil real, longe da briga ideológica fomentada pelo chefe do Executivo. Deixou de falar, por exemplo, da morte na última sexta-feira (20/09/2019) da menina Ágatha Félix . O assunto comoveu boa parte dos brasileiros nos últimos dias. Bolsonaro, no entanto, preferiu omitir do mundo o tiro nas costas da menina.

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