Análise: Lula mira no desgaste de Bolsonaro para velar o próprio
Lula nega autocrítica ao avaliar que Bolsonaro tem acumulado crises e desgastes frente ao governo
atualizado
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva partiu do Nordeste para dar início ao seu périplo pelo Brasil. A escolha não foi casual. É na região que ele e seu partido, o PT, ostentam os melhores índices de popularidade.
Em Salvador, nessa quinta-feira (14/11/2019), o petista deu o tom de como pretende lidar com o desgaste que o partido – e ele mesmo – tem sofrido com o antipetismo.
“Vocês já viram alguém pedir para FHC fazer autocrítica?”, questionou, mencionando seu antecessor no cargo de presidente. “Quem quiser que o PT faça autocrítica, que faça a crítica você. Quem é oposição que critique, ela existe para isso”, prosseguiu.
Com a fala, Lula se distância da narrativa que, após a sua legenda se ver envolvida em uma série de escândalos, passou a ser cobrada do partido: uma autocrítica pública.
A aposta de Lula é a de que, com os desgastes que Jair Bolsonaro (ainda no PSL) vem acumulando nos últimos meses, o antipetismo, talvez, venha a ser esquecido. Ou ao menos enfraquecido.
Ou senão vejamos: Bolsonaro inaugurou o governo com a expectativa de ter uma grande base de apoio parlamentar capaz de aprovar reformas difíceis. Em 10 meses, não perdeu apenas a chance de conquistar esse suporte, como dilacerou o seu próprio partido, o PSL, segunda maior bancada do Congresso.
Teve crises também envolvendo Amazônia, óleo derramado na costa, embates com presidentes de outros países, civis, militares, enfim, mostrou-se um bronco na Presidência.
Ciente desse movimento, e detentor de uma genialidade política como poucas, Lula aposta na autodeterioração do movimento que derrotou o PT nas urnas. Dessa forma, talvez, com tanta bagunça no governo, ele antevê que o antipetismo perca força.
À vista disso, o petista tenta, igualmente, blindar-se de assumir crimes ou erros. Lula nunca os assumiu e foram vários sob as suas barbas, é verdade. A avaliação é a de que em 10 meses, Bolsonaro acumulou desgaste que levou anos para o PT atingir. Lula aposta em um outro sentimento: o antibolsonarismo crescente.