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Análise: com Araújo, Bolsonaro faz uma de suas apostas mais arriscadas

Novo chanceler assume com discurso religioso e de alinhamento com Estados Unidos e Israel. Movimento quebra tradição do Itamaraty

atualizado

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Ernesto Araújo
1 de 1 Ernesto Araújo - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A chegada de Ernesto Araújo, com 51 anos, ao posto máximo da diplomacia brasileira representa uma das maiores apostas do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Pelas declarações e gestos feitos desde sua indicação, o novo chanceler tem a intenção de protagonizar uma das maiores guinadas da política externa do país.

No encontro que teve na manhã desta quarta-feira (2/1) com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, Araújo avançou na retórica da formulação de uma “ordem internacional diferente”. Nesse caminho, o Brasil se alinharia a “países grandes e pequenos que comunguem dos mesmos ideais brasileiros”.

Os rumos apontados pelo ministro das Relações Exteriores, pelo que foi dito antes da posse, representam o rompimento com a tradição da diplomacia praticada desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Desde a década de 1950, quando o Itamaraty formulou a Política Externa Independente (PEI), prevalece a orientação de pluralismo nas relações internacionais.

No início da ditadura, o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco tentou adotar a “teoria dos círculos concêntricos”, idealizada pelo general Golbery do Couto e Silva, que privilegiava a aproximação com o bloco ocidental, encabeçado pelos Estados Unidos.

Em pouco tempo, a estratégia de Castelo Branco fracassou diante da realidade. O pragmatismo das relações comerciais das empresas brasileiras com países de todos os blocos prevaleceu frente aos interesses políticos dos militares.

No caso de Araújo, pesam as desconfianças por se tratar de um diplomata inexperiente no circuito internacional. Também soam exóticas suas declarações de cunho religioso, como a de que a “divina providência” teria unido o filósofo Olavo de Carvalho ao presidente Jair Bolsonaro. Pelo observado até agora, o viés religioso tem tudo para se transformar em um dos pontos de tensão dentro do Itamaraty.

O homem escolhido por Bolsonaro para comandar a política externa também promete “combater” o que chama de “marxismo cultural”, expressão com a qual define as concepções aplicadas pelos governos do PSDB, do PT e pelo ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama.

Também surgem como novidades intrigantes a aproximação ostensiva com os primeiros-ministros de Israel, Benjamin Netanyahu, e da Hungria, Viktor Orban, expoentes da direita internacional. Essa é uma opção que afasta o Brasil de países com quem o setor privado nacional mantém sólidas e lucrativas transações comerciais, principalmente no mundo árabe.

Araújo terá tempo para provar se é uma aposta acertada de Bolsonaro. Para isso, terá de se mostrar capaz de quebrar a tradição de pluralidade do Itamaraty e, mais importante, demonstrar que essa guinada é boa para o país.

Sob outro ângulo, a ascensão de Araújo provoca certa curiosidade sobre como será a atuação dos diplomatas e dos oficiais de chancelaria com as novas orientações. Na época da ditadura, quando foram postos à prova de servir a um governo autoritário, muitos reagiram contra abusos e foram até punidos. Outros se adaptaram.

Agora, trata-se de uma democracia. Mas o choque cultural, com tom religioso, parece mais violento do que no golpe de 1964.

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